Likastía 0.5- Leviatã by Rubi Elhalyn - HTML preview

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Rubi A. Elhalyn

DEDICAtória

Para Aline ‘Fell’ que ama as fofocas sobre a vida dos meus bebês felinos tanto quanto amo escrever.

ÍNDICE

Capítulo 01 ..................................................................................................................... 4

Capítulo 02 ................................................................................................................... 10

Capítulo 03 ................................................................................................................... 20

Capítulo 04 ................................................................................................................... 31

Capítulo 05 ................................................................................................................... 37

Capítulo 06 ................................................................................................................... 45

Bônus da Autora .......................................................................................................... 52

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Capítulo 01

Eu estou doente.

Não doente com algo simples de tratar e curar. Estou morrendo devagar e sem chance de cura. Nasci com um problema que faz minhas céculas não se regenerarem normalmente, se reciclarem como é o normal. Eu tive uma infância feliz, apesar disso. Os magos de cura sempre cuidaram de mim. Tomo regularmente uma poção, duas vezes por ano, que me faz dormir por 15 dias seguidos em um cristal de suspensão mágica, dando alguma recuperação ao meu corpo. Então posso viver normalmente até a próxima sessão.

Não parece tão ruim, não é?

Realmente não é ruim. No entanto, essas poções só tem efeito por algum tempo. A previsão era que meu corpo não suportaria essa doença e eu morreria entre os 15 e 20

anos de idade. Hoje eu tenho 30 anos. Incrível como a vida sempre encontra um caminho, não é?

Mais do que você imagina. Veja bem... Eu cresci com pais amorosos, amigos incríveis, me apaixonei por um garoto que só me via como amiga, sofri, chorei, amei de novo, namorei e terminei, chorei por isso, estudei, desenvolvi um negócio próprio, conheci um cara legal, voltei a me apaixonar e nos casamos a 13 anos, dois meses e 16 dias. Não que eu esteja contando. Como ele é? Ah ele é adorável. Meio emburrado às vezes, bagunceiro a ponto de me enlouquecer, mas trabalhador e, mesmo com tantos anos de casamento, a chama de nosso amor ainda brilha com força. Meus pais morreram a alguns anos.

Velhinhos, por sinal. Minha mãe não conseguia ter filhos. Quando conseguiu e eu nasci, ela já tinha passado da idade natural para isso. A suspeita é que isso contribuiu para minha doença.

Meus pais se amavam, a seu modo. Era fechados, mais tradicionais, mas se amavam e me amavam também. Eu sempre cuidei para não engravidar por que isso agravaria minha saúde e provavelmente me mataria. Os magos sempre disseram que eu nem mesmo conseguiria levar mais do que alguns dias, duas semanas no máximo, de gestação por causa da doença. Eu queria ser mãe, mas sabia que não podia e isso sempre me entristeceu.

Então, apesar de meus cuidados rigorosos, um dia fui tomar a poção e entrar no cristal.

Depois dos dias dentro do cristal, eu acordei e fui tirada dele, dando de cara com a Grã-sacerdotisa de Kallisti sentada à minha frente. Ela é uma mulher gentil, mas muito ocupada e nunca a vi nos meus tratamentos, afinal eu era apenas mais uma dos muitos felinos em diversos tratamentos em um templo menor. Ela me fez uma série de perguntas, sua assistente anotando tudo em uma tela mágica. Por fim, ela me perguntou se eu sabia. Eu não entendi do que ela falava, até que ela disse as 3 palavras que fizeram minha vida mudar completamente.

- Você está grávida.

Eu chorei. Muito. Mas não de tristeza. De alegria. Eu sabia que devia tirar porque essa criança morreria em pouco tempo dentro de mim, ou eu morreria antes de seu nascimento,

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ou mesmo eu morreria no parto e ela não teria vários órgãos formados, inclusive o cérebro.

Mas eu não queria abortar. Eu nem sei como engravidei, já que sempre fui rigorosa com os cuidados. Mas eu queria tentar, queria sentir o poder da vida crescendo dentro de mim.

Então, contra todos os conselhos, contra a dor nos olhos de meu marido que não queria me perder, eu decidi ter você, meu filho. E é por isso que estou escrevendo este diário.

~o o~

- Garoto, você vai enlouquecer de tanto ler. – Grant disse e soltou a maleta pesada de ferramentas no chão.

- Ahn. – O menino magro e muito alto para sua idade de apenas 6 anos, tinha um livro na mão, sentado no chão com duas pilhas, uma de cada lado, contendo inúmeros livros grossos.

- Você não ouviu nada. – Grant afirmou, andou até o menino e estalou os dedos na frente dos olhos do rapaz.

- Pai? Oi. Não vi o senhor chegar. – O garoto disse.

- Não brinca? Jura? – Grant sorriu. – Vem, vamos comer algo no albergue.

- Eu fiz a comida. – O garoto disse e Grant parou no caminho.

- Bem, vou tomar banho e então podemos comer, certo? – Grant desistiu de sair como queria tanto só para valorizar o trabalho do menino.

- Certo. – O garoto levantou e arrumou a mesa.

Grant sempre admirava o menino. Ele era seu maior tesouro, seu orgulho, sua riqueza, a melhor coisa que fizera em sua vida simples e ele tinha certeza que seu filho seria alguém grande, importante na vida. Por isso dera ao menino o apelido pelo qual ele era conhecido por todos. – Obrigado, Edel1.

- Pai.

- Sim, filho?

- Edel significa nobre. Eu li em um livru.

- Sim.

- Mas a gente não é nobre.

- Em títulos, não. Mas somos nobres de coração. – Grant sorriu e foi para o quarto, pensando: E você, esperto, inteligente e sendo um garoto tão bom tenho certeza que vai ser grande em qualquer coisa que decida fazer. Talvez até um nobre... Porque não?

Ele evitava dizer isso para não fazer o menino se sentir pressionado e também não era seu foco. Nobre de título ou apenas mais um construtor na família, ele só queria que seu filho fosse feliz e um bom homem.

~o o~

1 Edel: em alemão, significa “nobre”.

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Depois de comer e de pedir ao pai por um irmãozinho ou irmãzinha...de novo...Edel foi para seu quarto ler enquanto Grant descansava na sala, decifrando labirintos desenhandos em um livro só desse quebra-cabeças, seu hobby preferido e que Edel começava a se interessar também. Quando o pai passou pelo corredor para seu quarto, Edel pegou um livro de histórias curtas de mitos likastianos, alisou o pijama e foi para o quarto do pai.

Grant já estava embaixo da coberta, esperando. A mais de um ano, Edel criara naturalmente essa tradição e Grant sentia um misto de orgulho e gratidão pela forma de pensar que seu garoto tinha.

- O que vamos ler hoje? – Grant perguntou.

- No casu, eu vou ler, papai. O senhor vai ouvir e mimir depois. – Edel sentou do lado da cama e olhou para o pai sem abrir o livro. – Pai.

- Sim, filhão?

- O senhor não devia casar de novu? É que... O senhor fica sozinhu e...

- Edel, você não deve se preocupar comigo. Você é uma criança. Deve aproveitar a vida sem preocupações.

- Mas eu aproveitu, papai. Mas o senhor...Eu li que fica sozinhu dói aqui. – Edel apontou para o lado errado, querendo apontar para o coração. – E não queru que o senhor sinta dor.

- Filho, eu não estou sozinho. Eu tenho você. E você é o suficiente para o meu coração não doer. Agora esqueça isso e vamos à minha história. – Ele puxou o filho para deitar ao lado dele.

Grant ouviu a história e, no meio, Edel dormiu como sempre acontecia. Ele se levantou com cuidado, pegou o filho que dormia chupando o dedão direito, levou o garoto para o quarto e o arrumou sob as cobertas. Depois de um beijo na testa do menino, ele voltou para sua cama e dormiu. No dia seguinte, bem cedo, Grant saiu para trabalhar na construção de uma nova ala do palácio Tiger. Edel acordou quando a vizinha que passava em sua casa de tempos em tempos durante o dia para checá-lo, chegou. Ela levou o desjejum do garoto e ele saiu do quarto perfeitamente penteado, vestido e arrumado. A felina não se surpreendia mais. O garoto se cuidava melhor do que seu marido que precisava dela até para encontrar os sapatos de manhã. Depois que ela saiu, Edel decidiu arrumar o banheiro. Ele pensou em trocar o espelho por um mais bonito que se lembrou de ter visto no porão, o único lugar que ele nunca ia sem seu pai por ser “perigoso e sujo demais para você vir sozinho”, de acordo com Grant.

Porém, sabendo onde estava o espelho antigo que ele viu em uma caixa no alto de uma estante velha, ele achou que não seria nada demais. Iria rapidinho, pegaria o espelho e levaria para cima. Assim, ele desceu as escadas velhas que Grant vivia querendo arrumar tempo para trocar.

Edel empilhou duas caixas e vários livros em cima de uma cadeira com uma perna bambeando. Com dificuldade ele subiu e cadeira balançou, oscilou, mas ele se manteve firme. Ele viu o espelho redondo com uma moldura de madeira escura saindo da caixa.

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Esticando o bracinho, ele pegou o espelho e puxou com força para tirá-lo da caixa, parecendo estar preso em algo. Com o segundo puxão mais forte, Edel conseguiu tirar o espelho da caixa e quase caiu com a oscilação forte da cadeira abaixo dele. Quase.

Respirando aliviado, ele se equilibrou e desceu, mas a estante onde estava a caixa do espelho oscilou e inclinou para frente, caindo sobre ele.

- AAAAAAAH! – Edel gritou e se encolheu, abraçando o espelho.

A estante passou raspando em seus braços e na parte superior da cabeça, deixando arranhões e hematomas nos braços dele. Por sorte, a estante caiu com ele ficando bem no meio da abertura entre as prateleiras.

- Kallixti me ajude.... Papai vai ficá furiosu. – Edel murmurou, chateado. Então, na caixa onde estivera o espelho, agora destruída e seu conteúdo espalhado, haviam dois livros com capas lindas, bem decoradas, roxas...a cor favorita de sua mãe. Os dois estavam presos por uma fitinha dourada, dentro de uma bolsa transparente de proteção.

Incapaz de evitar a curiosidade, ele pegou a bolsa e subiu as escadas. Deixando o espelho em um canto atrás da porta para arrumar depois, ele caminhou para a cama, sentou e abriu a bolsa, tirando o livro com uma numeração sinalizando ser o primeiro.

~o o~

...E é por isso que estou escrevendo este diário.

Para que você possa me conhecer, mesmo eu não estando mais neste mundo, meu filho.

Saiba que te amo e, não importa onde eu esteja, sempre irei te amar.

Eu sou Lavínia, sua mãe, a felina mais sortuda por ter trazido você ao mundo.

~o o~

Edel tremeu e tentou em vão não chorar pelas palavras no diário, escritas pela felina que ele nunca pôde conhecer, que morreu para ele poder nascer. Esfregando o rosto para secar as lágrimas, ele sentiu elas gosmentas e olhou para a mão. Com um susto, Edel viu que sua mão estava vermelha com seu próprio sangue. Ele se levantou rápido e os diários caíram no chão, sem querer, ele os chutou para baixo da cama, meio zonzo. Edel gritou por ajuda, sabendo que a vizinha estava sempre atenta à ele na casa dela, mas sua voz não saiu, apesar dele jurar que tinha gritado a plenos pulmões.

Edel deu um passo, dois, no terceiro ele caiu de frente no chão, desmaiando enquanto o sangue em sua cabeça escorria por sua testa. Fazia pouco tempo que Edel tinha caído quando Grant voltou para casa com uma desculpa de que havia esquecido algo. Na verdade ele estava com saudades do filho e, como sempre fazia, inventava qualquer coisa só para ver seu menino esperto.

- Edel, rapazinho! – Grant chamou e estranhou o menino não responder imediatamente. Algo em sua intuição gritou que havia alguma coisa errada. Ele andou pela casa rapidamente, chamando, sem sucesso. No quarto Grant sentiu o sangue congelar nas

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veias ao ver seu filho, memórias traumáticas revividas dolorosamente. Em pânico, Grant pegou o filho no colo e correu até o templo de Kallisti no palácio Tiger, passando pelos guardas sem se identificar. Os guardas quase o prenderam, mas, ao ver o menino desacordado no colo, eles o deixaram passar e dois deles foram à frente, abrindo caminho.

A Grã-sacerdotisa de Kallisti estava saindo do jardim quando os viu e pegou o menino nos braços. Ela deu um olhar para Grant e o reconheceu como o pai devastado de 6 anos antes que ela via de vez em quando trabalhando na construção. Grant não a via desde a morte de sua esposa, não de perto pelo menos, mas sabia que ela se lembrava dele. A Grã-sacerdotisa nunca esquecia um rosto. Com um aceno, ela o mandou ele entrar. Grant foi guiado por outras sacerdotisas para a sala de aguardo e Edel foi levado para a sala de cura.

~o o~

Dizem que você não viverá, mas eu fiz uma promessa para Kallisti. Sei que a Mãe de Todos os Felinos vai me ouvir... Eu sinto isso.

Dizem que você não sobreviverá, seu pai acha que nenhum de nós dois sobreviverá.

Ele sofre também porque ele sempre quis ser pai. Embora ele nunca tenha me cobrado isso.

Dizem que você não viverá, mas sabe, filho...

A vida sempre encontra um caminho.

~o o~

Horas mais tarde, descabelado, destruído com os piores cenários passando por sua mente, Grant viu a Grã-sacerdotisa entrar na sala com aquela irritante expressão calma.

- Acalme-se, felino. Seu filho está bem. Porém vai precisar ficar em suspensão até de manhã. – Ela disse e lhe entregou a sopa que ele tinha rejeitado a uma hora. Grant, como qualquer likastiano que se preze, nunca desobedeceria a Grã-sacerdotisa de Kallisti. – Ele teve um trauma no crânio, mas é um garoto forte e logo estará novo em folha.

- Mas...tinha tanto sangue....

- Crianças se machucam o tempo todo, mas são muito mais fortes do que imaginamos.

Acredite, já tivemos casos muito piores aqui e se recuperam perfeitamente em pouco tempo. Seu garoto é forte, muito mais do que qualquer um de nós imaginou a seis anos. –

Ela olhou para ele e a lembrança atingiu aos dois. – Tem mais uma coisa.

- O que é, lady sacra? – Grant perguntou, rouco, morrendo de medo de perder seu filho.

- Seu filho não é só forte e saudável. Mais saudável do que nós dois juntos, se quer saber. – Ela tomou um gole de uma bebida amarga que era sua favorita. – O garoto tem sinais fortes de magia em desenvolvimento.

- Meu...meu Edel?

- Edel?

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- É o apelido que tem pro meu pequeno gênio de coração nobre. – Grant disse, com o peito inflado de orgulho e um sorriso no rosto, como sempre acontecia quando ele falava do filho para.... Bem, para absolutamente todo mundo.

- Entendo. – A Grã-sacerdotisa não pôde conter um sorriso. – Bem, seu garoto precisará ser treinado em um templo, obviamente.

- Nossa... Acho que nunca teve um mago na minha família nem na de Lavínia. Ele será um mago ou a magia é fraca, apenas deve ser treinada no básico?

- Ainda é cedo para dizer. Porém, dada a idade em que ela já sinaliza no corpo dele e a intensidade que já tem, é possível, diria que até provável, que ele seja um mago sim. Você precisa selar a entrada dele em um templo. Eu aconselho que ele comece em um ano, quando a magia já deve ter se manifestado fisicamente.

- Tão rápido?

- Sim. Não é incomum um início tão jovem. Ele pode treinar aqui, se preferir, assim você pode ficar por perto durante o dia. – Ela ofereceu. Não tão sem interesse já que ela queria ver o tipo de magia que iria evoluir no garoto.

- Parece perfeito. Posso garantir logo a vaga dele aqui?

- Sim, só preciso colocar o nome dele aqui. – Ela moveu a mão para o lado e uma tela transparente com nomes e símbolos formando um círculo concêntrico brilhou em tons dourados. - Como é mesmo o nome dele? Era algo parecido com o nome da mãe, mas não me lembro agora...

- Leviatã. – Grant disse.

- Pronto. Daqui a um ano, traga o pequeno Leviatã aqui para ser testado e treinado.

Agora vamos ver seu garoto forte e nobre de coração.

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Capítulo 02

Edel voltou para casa dois dias depois, encantado com o palácio e os filhos dos nobres com quem brincou enquanto esteve ali. Era tudo tão bonito, brilhante... Seu pai saiu para trabalhar depois que Edel insistiu para ele ir, prometendo ficar quieto no quarto e comer direito. Grant saiu preocupado, pensando em uma desculpa para faltar ao trabalho, mas sabia que precisava ir. Afinal, ele era o construtor chefe e precisava comandar o trabalho no palácio. Depois de tomar banho e se vestir com perfeição, Edel procurou pelo quarto os diários de sua mãe. Não demorou para que ele encontrasse os dois embaixo da cama e, com o coração aos pulos, abriu o primeiro e começou a ler.

~o o~

Meu precioso (a) filho (a), hoje faz dois dias que descobri sua existência. Eu me sinto....

Eufórica. Seu pai está... Tenso e confuso. Acho que nem ele sabe o que está sentindo agora.

Ele quer você tanto quanto eu, talvez até mais. Porém ele sabe os riscos de você não chegar a viver e... Bem, ele sabe que só por estar grávida eu já corro um risco altíssimo de morrer.

Acho que ele se sente culpado por eu ter engravidado...

Ah, o seu pai, provavelmente vcê sabe disso... O nome dele é Grant, meu gigante.

Estou tentando fazer ele gostar do meu hobby, mas ele é impaciente demais para isso. Amo labirintos. Dizem que há muitos templos de Kallisti, especialmente das sigilosas sacerdotisas dos Aneis e das Luas, que tem labirintos magníficos em homenagem à deusa. Confesso que sempre quis ver. Tenho livros cheios de labirintos desenhados e aprendi a desenhar. Estou criando livros de labirinto para seu pai quando ele se apaixonar por isso também... Já fiz 131 desses livros até agora.

Você vai se interessar por labirintos também? Será um construtor como seu pai? Ou uma ceramista como eu? Ou algo totalmente diferente? Céus! São tantas possibilidades!

Sei que você pode ter algumas limitações por causa da saúde, mas não tenha medo de tentar ser o que você quiser, bebê. Eu acredito em você e vou estar pedindo por você onde quer que eu esteja.

Sabe, eu gosto muito armas. Queria ser uma guerreira, talvez até uma Sentinela do Rei Tiger, lutar contra os inimigos do reino e aqueles canibais leoninos assustadores. Já imaginou? Sua mãe uma heroína de guerra? Infelizmente, nunca tive essa chance por causa da minha saúde e, principalmente, porque eu sou meio preguiçosa para ter tanto foco em lutas. Você será um guerreiro? Uma Sentinela se for menina?

Nos próximos dias vou te contar tudo sobre mim, até as coisas que penso, que sonho, e nunca contei pra ninguém. Você, meu bebê, vai saber tudo. Ah, e, claro, vou te contar como é carregar o bebê mais lindo e fofo aqui dentro.

Eu te amo, meu filhote...ou filhota.

Lavínia, a mãe mais sortuda do mundo <3

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~o o~

Um ano depois, Grant deixou seu filho no templo de Kallisti para seu teste. O garoto vinha demonstrando poderes mágicos cada vez mais fortes a meses. Um espirro de Edel derrubava objetos distantes, ou animais se aglomeravam perto dele aleatoriamente, ou chamas se apagavam sozinhas, ou coisas tremiam e se quebravam... A mais recente demonstração de poder acontecera quando Edel saía do banho, perfeitamente penteado e o menino estava envolto em uma luz azul anil muito brihantes e os espelhos do banheiro oscilavam como se fossem portais líquidos. Durou alguns segundos e Edel nem pareceu perceber, mas, assim que tudo voltou ao normal, Grant correu e pegou o filho no colo, o jogando para o alto, eufórico e orgulhoso.

Edel tinha entrado no templo, segurando a mão de uma sacerdotisa, a cerca de 20

minutos, mas Grant estava parado no mesmo lugar, olhando para a porta. Deixar seu filho no templo, mesmo que fosse buscá-lo mais tarde, foi difícil. A vida do menino estava mudando, como era esperado. Afinal, as crianças tinham que crescer, estudar, se preparar para a vida. Grant sabia disso. Mas ainda era tão difícil...

Obviamente, Edel passou na testagem de dons mágicos com um nível pouco acima da média para sua magia.

- Como foi, filho? – Grant perguntou, colocando um prato na frente do garoto.

- Obrigado. Foi legal. – Edel disse e colocou um pouco da sopa de carne amassada na boca.

- Fez algum amiguinho?

- Uhum. – Edel limpou a boca perfeitamente com um guardanapo. Grant sempre achou incrível a classe e elegância do filho, embora ele próprio comesse como um animal.

Grant se endireitou e tentou parecer menos caótico, seguindo o exemplo de etiqueta do menino. – Tinha um menino engraçado, não lembro o nome dele. Ele disse que queria ser meu amigo. E tinha uma menina legal também. Meio bobona, mas legal.

- Eles vão treinar com você?

- Sim, senhor. Somos da mesma turma. O nome dela é Talassa, mas a gente chama ela de Lassa.

~o o~

Seu pai gostou da minha ideia dos diários. Hoje ele me deu uma bolsa protetora para guardar eles. Ele me prometeu que vai te dar os diários quando você for maior e passar pela tradição nas Fontes Termais Sagradas. Então, você já deve se um lindo felino ou felina adulto agora. Espero que você já tenha um amor. Se apaixonar dói, mas é tão gostoso. A gente se sente mais vivo. Mas ame pessoas de coração bom como você! Isso é muito importante.

Meu primeiro amor, como disse antes, foi um rapaz legal, mas ele só me via como amiga. Nunca tive chance com ele. Seu pai não gosta dele até hoje, apesar de ainda sermos

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só amigos. Tão fofo o ciúme dele <3 Mas ele sabe que o amo. Isso é outra coisa que você precisa aprender. Tenha ciúme, mas não exagere. Ciúme na medida certa é fofo, em excesso é insuportável.

...

Ontem não me senti bem e desmaiei enquanto escrevia. Mas não se preocupe. Estou melhor e vou lutar para que você possa vir ao mundo. Seu pai está...preocupado. Meio birrento porque eu não quero tirar você e tentar salvar minha vida. Mas você é minha vida, bebê. Se você viver, como você viver, será o mesmo que se eu estivesse fisicamente viva.

Seu pai vai entender isso. Eu sei que vai. E espero que você também entenda.

~o o~

Edel não contou para o pai o que tinha achado. Seu plano era ler tudo, depois colocar de volta no lugar e esperar seus 15 anos, após o desafio da viagem às Fontes Termais, quando seu pai lhe daria os diários. Assim, dia após dia, ele lia um pouco no diário de sua mãe, conhecendo ela com tanta perfeição que a tomou como exemplo de uma felina perfeita, como uma felina devia ser. Conhecia seus medos, seus sonhos, seus arrependimentos, suas batalhas internas e sua conquistas. Ele estava agora no meio do primeiro diário, mas passou alguns dias sem poder ler graças ao cansaço pelos treinamentos e estudos.

- Você vai no aniversário dele ne? – Talassa perguntou baixinho.

- Claro! Eu não perderia isso de jeito nenhum. – O rapazinho sorridente olhou para os lados. – Você acha que ele vai gostar do meu presente?

- Claro. Quem não gostaria de algo assim?

- Do que? – Edel perguntou e seus amigos pularam de susto.

- Do que ele mandou a cozinheira fazer. – Talassa disse rapidamente.

Os três caminharam pela rua, brincando. – Vocês não precisam ir comigo até em casa.

– Edel disse. – Eu levo amanhã os livros que vocês pediram.

- Ah, mas eu quero ir no troninho. – O menino disse.

- Então porque não foi no templo... Ou no palácio? – Edel perguntou e Talassa deu um beliscão no braço do outro amigo.

- Ai! – O garoto gritou.

- O que foi? – Edel perguntou.

- Ele está com gases. – Talassa disse, olhando feio para o outro amigo. – Não é, Van?

- Aham. É. Muitas gases.

- Vocês estão esquisitos... – Edel disse, abrindo a porta de sua casa.

- SURPRESAAAAAAAAAAAAA! – Seu pai e alguns amigos do trabalho dele gritaram e o menino quase caiu para trás.

- Mas...mas..mas... – Foi a reação do menino.

- Feliz aniversário, meu garoto! – Grant carregava um bolo de carne crua, recheado com queijo de aves, molho de sangue de crocodilo-das-árvores e decoração colorida.

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Os amigos de Edel se aproximaram dele, o abraçando. O silêncio desse momento atraiu a atenção de Edel. Seu pai e os amigos dele estavam boquiabertos, chocados, paralisados. De repente, como se fossem um só, todos aqueles felinos fortes, adultos, acostumados a dias de trabalho pesado, caíram de joelhos e o bolo de Edel foi colocado na mesinha de centro ao lado de Grant.

- Alteza. – Grant disse.

- Ahn... É... – Van sorriu, meio sem graça por ter atrapalhado o foco no aniversariante.

- Oi. Levantem. Por favor.

Os homens se levantaram, tensos.

- Relaxem. Hoje eu sou só o amigo desse gênio aqui. – Van empurrou Edel para frente.

– Aquilo é uma caixa de bolinhas?! Lassa! Vamos! – Van puxou a amiga e pularam na caixa repleta de bolinhas macias, um dos brinquedos preferidos das crianças em festas.

Grant puxou o filho pelo braço para um canto, sinalizando para os felinos adultos irem curtir a festa. – Eu falei com a Talassa pra trazer seu outro amiguinho que eu não conhecia.

- Ela trouxe. – Edel disse naturalmente.

- Mas ele é o Príncipe Herdeiro! – Grant ainda estava chocado.

- Sim, é. – Edel respondeu como se aquilo não fosse nada demais.

- Filho... Porque você não me disse que seu amiguinho é o Príncipe Estefan?

- Porque o senhor não perguntou. – Edel disse ainda tranquilo. – Posso brincar agora?

- Sim. Claro. – Grant liberou o filho e viu como as três únicas crianças da festa brincavam juntas, naturalmente. Ele sabia que devia ter guardas seguindo o menino o tempo todo, provavelmente escondidos ou disfarçados já que ele não viu nenhum pela janela.

Grant olhou para seu futuro rei, sendo zoado pela Talassa, gargalhando. Guardas não costumavam se disfarçar assim. O menino tinha dado essa ordem para não chamar a atenção, em respeito ao foco que ele queria manter em Edel? Pensar que seu filho tinha um amigo que se importava tanto com ele aqueceu seu coração.

Meses depois, Grant recebeu uma caixa decorada, entregue por um mensageiro do palácio. Ele e Edel tinham agora acesso ao palácio que apenas nobre e favoritos do rei e do príncipe tinham. Esse fora o presente de Van no aniversário de Edel e por isso seu filho frequentemente ia brincar com o amigo no palácio e até dormia lá em suas festas do pijama. Ao abrir a caixa, Grant viu roupas elegantes e um convite. O mensageiro ainda aguardava na porta, esperando uma resposta. Grant confirmou e foi até o quarto do filho.

Em seu quarto, depois de semanas sem ler, Edel estava focado no diário de sua mãe.

~o o~

Seu pai finalmente entendeu que você é o que este mundo precisa. Meu bebê adorável. Então eu pedi para meu Gigante (sim, esse é o apelido que dei ao seu pai) participasse do meu projeto. Ele vai elaborar um monte de perguntas para eu responder aqui. Assim, você vai saber mais coisas sobre mim.

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Como eu disse antes, amo coisas brilhantes. Foi por isso que pensei em te chamar de Luz se for menina ou Leviatã se for menino. Luz é...brilhante. Leviatã é um nome que significa brilhante, ensolarado, de acordo com uma anotações antigas que minha mãe tinha de nomes.

Espero que você goste desses nomes.

~o o~

- Leviatã... Acho que não é isso que significa... – Edel murmurou, pensando em verificar depois.

- Filho, Van.. Quer dizer... – Grant disse no corredor, perto da porta. Edel escondeu rapidamente o diário embaixo do colchão bem a tempo. Seu pai abriu a porta com uma caixa enorme sob o braço. - ...Sua Alteza enviou um convite para a festa no palácio.

- Essa caixa grandona é só para um convite? – Edel perguntou.

- AHAHAHA! Não. – Grant colocou a caixa sobre a cama ao lado do filho. – Abra.

Curioso, o menino abriu a caixa e seus olhos se fascinaram com as roupas. – UAAAU!

Nós podemos ir, pai?

- Claro. Já confirmei com o mensageiro. Que tal um banho com o papai pra gente ficar bonitão e ir para a festa beijar umas bonitonas?

- Eca, pai! Que nojo! – Edel riu e aceitou o colo do pai para o banho.

Depois do banho, arrumados e perfumados, pai e filho saíram. Grant estufou o peito e saiu andando meio bobo, arrancando risos do filho por todo o caminho até o palácio. No portão, o guardas liberaram sua passagem, um deles reconhecendo Edel.

- Oi, pequeno soldado. – O guarda fez uma continência para ele.

- Oi, tenente. – Edel cumprimentou com uma continência. – Esse é meu pai, Gigante.

Grant estremeceu e olhou para o filho que não parecia ter percebido o que falara.

- Grant. Construtor chefe. – O guarda que sabia tudo sobre quem entrava e saía do palácio, cumprimentou. – Parabéns pelo seu filho. O garoto é muito educado e respeitoso.

- Ele é perfeito, não é? Ele estuda muito, sempre me ajuda em casa. Acredita que ele começou a andar antes da maioria dos bebês? Ele abriu os olhinhos...

- Paaai.. – Edel chamou, sabendo que seu pai ia começar com o discurso interminável de sempre.

Grant se despediu educamente e entrou no palácio. Assim que passaram pela entrada do hall do baile, os olhos de ambos ficaram encantados com o brilho da decoração dourada e branca, as joias das ladies da nobreza, a música elegante...

- Finalmente. – Van que esperava ansioso pelo amigo o cumprimentou antes que eles dessem mais do que 3 passos.

- Alteza. – Grant se curvou e Edel fez o mesmo, seguindo o conselho de seu pai mais cedo.

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- Senhor Grant, este é meu tio. – Van apresentou um nobre simpático e mais quieto.

Os dois pareciam ter interesses semelhantes, já que Grant era um construtor e o tio de Van era um desenhista de prédios. – Se importa se eu levar Edel para dar uma volta?

- Não, alteza. Fique à vontade. – Grant disse, mantendo um olho em seu filho pelo salão enquanto conversava com o nobre.

Naquela noite, pai e filho aproveitaram tudo que a riqueza e o poder podia oferecer, fizeram amigos naquela sociedade e Edel conheceu o irmão de seu amigo, Corel, o príncipe que vivia estudando em outra parte do reino. Com o passar do tempo, eles se tornaram visitantes assíduos do palácio, muitas vezes sendo convidados até mesmo para jantares familiares.

Dias se passaram com Edel cada vez mais distante do pai. Começou sutilmente, com pequenas recusas a passeios que antes o garoto gostava. Mas Grant sabia que o filho tinha que crescer, que teria novos amigos, interesses...

Chega o dia em que todo garoto prefere passar tempo com os amigos do que com o pai. Grant dizia a si mesmo.

Então nas horas de dormir Edel dormia cedo, antes de Grant ir para o quarto. O que ele atribuiu ao cansaço do menino que tinha seus estudos mágicos, brincadeiras, tudo o deixando esgotado.

O que Grant não sabia era que Edel não estava dormindo. O garoto ficou especialista em usar técnicas mágicas para parecer dormir profundamente. Tudo que ele queria era ficar sozinho para ler os diários de sua mãe. O garoto ficou obcecado por terminar aquelas páginas, sua admiração e carinho pela mulher que nunca conheceu crescendo mais e mais.

Com o tempo, Edel passou a comparar todas as mulheres que conhecia com sua mãe.

Depois estendeu essa comparação a todas as pessoas. Ninguém parecia chegar aos pés de sua mãe, a mulher mais perfeita, a mulher que tinha até mesmo defeitos que a tornavam mais perfeita para o papel de uma felina ideal.

Assim, o Edel doce foi abrindo caminho para um Edel mais crítico, mais intolerante, instável, rígido. O que não seria um problema tão grande. Seus amigos cresciam e aprendiam a lidar uns com os outros, com suas mudanças e seu crescimento. Mas o coração atrai aquilo de que está cheio. E, conforme crescia, o de Edel se enchia de frustração e solidão por seus critérios excessivamente altos sobre outras pessoas.

~o o~

O rapaz de 15 anos saiu, sujo, com hematomas e arranhões pelo corpo, da floresta.

Agora ele era um felino adulto de acordo com a tradição. Talassa que havia saído primeiro, estava sentada no banco ao lado de Estefan e Grant. O sorriso vitorioso dela irritou o rapaz.

Apesar de amigos, com os anos, eles desenvolveram uma competição que muitas vezes fazia Estefan interferir para acalmar os ânimos. Já Estefan, que passara por esse ritual de maturidade no ano anterior, se incomodava com a personalidade de Edel, agora mais controlador e difícil de lidar, mas o amava como seu companheiro de infância, ainda se

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lembrando do garoto mais doce que ele conhecera. No fundo, Estefan ainda tinha esperanças de que Edel um dia voltasse a ser como antes.

- Parabéns, meu filho. – Grant deu um abraço no rapaz, com tapas fortes nas costas, como os homens do povo se cumprimentavam.

Edel retribuiu o abraço de forma mais contida, mas elegante. Estefan se aproximou e Edel fez uma reverência perfeita, como sempre.

- Alteza.

- Ed... – Estefan começou, mas se corrigiu com o olhar que o amigo lhe deu. – Digo..

Leviatã. Você é meu amigo. Quando estamos apenas entre nós aqui você sabe que não precisa ser tão formal.

- É mais sábio, Vossa Alteza. – Edel....errr...digo....Leviatã respondeu.

Grant ainda se sentia meio chateado pelo filho a alguns anos ter parado de atender pelo apelido que ele lhe dera, mas respeitava a vontade do rapaz que além de mago também era um intelectual admirado.

- Bem, agora que dois dos meus melhores amigos são adultos, vamos comemorar. Esta noite vocês vão se divertir muito. – Estefan disse e enviou uma mensagem pelo comunicador mágico para o irmão, seu melhor amigo, avisando que Talassa e Leviatã tinha passado pelo ritual com sucesso.

Corel não era muito fã de Levi por causa da personalidade meio controladora do rapaz, mas o respeitava como mago e intelectual e o aturava por seu irmão. Corel fora criado longe, perto da fronteira por uma família nobre, uma das mais ricas e poderosas do reino, por causa de seus estudos, e Leviatã fora um bom amigo para Estefan. Por isso, Corel era grato a ele e Talassa. Assim, Corel vinha ajudando Estefan a organizar um baile para comemorar o sucesso dos amigos dele no rito de passagem nas Fontes Termais, chegando apenas na noite anterior.

- Corel mandou os parabéns para vocês dois. – Estefan sorriu.

- Obrigada. – Talassa respondeu, realmente grata porque ela admirava Corel como pessoa e ambos se davam bem.

- Para nós dois ou para Talassa? – Leviatã perguntou, sarcástico.

- Filho...

- O que? Todo mundo sabe que ele tem uma “preferência” pela Talassa apenas por ela ser fêmea. – Leviatã disse. Uma fêmea metida a forte como se fosse um macho.

- Ou porque eu não sou intragável a maior parte do tempo. – Talassa respondeu com um sorriso debochado, acostumada ao veneno de Levi.

- Pessoal. – Estefan chamou e os dois se calaram, embora por motivos diferentes. –

Não vamos começar ne. Levi, Lassa, descanssem, se arrumem porque hoje vai ser uma noite daquelas!

Estefan fez questão de convidar a nobreza Tiger, os militares, até mesmo parentes que ele não via a um bom tempo. Ansioso, ele sinalizou para dois nobres, uma Sentinela e um mago, que se aproximaram dele no trono. Seu pai, doente a alguns meses, apenas

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cumprimentara os amigos de seu filho e se retirou para seus aposentos, tossindo e sendo amparado por seu servo pessoal. Com um de cada lado, Estefan chamou a atenção dos presentes e a música cessou. Com um aceno, seus amigos se aproximaram, meio confusos, mas com uma postura perfeitamente elegante. Talassa e Leviatã, lado a lado, pararam de frente para Estefan, de costas para os convidados que aguardavam ansiosos de pé para ver onde aquilo ia dar.

- Leviatã... – Estefan começou.

Ele falou meu nome primeiro. Viu, Talassa? Você é só uma fêmea tola que pensa que é importante. Nem se portar como uma lady você sabe. Leviatã pensou.

- ...E Talassa. – Estefan continuou. – Meus amigos, meus irmãos de alma. Cada um de vocês é maravilhoso em suas áreas. Talassa você se revelou uma exímia guerreira, uma grande lutadora, mas também uma alma gentil e nobre. Leviatã, meu amigo de coração poderoso e olhar aguçado, você é um mago formidável, cujos conselhos práticos, capaz de tomar decisões difíceis que ninguém mais teria coragem. Seu intelecto e seu pensamento estratégicos sempre foram admiráveis o que, combinados com sua capacidade de luta, o torna um dos membros mais valiosos da sociedade Tiger. – Estefan não viu, mas sabia que Grant estava emocionado. O carinho dele pelo filho sempre causou uma pontinha de inveja no príncipe que fora criado ao estilo militar, rígidio, distante e forte. – Por isso, hoje, quando vocês passaram da infância para a vida adulta aos olhos da sociedade e de Kallisti, eu lhes concedo a honra que vocês fizeram por merecer. Talassa, aproxime-se.

Talassa deu um passo à frete, de repente se sentindo sufocada pelo seu sempre presente corpete e roupas militares.

- Talassa, minha amiga que nunca aprendeu a trançar um cabelo direito... – Estefan brincou e Talassa revirou os olhos enquanto o público ria.

Estúpida, inútil e nada feminina. Devia ser crime uma fêmea se portar assim. Leviatã pensou, mas conteve-se perfeitamente, sem demonstrar nada em seu rosto.

Estefan continuou. – A Comandante das Sentinelas do Rei, - ele sinalinou para a Sentinela que deu um passo à frente – vem acompanhando seu progresso a anos e aceitou minha indicação com prazer. De hoje em diante, você é uma Sentinela aprendiz. – Talassa tremeu por dentro com a realização de seu sonho, mas as palavras seguintes de seu amigo por pouco não a fizeram desmaiar de emoção. – Se você aceitar, claro, a Comandante deseja treiná-la pessoalmente.

- Aceita ser minha aprendiz e possível sucessora, Sentinela? – A Comandante perguntou rígida e diretamente.

Talassa ergueu o queixo e se manteve mais ereta do que o seu habitual. – Será uma honra, Comandante.

A Comandante se aproximou de Talassa e prendeu um manto vermelho com o símbolo das Sentinelas em forma de um fecho laranja, a cor das aprendizes, um pequeno pingente em forma de presas preso no fecho. O símbolo da aprendiz da própria Comandante.

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- Que sua força e sua honra sejam a força e a honra das Sentinelas. – A Comandante disse ritualmente e Estefan usou seu treinamento militar para não chorar de felicidade pela amiga.

- Minha força e minha honra são a força e a honra das Sentilenas. – Talassa respondeu a fórmula ritualística.

Perfeito em seu comportamento, Leviatã começou a aplaudir e bater o pé direito no chão, comemorando a honra dada a moça. O público e o príncipe entraram na comemoração. Quando os aplausos e batidas de pé cessaram, Talassa deu um passo mais para o lado, deixando Leviatã em foco.

O melhor para o final. Leviatã pensou orgulhoso.

- Leviatã, o mago que, ainda como aprendiz, desenvolveu uma poção capaz de confundir a mente de nossos inimigos em batalha e solucionou o labirinto de túneis criados por aqueles bárbaros canibais, os malditos leoninos, na fronteira. Se não fosse por sua inteligência, nunca teríamos conseguido destruir tudo aquilo e evitar um ataque à nossa capital. – Estefan se calou enquanto a plateia aplaudia, rosnava e batia o pé no chão em homenagem à Leviatã que já era admirado como um herói desde os eventos no ano anterior. – Meu pai, nosso amado Rei Tiger, fez questão de lhe conceder um presente que é uma honraria merecida por seus feitos nobres.

Grant fungou e escondeu o rosto para ninguém ver seus olhos marejados de emoção.

Amor, minha linda, se você pudesse ver nosso milagre agora... Você tinha razão... Ele é o que este mundo precisava para ser melhor.

Estefan pegou um cilindro de papel, preso por uma fita vermelha e o selo do Rei, o extendendo para o amigo. – Leviatã, por seus feitos e seu valor na sociedade, eu, Príncipe Herdeiro Estefan Tiger de Smilon, em nome de nosso Rei, o nomeio Barão Leviatã Tiger.

Você aceita sua nobreza entre os nobres?

Leviatã permaneceu impassível, se curvou em uma reverência média como convinha a um nobre. – Será uma honra, Vossa Alteza.

- Então levante-se e pegue o que lhe é devido. – Estefan terminou as palavras formais, entregou o título de nobreza na mão do amigo e lhe ofereceu sua mão para que Levi desse um beijo no anel símbolo do príncipe em um sinal de lealdade. Quando Leviatã terminou o ritual, recebendo outra onda de aplausos eufóricos do público, já pronto para se retirar, Estefan silenciou a todos. – Este é o reconhecimento de meu pai. Agora é hora do meu.

Leviatã ficou genuinamente curioso.

Com um sinal do príncipe, o mago deu um passo á frente. – Este é o Mago-Chefe de Guerra Mena, que você conhece bem. A pedido dele e aprovado por todos os magos, meu pai, eu e a Grã-Sacerdotisa de Kallisti, queremos oferecer o posto de Segundo Aprendiz oficial dele e seu possível sucessor no futuro.

Segundo? Klaus nem é tão talentoso... Porque Mena não simplesmente tira esse chato do cargo de Primeiro Aprendiz? Leviatã pensou, mas seu rosto só exibia uma gratidão perfeita. – Eu aceito e prometo me dedicar ao máximo em meu trabalho.

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A emoção e a gratidão no rosto e nos gestos de Leviatã eram tão genuínos que nem você desconfiaria. Ninguém percebeu sua raiva por não ser o Primeiro Aprendiz e futuro sucessor do mago. Ok, ok, estou mentindo. Alguém percebeu. Apenas um felino notou, pois os iguais se reconhecem.

Depois de ser felicitado por sabe-se-lá quantos nobres, seu pai, seus amigos e até Corel, Leviatã bebia uma taça de leite-de-álcool, uma bebida forte que descia queimando a garganta, a preferida dele. Estefan se aproximou, rindo e falando alguma besteira que atraiu o riso de um rapaz jovem, cerca de 10 anos, talvez, mas extremamente alto e forte como um adulto. Apenas seu rosto infantil, de bigodes mais curtos, e sua voz mais fina denunciava sua idade. O Tiger era bem parecido com Estefan, facilmente se passaria por um irmão caçula. Mas o olhar dele, apesar do sorriso e da expressão divertida, denunciava um ar solitário, inteligente, poderoso, cruel, meio sádico. Leviatã sempre fora muito bom em decifrar as pessoas e tinha certeza de que o rapaz sabia esconder bem essas características perigosas.

- Meu amigo! Olha o Barão mais esperto aqui! – Estefan brincou e puxou o rapaz mais jovem para frente. – Deixa eu te apresentar meu priminho. Parece uma montanha de músculos e, não se iluda, esse cara luta como um demônio! Mas juro que ele ainda é um garotinho de 10 anos muito doce.

- Não preciso esclarecer que nosso grande príncipe está bêbado, não é? – O garoto disse de canto para Levi, sorrindo como um modelo de beleza, mas aquele olhar...

- AHAHAHAHAHA! – Estefan riu e começou a se afastar. – Sabia que vocês se dariam bem.

Quando o príncipe já estava longe, Leviatã disse: - Ele não falou seu nome.

- UAHAHAHAAHA! É mesmo. Enfim, acho que vamos nos dar muito bem, Leviatã. – O

rapaz estendeu a mão em um cumprimento, com um olhar sagaz e perigoso.

Levi apertou a mão dele, de repente sentindo que podia ter encontrado um aliado futuro para tirar Klaus do primeiro lugar na sucessão do mago, embora ainda não soubesse como.

– Muito prazer, Barão, eu sou o primo do Príncipe Estefan, Tigrésius Tiger.

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Capítulo 03

Corel e o pai nunca se deram bem. Ele era um guerreiro, como qualquer Tiger, especialmente um da família real, mas era gentil, empático demais, tendendo sempre ao perdão do que à vingança. Ele sempre soube que o trono Tiger não era para ele. Não com essa personalidade. Por isso, apesar de ser o filho mais velho, a muitos anos abriu mão da coroa em favor de seu irmão, Estefan, que parecia ter nascido com todos os traços de um bom rei Tiger. Forte, determinado, vingativo, justo, nobre, de vontade firme... Corel se especializou em estudo históricos, artes e áreas mais filosóficas sobre a guerra. Seu pai sempre foi duro e cruel com ele, tentando moldá-lo à sua imagem. Quando seu irmão se demonstrou mais propício ao trono foi um alívio para Corel e para seu pai.

A pressão sobre ele diminuiu, mas seu pai ainda não se conformava pelo filho ser, nas palavras do velho “um fraco degenerado”. Mesmo depois de Corel ter se casado com uma jovem que ele nem conhecia, apenas para agradar ao pai, nada parecia ser suficiente. Seu filho, agora adulto e casado desde os 14 anos, era um misto de Corel e de Estefan. Gentil, bondoso, de fácil convivência, bem humorado... Embora, a algum tempo o rapaz estivesse cada vez mais estranho e distante. Corel, apesar de seus 36 anos, já era avô de uma linda e adorável menininha de 5 anos. Já sua nora era... Elegante, educada, mas algo nela deixava Corel incomodado.

- Pensando na vida inútil que você tem? – O Rei disse, pegando Corel de surpresa.

- O senhor devia estar deitado, pai. – Corel disse, calmamente, o que sempre deixava seu pai ainda mais irritado.

- Se quer mandar em mim pelo menos se imponha!

- Não quero mandar no senhor.

- Fraco...COFCOF...COOOFCOFCOFCOF! – O Rei teve outro acesso de tosse e Corel estendeu a mão para ampará-lo.

- Vamos, pai. Esse ar frio não é bom para o senhor. – Corel guiou o pai que ainda tossia incontrolavelmente, fechando a porta da varanda.

- Onde está o molenga....COFCOF...do seu filho? – O Rei provocou, sabendo que Corel era protetor com seu filho, esperando uma reação furiosa.

- Meu filho está em casa. Minha neta está com febre.

- Espero que ela não morra. Mesmo sendo sua neta, ela puxou um pouco da valentia da mãe dela. Boa mulher aquela. – O Rei deitou na cama e limpou o sangue de sua boca, seus pulmões chiando. – Porque você não aprende com seu irmão ou aquele amigo dele?

Leviatã...Aquele sim sabe ser um intelectual e um Tiger dignoCOF COFCOF!

Doía, mas Corel já estava acostumado, então apenas pegou um pano frio para limpar os lábios de seu pai e tentar abaixar a febre. No entanto, irritado com sua doença e a incapacidade de seu filho mais velho em agir com raiva, como qualquer Tiger “digno”, deu um tapa na mão de Corel, jogando o pano longe.

- PORQUE VOCÊ NÃO REAGE!?

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- Pai, precisa se acalmar... Lembre do que os magos de cura falaram... – Corel não sentiu raiva, só pena do velho por não entender que nem todo mundo era como ele e não tinha obrigação de ser. Ele e seu filho se adoravam, tinham uma relação tão próxima... Até mesmo com Estefan, quase 20 anos mais novo, ele tinha uma relação mais de amigo do que irmão. Seu pai optou por não viver isso, sempre cobrando, sufocando seus filhos e seu neto.

Apenas com sua bisneta ele tinha uma relação relativamente mais próxima e isso era...triste. Porém, a pena de Corel transpareceu em seus olhos e isso foi a pior coisa que ele podia ter feito, mesmo sem querer.

- EU NÃO PRECISO DE SUA PIEDADE, SEU MOLENGA! MARICAS! – O Rei gritou entre as tosses, ficando eriçado, seus olhos tão esbugalhados que pareciam a ponto de explodir.

- Pai...

- EU TENHO VERGONHA DE TER UM FILHO COMO VOCÊ!

- Que pena, pai. Porque eu me orgulho de ter um pai como o senhor, apesar da nossa relação. – Corel disse.

- VOCÊ.... – O Rei não tossiu, mas sentiu o ar sumindo de seu peito, uma pontada dolorosa o fez colocar a mão no coração.

Corel se levantou para ir até a porta pedir ajuda, mas a outra mão do Rei segurou seu pulso com uma força que Corel não sentia a anos, desde as muitas agressões de seu pai para “torna-lo um macho”. – Pai, vou pedir ajuda. Calma.

- Você...é...um...fraco... – O Rei disse e caiu para trás, com olhos cada vez mais esbugalhados, em busca de ar e segurando firme o pulso de Corel que tentava de todo jeito se soltar.

Então ele parou de se mexer e o pulso de Corel foi solto. Corel verificou os sinais vitais apenas para ter certeza. O Rei Tiger estava morto.

~o o~

Nunca perca a chance de ser alguém.

As palavras de sua mãe no diário soaram na mente de Leviatã na noite do baile. Ele havia decorado cada palavra do diário, sendo capaz de recitá-las inúmeras vezes apenas pela memória. Seu pai lhe entregara na chegada do baile, depois que ele devolveu no lugar, mas Levi não se deu ao trabalho de fingir surpresa e a emoção que seu pai esperava. Sua mente estava em outro lugar. Tigrésius.

Boatos sobre o primo distante de Estefan sempre soaram exagerados aos seus ouvidos, mas, quanto mais observava o jovem, mais ele acreditava nos boatos do rapaz ser cruel, sádico e perigoso. O que poderia torná-lo um bom aliado, mas Levi não era tolo para confiar no rapaz. Assim, vinha investigando o jovem, seu passado, seus amigos, e sempre aceitando os convites dele para banquetes.

Tenha amigos perto, mas, se quer ser alguém poderoso, sempre tenha seus rivais mais perto ainda. Era outra frase de sua mãe que ele sempre lembrava quando estava com Tigrésius.

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- Filho. – Grant chamou, meio sem jeito ainda na mansão que seu filho havia comprado, perto do palácio. O lugar era enorme, bem decorado com um estilo elegante e escuro, com dois servos silenciosos cuidando de tudo, se mantendo distantes, educadamente não mantendo nenhuma conversa fiada com Grant. Sendo um felino simples, acostumado ao trabalho braçal, roupas velhas e confortáveis, reuniões com amigos do trabalho à vontade, sem preocupações com regras de etiqueta, Grant se sentia meio sozinho e fora de seu ambiente natural. As roupas chiques, gravatas e mantos decorados que Levi comprara para ele não facilitavam nada.

- Sim, pai? – Levi disse distraidamente, anotando as alterações na fórmula que ele trabalhava, cercado de frascos de poções e livros fluando abertos ao seu redor.

- Você tem um tempo?

- Preciso trabalhar.

- Sei. – Grant entendia. Sério. Mas parecia que seu filho nunca tinha tempo. Ele conversava com alguns nobres, até gostava de alguns como Corel e o filho dele, mas ele não se sentia totalmente à vontade com eles. Na verdade, ele frequentava esses círculos muito mais por seu filho, que vivia nesse meio a anos, do que pelos nobres e suas reuniões.

Levi levantou o olhar, sua mão automaticamente escrevendo sem ele olhar para o papel. – Se está se sentindo solitário, chame seus amigos para um carnerrasco. Já disse que pode ficar à vontade.

Sim, ele tinha dito. Mas, apesar de ter sido divertido no início, seus amigos também não se sentiam à vontade com aqueles móveis chiques e os servos silenciosos. Os caras tinham medo de derramar qualquer coisa e estragar os móveis ou xingar como o boçais que eram (e se orgulhavam) e de repente algum nobre aparecer de visita, ouvir e se incomodar.

- Acho que não. – Grant respondeu, meio sem graça, coçando o pescoço onde a gola de seda bordada o incomodava. Ele odiava aquelas coisas apertadas. – Acho que vou dormir para sair cedo amanhã.

- Não precisa sair cedo. – Levi disse, olhando para suas anotações.

- Como assim? – Grant perguntou, uma suspeita pairando no ar.

- Você não vai trabalhar amanhã.

- Como... Espera, você andou me vigiando?

- Não tenho tempo para isso, pai.

- Claro.

- Contratei alguém para isso. – Levi acrescentou tranquilamente, ainda focado em seu trabalho.

- Você...O QUE?

- Vá relaxar, pai. Eu já não mantenho uma vida cara para nós dois?

- O que você fez, Leviatã? – Grant perguntou irritado, atraindo o olhar de Levi. O rapaz não parecia bravo, mas seu olhar era naturalmente assustador, como se vivesse com uma ameaça velada. Grant entendia porque tanta gente temia Levi só por esse olhar.

- Cancelei sua contratação na obra.

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- E não me disse nada?

- Estou dizendo agora.

- Você nem me consultou?!

- Você também não me consultou, mesmo depois que eu deixei claro que você não é mais o construtor, não vai mais se matar de trabalhar para ninguém. – Levi disse com aquela calma sinistra que às vezes preocupava seu pai.

- Levi, você não é a porra do meu pai! Eu sou seu pai!

- E é por isso que não vou te deixar trabalhar. Você não precisa mais disso.

- Se engana, filho. Eu PRECISO disso. Eu não sou um nobre rico, elegante, que bebe coisas que nem sei pronunciar, não gosto de roupas chiques. Eu como qualquer porcaria salgada, adoro usar umas calças rasgadas e folgadas em casa, arroto depois de comer, coço a barriga enquanto jogo labirintos, falo besteira, rio alto e tenho amigos que, assim como eu, adoram sujar as mãos de terra no trabalho! Eu PRECISO desse mundinho de pobre trabalhador!

- É tão ruim seu filho querer te dar uma vida boa? Você pode até pagar rameiras de luxo para quando quiser.

Grant se calou, chocado com a forma que Levi pensava. - Você não entende, não é? Eu tinha uma vida boa. Dura, cansativa? Sim, mas eu gosto dela. Eu lutei por ela. Eu entendo que este – ele sinalizou ao redor – é o mundo que você se sente confortável e admiro sua luta por ele, filho. Mas eu não sou assim. Até com essa decoração elegante eu me sinto...fora da realidade.

- Vou mandar uma equipe de redecoração cuidar disso. Quer falar com eles quando?

- Por Kallisti, garoto. Mantenha sua casa do jeito que te agrada. Mas eu...bem, acho que é hora de voltar para a minha.

- Você vai embora? – Levi perguntou, realmente surpreso.

- Eu venho te visitar e você vai me ver, mas eu preciso do meu mundinho e você do seu, meu garoto. Me orgulho de você, filho, mas é melhor assim. – Grant virou para sair e acrescentou. – Ah, mas...sobre as rameiras... Você sabe onde seu velho mora ne... Eu prefiro as cheinhas e nada de chique e fresca por favor. – Grant piscou, sorriu e saiu. Apesar de lamentar deixar seu filho sozinho, ele se sentiu mais leve do que nos meses em que morara ali. Eu preciso deixar meu filho crescer e seguir sua vida, afinal.

Ele me abandonou. Levi pensou, em choque e raiva, o lápis de madeira em sua mão se partindo em dois.

~o o~

- Bobô! Veijinho. – A menina magricela, olhos fundos com olheiras começando a sumir, subiu no colo de Corel e apontou para a bochecha. Nos últimos meses a menina assumira a missão autoimposta de não deixar seu avô triste pela morte do Rei.

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Corel deu um beijo no rosto da menina e logo ela desceu correndo para brincar. Ele a observou e aceitou a bebida de seu filho que se sentou na cadeira ao lado, olhando com orgulho para sua filha. – Ela está bem melhor.

- Perceptivelmente. – Corel disse, aliviado pelo medo e a tristeza que a menina tinha mergulhado depois que uma amiguinha dela desapareceu sem deixar rastros a dois anos.

Provavelmente morta.

- Como você está, pai?

- Bem. Seu tio me encheu de trabalho, o que ajudou.

- Ele parece bem estressado, mas acho que é normal. Ele tem quase a minha idade e imagino o peso que deve ser assumir o trono assim.

- Seu tio foi treinado pra isso. Além de ter tudo que um Tiger precisa pra esse papel, ele tinha assumido muito do reino por causa da doença. Acho que ele está mais estressado por não ter um herdeiro ainda. – Corel tomou um gole da bebida suave e um tanto ácida, o que o lembrou inexplicavelmente de Leviatã.

- Não sei pra que a pressa. Ele tem tempo.

- Vivemos em guerra, filho. Ter um herdeiro o quanto antes é essencial. Se ele não tiver logo um filho, precisa pensar em nomear um herdeiro. O que, pra falar a verdade...

- O que? – O rapaz se virou para o pai, com um mau pressentimento.

- Meio que ele já pensou e tem alguém em mente quase definido.

- Sua visita aqui não é apenas social. – Ele afirmou.

- Não, filho. Preciso que se prepare para essa possibilidade, mas mantenha segredo por enquanto. Principalmente de sua esposa. Desculpe, meu filho, mas sabe que não confio nela. Me dê sua palavra.

Como sempre acontecia quando se falava de sua esposa, ele se sentiu oprimido, incomodado e...preso à ela, embora nada disso fizesse sentido já que ele mesmo era louco por ela e foi quem lutou para seu pai permitir seu casamento antes mesmo da maioridade.

– Eu prometo. – Ele disse com um incômodo em seu estômago.

- Certo. Estefan analisou alguns familiares próximos, sabe como ele é tradicionalista com isso. Dentre todos, ele pretende nomear sua filha como herdeira, caso ele não tenha um filho ou filha em um ano.

- O que? Pai, não pode permitir isso. Não quero essa pressão na minha filhinha. Quero que ela cresça despreocupada, livre...

- Filho, Estefan é seu tio, meu irmão, tio-avô dela, mas, antes de tudo, ele é o Rei Tiger e sua palavra é lei. Se ele decidir que ela será sua herdeira, você não pode contestar ou será condenado por alta traição. – Corel disse com firmeza e abrandou um pouco a voz. – Filho, prometo que Estefan nunca tratará sua filha com o mesmo rigor cruel que meu pai. Ele a ama e eu também estarei sempre atento. Além do mais, caso ela se torne a herdeira, tenho certeza que você será convocado para viver com ela no palácio. Ele nunca separaria vocês, dois Caryo.

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- BOBÔÔÔ!!!! – A menina veio correndo, quase tropeçando nos próprios pés. –

Veijinho! – Ela apontou para a bochecha, recebeu seu beijo e saiu correndo de novo.

- HUNNA! NÃO CORRA! Uma Lady nunca corre feito um animal! – A mãe da menina gritou, entrando no quintal. – Oh! Boa tarde, sogro.

- Boa tarde, Ilena. – Corel respondeu educadamente, mas sempre incomodado com ela.

- Querida, deixa ela brincar. – Caryo disse baixinho, quase num murmúrio como um felino apático, sem ação.

Isso sempre intrigava Corel, mas, quando perguntado, seu filho dizia que não tinha nada de errado e que não podia viver sem Ilena, como se, sem ela, o ar lhe faltasse. Corel achava a relação estranha, mas respeitava demais as decisões do filho para se envolver.

- Eu já não disse pra você não ficar se sujando com um bicho? – Ilena disse com uma doçura forçada na voz que nunca convenceu Corel. – Vamos. Você precisa de um banho e novas pinturas nas garras.

- Mas...mamããããe. Num gosto de pintar garra. E num gosto dela grandi.

- Hunna, você é uma lady. E ladies usam garras longas e bem pintadas. Não discuta e obedeça.

- Sim, mamãe. – Hunna murmurou.

Corel não se orgulhava, mas torceu para que Estefan levasse a menina para longe de Ilena, mesmo que isso significasse afastá-la de seu filho, cada vez mais irreconhecível do felino de antes do casamento.

~o o~

Leviatã olhou para as três felinas deitadas na cama. Apesar da noite com as três, ele não se sentia satisfeito. Passar a noite com uma não lhe dava prazer. Com duas? Não. Com três? Pelo visto também não. Ele tentara todo tipo de fêmea, mas sempre se sentia vazio depois de uma noite “animada”. A única vez que ele se sentiu um pouco melhor foi quando ele pegou uma menina muito nova e faminta, lhe deu alguns doces em troca dela deixar ele fazer o que quisesse com ela. Ela aceitou, depois chorou quando ele cobrou o preço pelo alimento que lhe dera. Inesperadamente, seu choro o deixou mais excitado, talvez por que isso o lembrou das marcas de lágrimas de sua mãe nas páginas do diário.

De qualquer forma, já que ele cumpriu sua parte no trato, ele forçou a menina a cumprir a dela. Ela se debateu, chorou, gritou, mas ele, incrivelmente excitado, fez o que quis. Quando acabou ele a expulsou com roupas rasgadas, adorando o poder que isso o fez sentir. A menina de pouco mais de 12 anos, gritou aos prantos que ia contar pra todo mundo. Ele deu um soco no rosto dela, fazendo a jovem desmaiar. Então enfiou uma poção em sua boca e usou sua magia para bagunçar a mente da menina e a abandonou em um beco qualquer. Quando acordasse, além de não se lembrar dele, ela estaria louca e todos atribuiriam essa loucura à abusos ou excessos de substâncias tóxicas e bebidas. Depois

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disso ele se sentiu incrivelmente bem e satisfeito. Mas ainda faltava algo que ele não sabia explicar. Ele nem se lembrava do nome dela e não se importava.

Depois de dispensar as jovens, frustrado, ele tomou um banho e saiu de casa. Seu consolo era o que tinha descoberto sobre Tigrésius. Com uma joia comunicadora escondida no manto, ele entrou na casa do jovem Tiger.

Tigrésius terminava sua sessão de treino de espada com dezoito Tigers fortes, soldados experientes e rapidamente venceu todos.

- Leviatã, meu caro. – Tigrésius guardou a espada e pegou uma toalha para secar o suor.

Um servo, um garoto de 8 anos, filho de outros dois escravos de Tigrésiu, entregou uma bebida para seu amo e outra para Levi. O garoto olhou para cima e seus olhos se encontraram com o do mago. Logo o menino, assustado, abaixou o olhar e sua mão sem garras tremeu visivelmente. Leviatã nunca ficou tão grato por seu manto largo e longo na frente do corpo porque ele nunca se sentiu tão excitado. Apesar de ter disfarçado com maestria como sempre, Tigrésius, astuto e diabólico, percebeu dando um sorriso predatório. Os dois se sentaram, comendo pequenos petiscos.

- Então, você pensou no que eu disse?

- O que você quer em troca?

- Levi, meu amigo. Não quero nada além da sua felicidade. – Tigrésius sorriu.

- Nada é de graça e não sou tolo.

- Certo, certo. Vamos fazer assim. Você pode ganhar muito com esse pequeno desvio de verba e, se me ajudar....

- Estarei sempre em suas mãos. – Levi completou.

- Você já está nas minhas mãos, Levi. Acha que não sei que você tem um gosto sexual meio....digamos...malvadinho? Se eu quisesse te derrubar, bastaria contar isso pro seu reizinho.

O tom de ameaça era claro como a luz da estrela solar. Mas Levi previra isso quando soube que a jovem que ele estuprara fora acolhida por um “nobre misterioso” e empregada por ele em algum lugar.

Ele bebeu um gole da sua bebida preferida e, calmo como sempre, tirou o cristal do bolso, colocou sobre a mesa, estalou os dedos o ativando e uma imagem holográfica surgiu.

Tigrésius ficou tenso. Sua raiva constante ficou á beira de explodir.

- O que seu primo, seu Rei, diria se soubesse que a pequenina Elim, essa doce garotinha, sua amiga não é?, oh sim, amiga da sobrinha-neta do Rei também... Enfim, se ele soubesse que, esse tempo todo, essa doce criança que sumiu e causou uma depressão severa na pequena Hunna, foi abusada por você e depois jogada como um trapo imundo no rio com pedras presas na coitadinha? – Leviatã disse.

- Seu...

- Calma, Tigrésius. – Levi disse e desativou a imagem que mostrava um cadáver destroçado e as últimas memórias da menina. – Fico feliz que tenhamos chegado a isso.

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Numa coisa concordamos. Tiger pode ser muito maior se governada por um rei rígido, militar, muito mais do que aquele velho ou Estefan. Sei que você precisa de financiamento para seus planos. Posso ajudar, mas não vou ser seu capacho, algo pra você jogar fora depois que tiver usado.

- Muito bem. O que você quer? Um beijinho? Desculpe amigo, sei que sou gostoso, mas prefiro vadias. – Tigrésius debochou.

- Quero a promessa de que, quando você for rei, eu serei seu conselheiro e seu principal mago. Não me traia e terá o maior aliado que poderia conseguir.

- Ou talvez eu deva só tentar conquistar uma aliança com o seu coleguinha, o mago Klaus. Afinal ele é o principal substituto do mago e conselheiro futuro.

- Se você achasse que ele valia essa aliança, já teria feito. Sabe que sou o aliado que você precisa.

- É mesmo é?

- Sim. Sou mais inteligente, mais ambicioso e temos....digamos...coisas em comum. E, convenhamos, Klaus não é leal a ninguém além dele mesmo. O que também pode nos ser útil no futuro.

- Vou pensar. – Tigrésius se levantou, pronto para sair.

- Então pense rápido ou pode perder sua chance de ser o herdeiro de seu primo. – Levi disse tranquilamente enquanto bebia.

- O que quer dizer? – Tigrésius se virou com olhos vermelhos.

- Uma prova de boa fé. – Leviatã olhou para ele. – Seu priminho pretende nomear a pequena Hunna como herdeira.

- VOU MATAR AQUELA VADIAZINHA! – Tigrésius jogou a taça de vidro na parede que logo se espatifou.

- Oooou...

- OU O QUE?

- Lhe dei uma prova de boa fé. Me dê uma também.

- Filho de mil pais! – Tigrésius sacou a espada e colocou a ponta contra a garganta de Levi que nem se abalou. – Vou matar você, seu...

- Faça isso. Você jogará fora um forte aliado. E você sabe disso porque, apesar de ser um animal raivoso, não é burro. E corre o risco de seu Rei descobrir onde e o que aconteceu com aquela garotinha. Não temo a morte, Tigrésius. Vá em frente.

Tigrésius espumava de raiva, seus olhos fulminando o mago. Então, tão rápido quanto veio, sua raiva se afastou. Ele guardou a espada, jogou a cabeça para trás e gargalhou.

- HAHAHAHAHA! Você pode ser um amante de machinho, mas tem culhões de ferro!

Eu respeito isso. Certo. Que tal isso. Te dou o escravinho pra você se divertir aqui ou em sua casa. Você escolhe. Não quero ser seu inimigo. Você é divertido e útil. Uma combinação rara nos Tigers de hoje.

- Quantas vezes eu quiser?

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- Quantas vezes você quiser. Agora, qual é seu plano? Porque tenho certeza que você tem um plano.

O segredo para desvendar labirintos e qualquer quebra-cabeças é ter opções. Sempre tenha todas as opções em mente, filho, e você vai ser sempre o melhor. A frase do diário passou pela mente de Levi.

- Primeiro, precisamos garantir que você fique nas boas graças do Rei. O que não vai ser fácil. Segundo, ronde Klaus. Aquele tolo pode ser moldado.

- Pensei que iria me pedir para matar ele e tirá-lo do seu caminho. – Tigrésiu disse confuso.

- Pensei nisso, mas isso levantaria muitas perguntas e ele ainda pode ser útil. Vou assumir o primeiro posto de aprendiz, não oficialmente, mas por trás das cortinas, digamos.

Já tenho muitos magos e nobres que me respeitam e procuram mais do que o idiota do Klaus.

- Ouvi falar. Também posso dar um empurrãozinho nisso.

- E o mais importante. Precisamos de um plano de apoio, caso todos os outros falhem ou não sejam suficientes.

- E você já pensou nisso.

- Claro. – Leviatã esvaziou a taça. – Precisa se casar com Hunna.

- Aquela trouxa? Só serve pra apanhar. Tinha que ver como ela morre de medo de mim desde sempre.

- Ela não precisa gostar. Apenas dê um jeito para ser marido dela no futuro. Isso lhe dará direito legal ao trono se ela for herdeira ou podemos manipulá-la. E engravide-a o quanto antes. Com um herdeiro você fixará seu poder no trono.

- A ideia é boa. Ela é sem graça, mas eu como qualquer vadia sem problemas. Depois que ela tiver meu herdeiro, posso matar ela ne?

- Porque? Pretende colocar outra rainha ao seu lado? Khara, por exemplo? – Levi ergueu uma sobrancelha.

Tigrésius apertou a mandíbula. Sua relação com a meia-irmã era segredo devido o conhecido taboo sobre isso em Likastía.

- Não se preocupe. Sempre soube que vocês são amantes. Mas é melhor esconder isso muito bem até que você esteja firmado no trono. Depois você muda essa lei idiota e faz o que quiser.

- Um mago apoiando algo que a própria Kallisti abomina? – Uma ideia absurda passou pela mente de Tigrésius. – Como você conseguiu as memórias de uma defunta a mais de dois anos? Fez um pacto com...

- Não diga esse nome. Sou leal à Kallisti. – Leviatã disse e se levantou, afrouxando o nó que prendia a gola do manto. – Agora, para me motivar a planejar os detalhes da sua subida ao trono, onde está meu brinquedo?

Tigrésius sorriu cruelmente, levou Leviatã ao mais luxuoso quarto de hóspedes do palácio.

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- Vamos deixar as coisas mais divertidas. – Tigrésius gritou pela escrava e mandou ela trazer o filho.

A felina apareceu segurando a mão do filho, ambos tremendo e olhos arregalados.

- Tire a roupa desse moleque e entregue ao meu amigo. – Tigrésius disse, encostado no umbral da porta.

O horror nos olhos de ambos só fez Levi ficar mais excitado a ponto de doer. Ele soltou as partes superficiais das roupas, olhando faminto para o garoto que chorava alto.

Sempre se conheça, Levi. Se conhecendo, você conhecerá o mundo. Eu vivi muito melhor depois que passei a me conhecer profundamente, virtudes e, principalmente, os defeitos. Se conheça, se ame e se aceite acima de tudo e de todos.

- Senhor....por favor... – A escreva implorou a Tigrésius. – Eu....eu fico no lugar dele.

Mas não faça isso...ele...

Tigrésius deu uma joelhada no estômago dela e a mulher se encolheu. – Viu, moleque?

Você está machucando sua mãe! Como pode ferir sua mãe assim?

- Eu...eu não... por favor... – O menino chorava a ponto do nariz escorrer, seu pânico aumentando conforme Tigrésius chutava a mãe dele no chão. – Por favor...não machuca ela....

- Eu não estou machucando ela, pirralho. Você está. Se você fizer o que meu amigo quer, eu juro que não machuco mais ela. – Tigrésius disse e segurou os cabelos dela a tirando do chão.

- Promete?

- Prometo.

- Não filho! – A mulher disse, mas levou um soco no focinho.

Tigrésius se aproximou e sussurrou no ouvido dela: - Se você não fizer o que eu mando, meu amigo não vai ser o único a foder seu pirralho sujo. Vou entregar ele até para os cavalos meterem nessa bundinha dele na sua frente. É isso que você quer?

- Nã..não.

- Então tire a roupa dele e o entregue para meu amigo, vadia.

- Tud...tudo bem, mamãe. – O menino disse, controlando as lágrimas.

A mulher, temendo algo ainda pior para seu menino, tirou a roupa do garoto na frente de Levi que estava sentado na cama com um brilho nos olhos como se recebesse o maior tesouro do reino de presente. Ela empurrou gentilmente o menino para o mago que estendeu a mão e puxou o menino para seu colo, forçando um beijo faminto no garoto. A mulher virou o rosto, aos prantos, mas Tigrésius a agarrou por trás e segurou seu queixo a forçando a olhar a cena.

- Abra os olhos ou vou cumprir minha promessa de dar seu moleque servir de putinha para tudo e todos. – Tigrésius sussurrou no ouvido dela.

A mulher abriu os olhos e viu quando Levi abriu a calça larga, tirou seu membro duro e enfiou sem pena no menino em seu colo. O garoto deu um grito que daria pesadelos até

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nos mais fortes guerreiros Tiger da história. Os gritos, o choro, os pedidos para parar, tudo deixou Levi empolgado, feliz, completo.

Quando acabou, ele ainda estava duro e forçou o garoto de novo. Nesse momento a gargalhada de Tigrésius ecoou pelo quarto seguido dos gritos da mulher que era praticamente arrastada pelos cabelos para o chão enquanto ele entrava nela violentamente.

- Você prometeu! – O menino gritou, tentando se desvencilhar de Levi o que só o deixou mais excitado.

- AHAHAHAHA! Você prometeu...nhãnhãnhã. HAHAAHAHA! Grita, vai, grita!

AHAHAHAHAHA! – Tigrésius ria feito o louco que era, tendo colocado a mãe de forma que ela visse seu filho sendo usado enquanto ela mesma sofria com ele.

Os dois....er...Devo chamar de amigos? Não sei... Enfim, os dois abusaram de suas respectivas vítimas sem parar por horas, sempre mantendo mãe e filho olhando o sofrimento do outro. Mesmo depois de mãe e filho terem desmaiados, eles abusaram mais duas vezes deles e Tigrésius chamou o escravo que era pai do menino e marido da mulher para tirar os dois do quarto, jogando no curral onde os escravos viviam. O felino tirou sua família dali sem derramar uma lágrima, sabendo que isso só pioraria as coisas. O garoto morreu no dia seguinte e a mãe, que já estava muito mal, não suportou saber da morte do menino e morreu dois dias depois dele.

Algum tempo depois esse servo teria uma filha e lhe daria o nome de sua primeira esposa: Teira.

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Capítulo 04

Décadas antes...

- Eu amo você, filho. Fiz uma promessa pra Kallisti pedindo pra você nascer com saúde.

– Grant disse pro ventre inchado da esposa.

- Você sabe que ele ainda não entende nada, não é? – Lavínia perguntou, quase sem voz. Seu rosto estava magro até os ossos, os olhos fundos, olheiras fundas e escuras, lutando contra mais uma onda de náuseas.

- Você acordou. – Grant murmurou com a voz embargada. – Tive medo que...

- Estou ótima, meu gigante. – Ela sorriu, seus dentes agora permanentemente amarelos.

Grant ia tantas vezes, desesperado, com sua esposa nos braços desacordada, nos templos de cura que a maioria das sacerdotisas e magos já os conheciam, lamentavam a triste história do casal. No início muitos os aconselharam a abortar a criança para tentar salvar a mãe. Agora a maioria só queria manter a felina viva por tempo suficiente para dar à luz, o que já seria um milagre, e torcer para que a criança nascesse como uma deficiência fácil de lidar. Afinal, era fato que ele nasceria com problemas graves. Se ele sobrevisse, claro.

- Amor... Eu não sei se consigo continuar com isso... – Grant soou desesperado, em pânico.

- Shh.. – Lavínia colocou a mão no rosto dele. – Querido, nosso filho vai nascer, será saudável, gigante como você, bonitão como você, inteligente e trabalhador. Você precisa estar pronto para cuidar no nosso menino.

- Querida, você sabe que ele vai nascer...

- Saudável, Grant. Eu sei. Tenha fé, amor.

- Eu....eu...vou tentar... – Ele não acreditava nem que o bebê sobreviveria, mas não queria assustar sua esposa.

A sacerdotisa de Kallisti que vinha acompanhando o caso por curiosidade, entrou na sala para verificar a gestação dela.

- Prometa que vai ser um bom pai pro meu pequeno lorde, amor. Prometa... – Lavínia abaixou a mão, segurando firme a do marido.

Grant se forçou a sorrir largamente, o sorriso que conquistara sua mulher, olhou em seus olhos e disse: - Eu prometo, meu amor.

Lavínia sorriu e começou a convulsionar violentamente, fazendo Grant ficar de pé, assustado. A sacerdotisa que tinha notado o quão perto da morte a felina estava, silenciosamente chamara outras sacerdotisas de cura. Quando Lavínia começou a se debater, elas se debruçaram sobre a felina com pressa e eficiência. Uma delas afastou Grant, praticamente o empurrando para fora para que elas pudessem trabalhar. Quando ele saiu, a porta se fechou enquanto ele espiava a esposa espumando muito pela boca.

Aquela foi a última visão que ele teve de sua esposa com vida.

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O choro infantil no quarto fez Grant se levantar do chão onde estava no corredor. A sacerdotisa saiu com as mãos ainda sujas de sangue e o olhou com pena.

- Lamento, Grant. Sua esposa não resistiu. – A sacerdotisa disse.

Grant sempre se envergonharia disso, mas naquele momento ele não conseguiu evitar o choro convulsivo que o dominou. A sacerdotisa deixou ele se acalmar e colocou a mão em seu ombro.

- Acalme-se, Grant. Você precisa respirar fundo e se aprumar.

- Pra que? Sem minha Lavínia... Eu não tenho nada! EU..EU...

- Você tem sim. – A grã-sacerdotisa sinalizou e uma sacerdotisa mais jovem saiu do quarto, carregando um embrulho quieto e silencioso. – Precisa cuidar do seu filho. Você prometeu.

Grant olhou, emocionado, mais lágrimas escorrendo de seus olhos. Ele colocou a mão sobre o peito, inseguro, sem saber se devia pegar o menino, o que fazer. – Qual é a deficiência que ele tem? Preciso vir com quanta frequência...?

- Nenhuma. – A grã-sacerdotisa disse, mal escondendo sua própria surpresa.

- Co...como?

- Seu filho é perfeito. Boa saúde, forte, barrigudinho, esfomeado... Fisicamente perfeito.

- Por Kallisti... – Grant quase não acreditou. – Eu...po..posso pegar?

- Felino, pelos deuses, é claro que pode. É seu filho. – A grã-sacerdotisa sorriu.

Grant pegou a criança dos braços da jovem sacerdotisa, meio sem jeito, como se carregasse um saco de ovos que pudessem quebrar ao menor aperto. Era um Tiger lindo, a forma do rosto lembrando Lavínia, esticado sinalizando que provavelmente seria alto como ele, o mesmo queixo quadrado do pai de Lavínia... Dormindo enquanto chupava o dedão ganancioso, ressonando...

- É tão....lindo... – Uma gota caiu no rosto do bebê e Grant percebeu que estava chorando de novo.

Dias depois, Grant foi entregar a oferenda que tinha prometido à Kallisti se seu filho nascesse bem. Então fez outra promessa.

- Eu juro que vou educar essa criança para ser um felino honrado, digno, nobre, pronto para servir nosso povo e ser devoto de Kallisti com todo o coração. – Grant tomou aquilo como sua missão de vida.

Pena que ele não teria sucesso.

~o o~

Atualmente...

Levi acordou e desceu para comer algo. Um mensageiro chegou e pediu para ser recebido pelo mago. Levi pensou em dispensar, acreditando ser mais uma das muitas tentativas de contato de seu pai. A meses Grant tentava em vão falar com o filho, mas Levi

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se sentia traído, abandonado, tratava seu pai como um estranho ingrato e proibira sua entrada na mansão.

Seu pai será seu melhor amigo, seu aliado. Assim como eu, filho, ele nunca irá te abandonar. Levi recitou mentalmente uma das frases do segundo diário de sua mãe.

- Nem ele chega a seus pés, mãe. Aquele ingrato... Um dia eu serei um pai de verdade para meu herdeiro. – Desde que se afastara de Grant, Levi vinha pensando nisso. Ter um herdeiro era necessário para ensinar tudo que ele sabia e criar um mini-Levi ambicioso, poderoso... Quem sabe até um futuro Rei Tiger que derrube Tigrésius e seu herdeiro? Por que não? Levi sorriu com o pensamento. – Quem o enviou? – Ele perguntou ao seu servo.

- Major Tigrésius, senhor. – O servo respondeu, olhando para o chão,

- Mande-o entrar. – Levi ordenou.

O mensageiro entrou e entregou um envelope com o selo de Tigrésius, uma caixa cheia de jóias, a escritura de uma mansão no litoral mobiliada e com servos, além de um convite para uma “reunião entre amigos”. Levi abriu a carta e leu:

“Sábio amigo,

Como pode ver pelo selo (imagino que também já tenha sido informado), sou o novo Major da Nona Legião das Forças Tiger. Como não sou um ingrato igual seu pai, estou enviando algumas pequenas amostras de minha gratidão pela sua ajuda. Espero poder contar com sua presença em nossa tradicional reunião entre amigos para exercitar nossos dons.

Seu amigo leal,

Major Tigrésius Tiger

Leviatã sabia que Tigrésius era tão, ou mais, sádico do que ele. Deixá-lo perceber que a ingratidão de seu pai o incomodava era perigoso. Sabendo que o mensageiro provavelmente tinha ordens para dar detalhes da reação de Levi ao seu mestre, ele manteve um semblante ilegível.

- Diga a seu dono que estarei lá na hora de sempre e que aprecio a gratidão dele. –

Levi deu uma fruta para o rapaz que quase certamente não tinha sido alimentado ainda. O

mensageiro olhou com uma gratidão tão intensa que fez o mago pensar se ele sequer tinha comido no dia anterior. – Coma. Seu dono não se atreveria a reclamar com você sobre algo que eu ordenei.

- Obrigado, senhor mago... O senhor é um bom felino. Que Kallisti o abençoe. – Ele comeu a fruta de tamanho considerável em segundos.

Levi o dispensou e observou o rapaz sair. Ele é até interessante... Mais velho do que gosto, mas não sou um Tiger preconceituoso.

Enquanto isso Grant estava frustrado, magoado, triste, irritado... A quase um ano ele não conseguia falar com seu filho que nem se dignava a lhe dar uma justificativa. Sentado

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na cama de seu filho em seu antigo quarto, Grant segurava um brinquedo, uma marionete que fizera para ele e era o brinquedo favorito de Levi.

Como meu bebê doce e gentil se tornou esse adulto frio, calculista e que vive sem nada além do trabalho em mente? Grant se perguntava. O pior eram os boatos que corriam sobre seu filho, sussurrados pelos escravos nos mercados abertos. Grant deu um soco em um escravo ao ouví-lo chamar Levi de “mago comedor de filhotes”. Ele não acreditava nisso, óbvio, mas ouvir alguém falar assim de seu amado filho, somado ao seu stress, o fez perder a cabeça.

Uma batida em sua porta o tirou de seus pensamentos.

- Majestade? – Grant olhou confuso a ponto de esquescer a reverência.

- Grant. Posso entrar? – Estefan perguntou, ladeado por guardas e Sentinelas que, ao seu sinal, aguardaram do lado de fora, atentos a tudos.

- Meu Rei em que posso ajudar? – Grant tirou a bagunça no sofá, envergonhado.

Estefan sentou e deu um suspiro de alívio. – Tanta segurança é cansativo demais.

Realmente, desde que Estefan vinha demonstrando interesse em conversar com os leoninos e gerar uma possível abertura para trégua, coisas suspeitas aconteceram. O clima estava tenso entre os nobres que se sentiam ultrajados por um Tiger sequer imaginar uma trégua numa guerra e o povo que temia os monstros canibais que eram os leoninos.

- Como está a princesa? – Grant perguntou, oferecendo uma bebida.

- Linda e temperamental ao extremo como a mãe. – Estefan disse. – Você vai no aniversário dela.

- Não acho que seja...

- Não foi uma pergunta, Grant. Minha filha adora você. Acredita que ela vai começar a estudar para ser uma sacerdotisa da dança? – Estefan disse, orgulhoso de sua única filha, uma garota adorável, mas indecisa que estudava de tudo um pouco, sem nenhuma futura profissão definida. O que ela gostava mesmo era da vida mais simples, motivo pelo qual ela sempre gostara de Grant. - Daqui a dois anos ela fará o rito de passagem para a vida adulta e ainda não consegui um pretendente que preste. Levi indicou alguns, mas... Grant, eu sei que é seu filho, mas, preciso conversar com alguém e não confio em ninguém sobre isso além de você.

- O senhor ouviu os boatos. – Grant afirmou.

- Sim, mas Levi nunca faria isso. É absurdo sequer pensar nisso de um mago sábio que sempre quis ser pai. Não é isso que me preocupa. – Estefan respirou fundo. – Klaus vai assumir o lugar de mago chefe com a morte de seu mestre. Como esperado. Mas tenho ouvido algumas coisas sobre Levi tramando contra ele. O que é um crime grave.

- Eu não posso ajudar, majestade. Levi não fala comigo a quase um ano.

- Achei que você apenas tinha parado de frequentar nosso círculo porque você se sente melhor aqui. – Estefan disse, surpreso.

- Esse era meu plano. Mas Levi parece não entender... Na verdade não sei o que se passa na cabeça do meu garoto. Ele proibiu minha entrada em sua casa...

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- Por Kallisti! Isso é loucura! – Estefan se levantou, andando pela sala enquanto tentava pensar numa razão para isso. – Levi pode ter muitos defeitos, mas sempre o amou muito, eu sou testemunha disso.

- Com todo o respeito, majestade, mas ele só piorou desde que se tornou mais próximo de seu primo. Eu sei que não devo falar mal de um nobre, ainda mais um que salvou nossas vidas muitas vezes lutando contra aqueles leoninos...

- Eu também não gosto muito dessa proximidade, Grant. Tigrésius e seu filho são inegavelmente leais a mim. Confio neles com minha vida. Mas Tigrésius é instável e não é nenhum santo. E...bem, Levi também não é o maior poço de estabilidade. De qualquer forma... – Estefan colocou uma mão no ombro do Tiger desolado. – Eu prometo que vou descobrir o que está acontecendo com Levi, Grant.

~o o~

- Leviatã. – Talassa cumprimentou ao passar, como se fossem apenas conhecidos de vista.

- Talassa. – Levi cumprimentou com aquele tom único de perfeita educação, mas que ocultava um deboche que apenas quem era o alvo percebia. Uma fêmea com cicatrizes de batalha na face... Nojento. Minha mãe nunca se permitiria agir de forma tão... Deplorável. E

esse cabelo curto quase careca? Se uma filha minha se prestasse a esse papel de macho eu a mataria. Levi pensou com um sorriso gentil e educado.

- O Rei deseja conversar com você agora. – Talassa disse e, como chefe das Sentinelas, o guiou para o gabinete do Rei.

Nojenta. Levi pensou. – Majestade, alteza.

A princesa Tiger, Siara, estava ao lado do pai, se recusando a ir embora, com uma expressão bem irritada.

– Pode ir, Talassa. Obrigado. – Estefan esperou ela sair. Sua filha ao seu lado, cruzou os braços sobre o peito, encarando Levi. – Sente-se, meu amigo.

Levi até gostava da princesa por achar ela fácil de manipular, apesar dela se achar esperta. Mas às vezes a intromissão dela o irritava.

- Levi o que está acontecendo? – Estefan perguntou calmamente.

- Do que estamos falando, majestade? – Levi perguntou se fazendo de desentendido, mas já imaginando do que se tratava pela expressão no rosto de Siara.

- Do senhor Grant e da sua incapacidade de reconhecer o pai incrível que ele é, óbvio.

– Siara disse, sem meia gota de paciência.

- Siara. – Estefan alertou. – Levi, estive com Grant a poucos dias e ele está arrasado.

- A culpa é dele. – Levi disse sem emoção nenhuma na voz. – Ele decidiu que não sou o filho que ele quer.

- Acho que você só entendeu errado, amigo.

- Majestade, eu dei tudo do bom e do melhor, tirei ele da vida árdua, como um bom filho. Ele não soube reconhecer e partiu. Simples assim.

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- Simples assim coisa nenhuma! – Siara começou.

- Filha, contenha-se.

- Pai, ele que não sabe o que faz da vida! Fica andando pra cima e pra baixo com aquele sociopata do primo Tigrésius e não valoriza os bons felinos ao seu redor! Olha, Barão Leviatã, eu gosto muito do senhor, principalmente por sua inteligência, apesar do seu jeito grosseiro com algumas classes, mas o senhor Grant merece, no mínimo, a chance de ser ouvido. – Siara disse, ignorando os olhares de seu pai. – O senhor vai recebe-lo em sua casa ou eu mesma vou tornar sua vida impossível neste palácio!

Siara saiu batendo o pé enquanto seu pai olhava feio para ela, mas internamente quase explodindo de orgulho.

- Levi, Siara pode ter sido meio agressiva, mas tem razão e você sabe disso. – Então ele abrandou a voz um pouco. – Vamos, amigo. Eu não sei o que o incomodou tanto, mas dê pelo menos a chance de seu pai se explicar. Vocês sempre foram tão próximos, são meu exemplo de relacionamento que uso tanto com minha filha quanto com minha sobrinha.

Tenho certeza que vocês podem se acertar.

Estefan não sabia, mas sem querer acabou alimentando uma antiga ideia na mente de Levi. – Me dê alguns dias, pelo menos. Não sei se posso encarar o velho ainda sem ser injusto.

Foi a resposta perfeita e ele sabia disso.

Perdeu sua chance de ser alguém aproveitável, garota estúpida. Levi enviou uma mensagem para Tigrésius. Dali a duas noites eles se encontrariam.

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Capítulo 05

Levi voltou para casa de manhã bem cedo, perfeitamente arrumado como se não tivesse acabado de cometer as maiores atrocidades com dois pequenos escravos e terminado de fechar os planos com seu aliado. Seu bom humor logo mudou quando ele viu o velho Tiger sentado na calçada em frente ao seu palácio, tremendo visivelmente e parecendo meio perdido em pensamentos.

Grant viu apenas os pés de seu filho, parando a sua frente, sem coragem de levantar a cabeça. – Leviatã.

Leviatã? Não Levi? Aí tem. Levi pensou, mas perguntou calmamente: - A quanto tempo está aí?

- Não muito. Precisamos conversar.

- Sua defensora de plantão já deixou claro. Entre. – Levi disse e se virou para entrar, sinalizando para os guardas.

Grant levantou e se forçou a entrar na mansão. Levi foi um perfeito anfitrião, como sempre, oferecendo comida e bebida, antes de entrar no assunto.

Pelo menos isso eu consegui ensinar pro nosso filho, Lavínia. Grant pensou.

- Muito bem, - Levi se sentou atrás de sua mesa, com a postura rígida – diga.

- Eu quero que você me diga, filho. Porque?

- E ainda pergunta? Você foi embora como se nada do que fiz por nós valesse alguma coisa. – Levi respondeu, mas não sabia que não era isso que seu pai queria saber.

- Ah, Levi... Eu sempre amei você, filho. Sempre tentei ser um bom pai, um amigo... Fiz de tudo pra te criar bem, educar como um bom felino...

- Ou seja, sua obrigação. – Levi tomou um gole de suco.

Grant nunca sentiu vontade de dar um soco na cara do filho, mas naquela manhã era o que ele mais desejava. – Eu vou fingir que não ouvi isso. Você está chateado comigo e não me fala o motivo. Mas eu também estou chateado, pra dizer o mínimo.

- É mesmo? Com o que? Com o fato de que não preciso mais de você pra tudo? Ou por não ter corrido pra implorar que você aceitasse tudo o que te dei?

- Levi, cala essa boca! Você pode ser um mago respeitado, nobre e tudo isso aí, mas ainda sou seu pai! Eu exijo respeito!

- Respeito? – Levi soou debochado. – O mesmo respeito que você teve ao me largar aqui e cuspir no prato que comeu? Ou o respeito que você teve ao trair minha mãe com aquela vadia que você ainda por cima colocou pra cuidar de mim na infância? O que? Achou que eu nunca ia descobrir?

Grant enrijeceu. Por uma semana, enquanto Lavínia estava no templo de cura, se sentindo sozinho e carente, ele cedeu aos avanços da jovem recém-casada que era sua vizinha.

- Vai negar? – Levi perguntou.

- Não. Como você...

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- Aquela vadia veio me pedir dinheiro pra não contar pra todo mundo. – Levi disse uma meia verdade. A mulher fora pedir dinheiro mesmo, mas ele já sabia disse a muitos anos.

- Levi, eu não me orgulho disso. Mesmo com o perdão de sua mãe, eu sempre vou me arrepender de ter agido como um pilantra. – Grant olhou para o filho de uma forma estranha que Levi não conseguiu interpretar. – Você entende, filho?

- Entendo que você não tem moral nenhuma pra reclamar de nada. Eu fiz tudo que pude por nós e você não reconheceu, me largou como um fardo que você foi obrigado a carregar. Quando meu filho nascer pode ter certeza de que serei um pai muito melhor. –

Levi foi direto onde mais doía.

Grant estremeceu. – Que filho? Alguma jovem está esperando um filho seu?

- Se minhas constantes tentativas com algumas por aí derem certo, sim. Mas isso não é da sua conta.

- Você não pode...

- Vai se desculpar por ter sido um ingrato comigo e por ter traído minha mãe doente?

Peça perdão e quem sabe eu te dê uma nova chance.

Grant olhou chocado. – Quem você pensa que é? Se tem alguém aqui que não tem moral pra julgar ninguém, muito menos eu que sou seu pai. Você não pode colocar um filho neste mundo sendo....sendo...assim!

Levi levantou, repentinamente intrigado. – O que você quer dizer, exatamente, pai? –

A última palavra saiu como se fosse um insulto.

- Vejo que é inútil. Eu nunca te abandonei, Levi. Mas alguém precisa pensar nesse possível futuro filho...ou nos filhos de outros. Sou seu pai e isso me dá responsabilidades que no momento eu lamento ter. Cuide-se, Levi. – Grant saiu o mais rápido que pôde sem correr.

Levi sinalizou para dois de seus mensageiros, mandando um seguir seu pai e outro levar uma mensagem urgente para Tigrésius. Quando ambos os mensageiros retornaram e o escravo de Tigrésius seguia Grant, Levi partiu para sua mansão no litoral e começou os preparativos.

~o o~

- Klaus, eu já disse que não quero essas magias que afetem a saúde dos leoninos.

Muito menos se for para ser usada contra civis. – Estefan bateu com o punho na mesa.

- Mas, majestade, os efeitos seriam poderosos. Eles não se atreveriam a nos atacar nunca mais...

- VOCÊ É SURDO? EU DISSE... – Estefan pegou o mago pelo colarinho, o erguendo a alguns passos do chão e rosnou: - NÃO!

- Ma...ma...ma...maje... – Klaus tremeu e caiu no chão quando o Rei o soltou.

- SAIA DA MINHA FRENTE!

Talassa fechou a porta depois que o mago saiu. – Ele não vai desobedecer. Relaxe.

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Estefan lutou para acalmar a raiva, mas não conseguiu até incendiar a madeira na lareira. – Eu sei. Levi vai ficar de olho nele pra mim.

Talassa arquivou essa informação na mente, como sempre fazia. Preciso falar com Grant.

- Não me olhe assim. Sei que você não gosta dele, mas é um profissional excelente. – O

Rei comentou.

- Não gosto e não confio. Principalmente, não confio. – Talassa disse.

- E pensar que vocês já foram amigos... Não me diga que acredita nesses boatos tolos e cruéis?

- Se acredito ou não, não importa. Quando a sermos amigos... Acho que sempre fui mais sua amiga do que dele. Leviatã sempre foi difícil de lidar e meio esnobe.

- Talassa, minha amiga, releve. Ele é um felino de bom coração. Só precisa de alguns ajustes na vida. Acho que quando ele conseguir o filho que tanto quer, ele se ajeita na vida.

– Estefan realmente acreditava que um filho faria Levi voltar a ser aquele garoto doce que ele conheceu a muito tempo.

Talassa estremeceu, mas não disse mais nada. Ainda não é a hora...

- Majestade. Mandou me chamar? – Levi entrou, propositalmente ignorando Talassa.

Talassa saiu para terminar seu turno e procurar Grant, torcendo para ele ter conseguido o que procurava.

- Parece tenso. Saudades de sua filha? – Levi perguntou, sem tirar os olhos do mapa marcado com táticas de guerra por Tigrésius na reunião anterior.

- Sim... Minha princesinha viajou a um único dia e já estou sentindo falta daquela doida. É tão óbvio assim?

- Sim. Sempre que ela viaja você fica tenso assim. – Levi apontou para dois pontos que deveriam receber reforços mágicos e o Rei anotou. – Ela vai voltar logo, mas entendo.

Quando eu tiver um filho sei que não vou querer me afastar nem por um segundo.

- Você vai ser um bom pai, amigo, mas não seria melhor casar antes ao invés de só ir tentando com algumas moças?

- Não. Ainda não. Quero casar com uma felina perfeita... – Levi quase acrescentou sem querer: como minha mãe. Para ser mãe de seu filho, bastava ser bonita, elegante, nobre e obediente. Até porque ele a mataria logo depois que seu filho nascesse, de qualquer forma.

- Entendo. Você quer se casar apenas com quem ame. – Estefan ficou emocionado imaginando que estava vendo um pouco de seu amigo, aquele doce menino que ele conheceu na infância.

Levi entendeu o que seu amigo estava pensando e não o desencorajou. Quanto mais Estefan se iludisse com ele, melhor para Levi. – Não quero esperar tanto para ter um filho. É

minha prioridade na vida pessoal.

- Então você continua tentando.

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- Exato. Esse aqui é um bom lugar para criar um posto de controle. Sugestão sua? –

Levi sinalizou para o ponto, mesmo sabendo quem tinha sugerido, apenas para semear o reconhecimento.

- Não. Ideia de Tigrésius. – Estefan disse. Mesmo não gostando e não confiando em seu primo, ele tinha que reconhecer que Tigrésius era um militar formidável. – Levi, preciso da sua opinião. Eu sei que você e Tigrésius são amigos, mas sei que você é profissional e imparcial. Preciso da sua opinião sincera.

- Não sei se somos amigos. Acho que somos apenas companheiros profissionais. Gosto da capacidade prática dele ver os problemas, inteligência e sua lealdade. – Levi disse o que sabia que Estefan queria ouvir. – Sempre pode contar com minha sinceridade, sabe disso.

- Eu sei. Os membros do Conselho e vários nobres, até minha esposa, têm indicado ele como futuro General das Forças Tiger.

- O velho General tem um aprendiz a décadas. – Levi comentou para não demonstrar sua felicidade. Suas armações pra colocar Tigrésius ainda mais em evidência estava indo melhor do que ele imaginava.

- Sim, mas não acredito que ele assuma. O felino está adoecendo com muita frequência, inclusive psicologicamente.

- Mesmo? Traumas de guerra, talvez? – Levi fingiu surpresa e lamento. Ele não tinha nada contra o jovem, nem lembrava o nome dele, mas vinha o envenenando com ajuda de alguns aliados e causando fortes pesadelos para tirá-lo do caminho de Tigrésius. Enquanto isso, Tigrésius vinha ameaçando Klaus depois de descobrir alguns segredos comprometedores, assim o tirando do caminho de Levi.

- Ninguém sabe, mas é bem possível.

- Lamentável. Ele parece ser um felino decente. – Levi balançou a cabeça tristemente.

– Tigrésius parece uma escolha sensata. Mas não conheço os números totais de sucesso em batalha para dar uma ideia mais concreta.

O típico cauteloso e inteligente Levi. Estefan sorriu para o amigo. – Claro, mas o que quero saber é se você apoiaria...

- Majestade, eu sou um mago, o segundo em comando do meu clã, vou apoiar qualquer decisão sua e seus aliados. Tigrésius é leal e isso pra mim já vale qualquer apoio.

- Eu confesso que tinha dúvidas sobre isso até vocês se tornarem mais próximos. Sei que você valoriza a lealdade acima de tudo.

- Seu primo pode ser um pouco louco, mas um guerreiro leal ao seu Rei e seu povo.

Disso não tenho nenhuma dúvida.

- Obrigado, Levi. Sua opinião é importante pra mim. Apesar de não concordarmos em tudo, você é como um irmão pra mim. Agora que Corel não está entre nós, você é o mais perto de um irmão que ainda tenho.

- A recíproca é verdadeira, majestade. – Levi respondeu tão visivelmente emocionado que você nunca duvidaria dele.

- Espero que você produza logo um mini Leviatã. Quero mimar meu sobrinho postiço.

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Levi sorriu. – Vou ver aquela moça, irmã daquela condessa.

- Eu sabia, seu malandro! – Estefan riu e deu um tapinha no ombro do amigo. – Ela ficou babando por você nas últimas festas aqui.

- Eu resolvi dar uma chance. Ela sabe que não quero compromisso agora, apenas meu filho e ela ficou bem animada com a ideia de ser mãe do filho de um mago.

- Depois que o marido morreu, acho que ela não tem mesmo interesse em se casar por um tempo. O marido dela não podia ter filhos e a coitada sofreu por isso. Vocês vão se entender bem nisso. Vou fazer uma oferenda à Kallisti para que vocês tenham logo um filho ou uma filha.

- Eu agradeço. – Levi disse enquanto rezava mentalmente para que não fosse pai de uma menina, afinal ele queria um filho guerreiro e mago. E uma felina guerreira era algo que ele proibiria se um dia tivesse poder para tanto. – Vou encontra-la na mansão do litoral.

~o o~

- Cala a boca, idiota. Que menina mais chata. – Tigrésius vestiu a roupa e saiu, trancando o quarto no porão.

- Está viciado nela. – Levi comentou na sala.

- Não. Sabe que meu único vício é a Khara. Essas aí servem pra passar um tempo. –

Tigrésius sentou na frente do amigo e lhe entregou uma pasta com vários documentos. –

Seu pai conseguiu.

- Filho de mil rameiras pestilentas! – Levi murmurou. – Talassa já sabe?

- Não. E nem vai saber. Ela foi enviada para uma missão na fronteira. Já mandei um espião dar fim nela. O Reizinho caiu?

- Sim. Acha que a imbecil da filha dele está na mansão da amiguinha. Os leoninos já estão a caminho de lá.

- Achei que eles não iriam cair tão fácil no papo de que tem armas mágicas ocultas lá.

- A ambição e a vontade irracional de nos vencer os torna burros. Quando atacarem a mansão, as bombas serão detonadas lá dentro e a culpa cairá sobre eles. Depois é só espalhar a história da fuga da molóide com um leonino e pronto.

- E se os leoninos negarem?

- E quem vai acreditar ou mesmo lhes dar ouvidos? Além do mais, vai servir pro Rei parar de tentar fazer amizade com aquele povinho bárbaro por tempo suficiente para seu casamento. Convencer Ilena não vai ser difícil. Aquela ali venderia a própria alma por riqueza. Vai entregar Hunna pra você facilmente.

- Se Estefan me der o comando das Forças Tiger...

- Ele vai. Estive conversando com ele. Mande Grant para o litoral, use o truque que falei. Ele vai morder a isca. Agora, onde está o garoto?

- Você é que está viciado no meu escravo. – Tigrésius sorriu. – Ele está no quarto de hóspedes te aguardando como sempre. Por que não leva ele? Eu te dou de presente.

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- Não. Chamaria muita atenção. Vou me distrair um pouco com meu garoto. Você aproveite sua princesinha pela.... Quantas vezes você já transou com ela?

- 137 desde que ela chegou, a 26 horas. Precisa ver... Acho que a pirralha até gosta, mas não quer admitir.

- Provável. Elas gritam, esperneiam, mas gostam.

- Quer pegar ela um pouco? A filha de Estefan até que não é inútil, pelo menos nisso.

- Não. Prefiro o garoto. – Levi saiu para encontrar o servo nu em sua cama.

O garoto correu, ajoelhou aos pés de Levi, abraçando suas pernas e beijando seus pés.

Por pior que fosse, pelo menos Levi o alimentava e tinha impedido que Tigrésius batesse mais nele, o que criou quase uma dependência bizarra na mente do menino desde o dia que ele entregara a mensagem na casa do mago e recebera uma fruta, depois de três dias sem comida.

- Meu senhor...

- Sentiu minha falta? – Levi colocou um pé no peito do garoto o empurrando para trás, fazendo ele se sentar no chão.

- Sim, meu senhor. Sabe que sempre o aguardo ansiosamente.

- Bom. Vá pra cama do jeito que você sabe que gosto.

O garoto se virou, ficando de quatro e indo assim para a cama.

- Espero que esteja pronto, rapaz. Vamos nos divertir muito porque terei que viajar amanhã e vou ficar alguns dias fora. – Levi disse, amando o olhar triste do menino por saber que seu “protetor” ficaria longe.

~o o~

- Poderia falar com Talassa, por favor? – Grant pediu na portaria.

O felino estava magro, abatido, cansado.

- Ela está em uma missão, senhor. – O guarda disse e estranhou o estado do felino que sempre fora forte, apesar da idade. – Posso ajudar? Se quiser, posso chamar o Rei.

Grant pensou por um segundo, mas Talassa tinha razão. Era melhor os dois falarem com ele juntos e com todas as provas em mãos.

- Não. Eu volto daqui a alguns dias. Poderia só avisar pra ela que fui viajar para buscar um... Um amigo nosso?

- Sim, senhor. Tem certeza que não prefere pelo menos descansar um pouco, senhor?

- Sim, sim. Obrigado. – Grant saiu, temendo ver Estefan por acidente.

O Rei perguntaria sobre seu estado, se preocuparia e Grant não sabia se conseguiria manter segredo sobre todas as atrocidades que descobrira do filho desde que o vira sair do palácio de Tigrésius. Um pobre escravo, cheio de marcas recentes de chicotadas pelo corpo, praticamente nu, com olhos vidrados, se jogara aos pés de Levi, implorando para ser possuído de novo só mais uma vez. O sangue que escorria pelas pernas do garoto que não devia ter mais de 8 anos fez Grant quase vomitar com o absurdo da cena. Quando Levi dissera mais tarde naquele dia que poderia ser pai muito em breve, sempre se referindo ao

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futuro filho como um menino, Grant decidiu investigar todos aqueles boatos absurdos sobre o filho.

Infelizmente, não eram boatos. Ninguém queria testemunhar contra Levi. As pessoas tinham mais medo do mago do que de Tigrésius que já era conhecido por ser um sádico.

Grant sem querer esbarrou em um investigador enviado por Talassa e assim os dois uniram forças. Eles tinham algumas provas circunstanciais, mas não queriam mostrar ao Rei que dificilmente iria contra seu amigo, principalmente depois da morte de Corel, e ainda alertariam Levi. No entanto, sua sorte tinha mudado. Uma jovem que fora abusada por Levi estava vivendo no litoral junto com um rapaz que também fora abusado pelo mago. Ambos tinham conseguido contactar Grant a alguns dias e queriam conversar. Com sorte, eles testemunhariam perante o Rei.

~o o~

Uma batalha entre os leoninos e os Tiger não era novidade e Talassa estava cortando alguns inimigos facilmente. Até que o ar parou em seus pulmões. Não. Não o ar. Seus pulmões é que pararam. Tudo ficou escuro e ela caiu.

Uma espada leonina ficou presa em seu pescoço, cravada por trás, a ponta saindo pela frente de sua garganta. Qual leonino a matara? Naquela confusão, ninguém viu.

~o o~

Enquanto Talassa caía no campo de batalha, a princesa Siara morria enquanto Tigrésius a penetrava feito louco, não parando nem mesmo depois de sua morte. Depois que a jovem morreu, ele ainda a possuiu mais duas vezes antes de finalmente deixar o corpo mordido, cortado e queimado descansar em paz.

Na manhã seguinte ele contou em meio a gargalhadas para Levi como a menina tinha morrido, a chamando de fraca e coisas piores. Assim que Levi partiu para o litoral, o ataque na mansão onde a amiga de Siara estava bêbada e drogada a dias aconteceu. Os leoninos entraram no terreno e mataram os guardas, visando tirá-los do caminho e seguir até os porões onde informações roubadas do escritório de Klaus mostravam armas biológicas ocultas ali. A ideia era que essas armas fossem usadas contra os leoninos, mas, como Estefan não havia aprovado, o mago tinha ocultado elas até conseguir a aprovação. Agora os leoninos as roubariam e jogaria contra os Tiger em batalhas.

No entanto, assim que passaram de um determinado ponto no perímetro, o local inteiro explodiu, jogando tanto os nobres Tiger e seus servos, quanto os leoninos longe, em mil pedaços. O rei leonino que liderava aquela operação tática, sua especialidade, acabou morrendo nessa armadilha. Seu filho, o jovem Lordok, assumiu o trono acreditando que tudo fora uma armação de Estefan, o que acabou com qualquer chance de aliança entre os reinos.

Isso até anos depois quando ele descobriu a armação de Levi e Tigrésius e decidiu invadir a capital para dar fim nos dois. Ele não conseguiu vingar seu pai naquela noite, mas

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acabou encontrando uma Tiger grávida de gêmeos e uma serva que seria sua amada esposa no futuro.

~o o~

Grant entrou bateu na porta da pequena casa, mas, percebendo que ela estava aberta e ninguém respondia, ele decidiu entrar para não ficar exposto na rua onde todo mundo podia vê-lo. Ele nunca fora ali, mas Levi governava aquela parte do reino e ele não queria arriscar.

Ao entrar, um mau pressentimento o atingiu. A casa estava em perfeita ordem, tudo tão arrumado que era....esquisito.

Quando ele pensou em se virar e sair, uma picada o atingiu no pescoço e uma voz sussurrou. – O Barão Leviatã envia seus cumprimentos.

Grant caiu com um baque no tapete velho.

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Capítulo 06

- Acorda! – Levi rosnou, chutando a cabeça do Tiger mais velho no chão.

Grant demorou um pouco para entender o que tinha acontecido, mas quando puxou os braços e pernas e sentiu as amarras, um misto de raiva e medo o atingiu. Ele começou a se debater, deitado de lado no chão, tentando inutilmente se soltar, e percebendo que estava totalmente nu.

- Me solta, garoto!

Levi andou ao redor de Grant, calmamente lendo as anotações em suas mãos. –

Testemunhos de crueldade infantil, blá, blá, blá... O medo em si é uma prova...blá, blá, blá...

Registros de horários... Olha só, papai, andou me seguindo? Pare de se debater, traidor idiota. Não percebe que não vai escapar de mim?

- Pare com essa brincadeira sem graça, garoto, e me solte! – Grant nunca tinha falado tão bravo com o filho.

- Brincadeira? Parece que a inteligência eu herdei de minha mãe. – Levi agachou na frente da cabeça de Grant e cutucou o meio da testa do pai enquanto falava: - Porque você colocou nessa cabecinha vazia que podia me enfrentar?

- Levi, eu sou seu pai. Você não vai fazer nada contra mim. Me ofender e me assustar.

É só isso que você quer.

- É mesmo? E o que te faz pensar isso?

- Levi, você ainda pode melhorar. Podemos tentar alguma ajuda, não sei, talvez colocar você numa dessas viagens de purificação nos templos dos Aneis Anuin e as Luas Irmãs...

- Eu não preciso de ajuda!

- Claro que precisa, seu garoto tolo! Você vem abusando de crianças! Matando várias delas e se divertindo com isso! Você causa mais medo nas pessoas pobres do que seu amigo, aquele maníaco do Tigrésius! Filho, isso não é normal! Você precisa se tratar!

Levi ergueu o olhar para alguém em pé do outro lado de seu pai e sorriu de um jeito que fez Grant gelar.

- Poxa... E eu achando que seu pai me adorava, afinal sou seu melhor amigo. –

Tigrésius riu alto.

- Que triste. – Levi debochou, sorrindo de um jeito assustador para Tigrésius. – O papai não gosta de você.

Tigrésius colocou a mão no peito dramaticamente. – Acho que feriu meu coração.

- Você precisaria ter um coração, seu doente! – Grant gritou e sentiu um pé sobre sua cabeça, a empurrando com força no chão. – Levi, filho, me escuta.

- Já te escutei demais. Suas palavras não têm o menor valor pra mim. Suas ações sim.

Você traiu minha mãe grávida e doente, não usou sua amizade com aquela sacerdotisa sem graça para subir na vida e me dar uma infância melhor, me fez crescer como um pobre quando meu intelecto e poder deviam ser mais bem valorizados. Eu que lutei para nos dar uma vida digna, te dei uma vida nobre, me tornei um Tiger poderoso e membro da nobreza.

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- Eu nunca ped... – Grant começou, mas levou um soco nas costas que fez o ar fugir de seus pulmões.

- Não interrompa, traidor sem classe! - Tigrésius rosnou.

Levi continuou impassível: - Me deixou sozinho como se não pudesse esperar mais nenhum segundo para se livrar de mim. Não satisfeito com tudo isso, armou para me trair e entregar para o fraco do Estefan. Isso, papaizinho, eu não vou perdoar.

- Levi...

O pé que estava sobre sua cabeça saiu e o atingiu com um chute nas costelas.

- Barão Leviatã, para você, ralé. – Tigrésius corrigiu e colocou o pé sobre a cabeça de Grant de novo.

- Vocês não... – Grant cuspiu sangue. – Essa ceninha não vai adiantar. Eu não sou o único investigando seus crimes.

- Ah, Tigrésius, ele não é o único. – Levi brincou fingindo surpresa.

- Oh! Que surpreendente. Será que devemos ter medo? – Tigrésius sorriu.

- Acho que não. Mortos não falam. – Levi respondeu.

- Você não sabe...

Com um simples olhar de Levi, Tigrésius tirou o pé de cima de Grant, pegou a espada e cortou as cordas que prendiam os pés de Grant. Levi segurou os cabelos de Grant o erguendo o suficiente para olhar em seus olhos.

- Deixa eu falar de forma que alguém com seu intelecto inferior entenda. – Levi disse com um olhar frio. – Aquela vadia da Talassa está morta, assim como sua defensora, aquela princesinha tola.

- Por Kallisti... O que você fez....? – Grant sentiu a morte das duas felinas que ele tanto gostava, mas também sentiu a de seu filho porque, naquele momento, ele percebeu que Levi, o filho que ele amou, tinha morrido a muito tempo. Aquele era apenas um monstro que ele não quis enxergar.

- Levanta. – Levi ordenou e, como Grant ainda parecia chocado e sem reação, ele deu uma joelhada no peito dele. – Eu mandei levantar.

Grant se levantou com dificuldade, gemendo de dor pelo corpo todo, não sabendo que tinha levado alguns golpes de Levi e Tigrésius enquanto estava desmaiado. Levi acenou e Tigrésius colocou a espada no pescoço de Grant, segurando as cordas que prendiam suas mãos por trás.

- Anda. – Tigrésius disse com falsa calma.

Grant começou a andar, tremendo de frio e medo.

- Eu só te dei alguns golpes, Levi foi bem mais incisivo nessa arte. – Tigrésius sussurrou cruelmente no ouvido de Grant que se recusou a acreditar nisso. – Mas relaxe. Ele é um bom Tiger. Nem me deixou enfiar um cabo de vassoura na sua bunda.

- Não deixei porque nem vale o esforço. – Levi debochou ao lado de Grant.

- Você... – A voz de Grant sumiu com a dor na alma.

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Eles caminharam até os fundos de uma casa velha, abandonada e fria. O céu não tinha nenhuma nuvem, repleto de estrelas, os anéis Anuin brilhando fracamente com Éris, a grande lua cor de fogo, perto do horizonte. Descendo uma pequena rampa de pedra até as areias brancas, Grant pôde ver dois barcos pequenos perto da água calma do mar. Eles pararam em frente ao barco e Levi tirou dois galões com um cheiro forte de mel potencializado, um tipo de encantamento que tornava o mel 50% mais atrativo a qualquer animal por ser mais nutritivo e com aroma mais forte.

- O que você vai fazer? – Grant tremeu e o medo emanou de sua voz.

Tigrésius sentiu um enorme prazer com o medo do velho Tiger. Levi sentiu algo semelhante, mas menos intenso do que seu amigo.

- Vou apagar você da minha vida e do meu futuro filho. Sua traição me deu o direito de nos polpar da vergonha de sua existência. – Levi disse com a mesma calma de alguém falando sobre o clima.

- Me apagar? Eu sou uma vergonha? – O medo de Grant se misturou com a revolta. –

Você é a vergonha da minha família! Da família da sua mãe!

O soco veio tão rápido que Grant nem percebeu até ser atingido e caiu para trás, de costas dentro de um dos barcos.

- Nunca! – Levi rosnou, todos os pelos de seu corpo eriçados ao máximo. – Nunca mais você vai falar da minha mãe, seu merda! Ela era perfeita! Uma dama que merecia toda a riqueza deste mundo, mas você sempre foi um ninguém, incompetente, burro demais para dar o que ela merecia! O que EU merecia! Amarre essa coisa, Tigrésius.

Tigrésius obdeceu apenas porque entendeu. Levi não conseguiria se aproximar de Grant sem o matar rapidamente naquele momento. E a verdade é que Tigrésius preferia o fim que eles tinham planejado para o velho Tiger. No caso, que Levi tinha planejado ne.

Grant se debateu enquanto Levi o olhava com um ódio digno de um demônio das lendas, mas Tigrésius era muito mais forte e não hesitava em distribuir golpes para facilitar seu trabalho. De dentro do outro barco, Tigrésius tirou uma pequena valise de onde tirou uma grossa agulha e um tipo de fio semitransparente, fazendo questão de colocar à vista de Grant para aterrorizá-lo.

De barriga para cima, amarrado de braços e pernas abertas presas de forma que metade de seus braços e pernas ficavam para fora do barco, assim como sua cabeça, do pescoço para cima, Grant se perguntou se barcos tão pequenos tinham sido encomendados especificamente para isso, o que só o convenceu ainda mais que Levi não tinha mesmo concerto. Ele viu Tigrésius tirar uma maçã grande da valise e morder com um sorriso sádico no rosto, encarando Grant. Com a maçã pela metade, ele derramou bastante mel sobre a fruta, sempre focado em sua vítima. Assoviando uma canção de ninar que Grant cantava para ele quando criança e que aprendeu com Lavínia, Levi colocou o fio dentro da abertura da agulha e deu um pequeno no na ponta e se virou para Grant que já sentia uma dor lancinante pelas agressões e a posição no barco.

- Levi...filho... o que... – Grant gaguejou, com os olhos marejados.

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- Você nunca vai me chamar assim de novo, traidor!

- Seu moleque ingrato! Você nunca vai ser pai nesta vida! Você não merece essa bênção, seu monstro abusador! Eu posso até morrer, mas estarei ao lado de Kallisti pedindo para que você nunca seja pai! NUNCA! – Grant amaldiçoou seu filho e Levi sentiu um calafrio, mas logo descartou a “fraqueza”.

- Tigrésius. – Levi se aproximou do pai com um olhar que tinha apenas ódio estampado.

Tigrésius pegou a fruta melecada em cima do outro barco e caminhou sorridente para o pai de seu aliado. – Abra a boca, por favor.

Grant apertou os lábios com força, o que fez Tigrésius sorrir ainda mais e forçar a mandíbula do velho a se abrir, quase quebrando a mandíbula dele com a força.

Conseguindo abrir a boca de Grant, Tigrésius enfiou a maçã completamente, quebrando um dente dele no processo, e fechando a boca do felino ao pressionar as mandíbulas com força. Levi que observava a tudo impassível, se aproximou e colocou a agulha dos lábios do pai.

- Você não vai falar com ninguém nem vivo, nem morto, Grant. – Levi disse e enfiou a agulha nos lábios de Grant que gritou sem palavras, sentindo a dor das agulhadas, da posição no barco, do aperto forte de Tigrésius que usava o máximo da força de seu corpo, da mágoa, do luto por suas amigas e por aquelas crianças e felinas que seu filho destruiu e ainda destruiria, pelas agressões e por sua mulher que morreu para dar a vida a um monstro.

Sem pressa, Levi costurou a boca de seu pai, dando duas voltas na costura só por garantia. Quando terminou, Tigrésius pegou os galões de mel potencializado e entregou para Levi. Cada um assumiu um lado do corpo de Grant que tentava em vão se debater e derramaram todo o mel sobre o corpo do felino, tendo cuidado para não deixar cair nenhuma gota no focinho dele para não afoga-lo. Grant, apesar da bizarrice do momento, se sentiu aliviado quando os dois Tiger se afastaram. Mas o alívio durou apenas alguns segundos. Os dois voltaram trazendo o outro barco e colocando sobre ele enquanto o Grant tentava gritar, se debater, conseguindo mover apenas a barriga e o quadril, causando uma dor infernal em si mesmo. O barco superior tinha aberturas circulares que se encaixavam perfeitamente nos braços, pernas e pescoço dele, deixando um pequeno vão nessas aberturas que não encostavam em sua pele. Grant não sabia, mas odiaria aquelas aberturas em breve.

Levi se aproximou da cabeça do pai, acariciando seus cabelos. Porém, para Grant, aquele toque agora parecia a pior ofensa possível. – Não se preocupe, velhote. No fim do dia, Estefan terá colocado um prêmio sobre sua cabeça por ter ajudado a filha dele a fugir com um leonino. Tiger inteira vai te odiar e me apoiar quando eu decidir apagar seu nome de qualquer registro.

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- É uma pena que aquela princesinha fogosa morreu depois de não aguentar algumas enfiadas. Eu planejava fazer você comer ela também com uma poçãozinha. – Tigrésius disse ao lado de Levi. – Você teria curtido aquela fraca estúpida. Era tão gostosinha.

Levi deu um passo para trás enquanto Tigrésius falava e observou se as amarras estavam firmes. Ao voltar ele falou por trás de Tigrésius, confirmando que estava tudo pronto. Por um segundo, Grant viu o filho como um espírito maligno influenciando Tigrésius, mas a visão logo normalizou.

- Boa estadia no esquecimento, Grant. – Levi disse e os dois Tiger foram para os pés de Grant, empurrando o barco para a água.

Lágrimas caíram se misturando com o mel e o sangue no rosto de Grant enquanto ele via o nascer do sol de cabeça para baixo em seu ângulo de visão. Levi e Tigrésius voltaram para a varanda dos fundos da casa onde arrumaram uma mesa e cadeiras confortáveis, ficando ali o dia todo observando o barco enquanto conversavam, riam, jogavam, entravam na casa para descansar... Um encontro normal de amigos, se não fosse a cena assustadora no mar.

Durante o dia todo o sol brilhou forte naquele verão, fazendo a pele de Grant cozinhar no calor escaldando, seus olhos queimarem. Mas isso não era o pior. O mel e a fruta em sua boca atraíram inúmeros insetos, alguns venenosos, das proximidades a ponto de seus membros fora do barco, inclusive seu rosto, ficarem cobertos por aqueles pequenos bichinhos, andando, picando, arrancando a pele. Logo os insetos descobriram as aberturas do barco em seus membros e entraram invadindo sem corpo dentro dos barcos, entrando em locais indizíveis. Era o meio da tarde quando Grant oscilava entre a dor, a febre alta, a insolação2.

Em um pequeno momento de lucidez, entre visões e sonhos febris com sua esposa falecida, ele gritou mentalmente: Já chega! Me leve, Kallisti! Me leve embora deste tormento! POR FAVOR!

Ele teria chorado se ainda tivesse alguma umidade em seus olhos. Mas não precisava.

Talvez ouvindo suas preces, um animal marinho enorme tão raro que sua existência era uma lenda, uma mistura de baleia gigante e polvo, surgiu por baixo da água com seus tentáculos, puxando o barco para baixo de uma única vez. Grant se afogou tão rápido em meio a outra alucinação que nem percebeu o que tinha acontecido. No passado quando ele era comum, esse animal era chamado pelos antigos felinos de Liviatã, que significa

“manipulador da destruição”.

~o o~

2 Escafismo: pode parecer surto desta autora que vos fala, mas essa forma de execução existiu, embora às vezes seja tratada como lenda. Muito resumidamente, escafismo é um tipo de execução-tortura descrito como prendendo uma pessoa entre dois barcos, com membros para fora, repletos de mel para atrair moscas e todo tipo de animais e insetos que devorariam a vítima devagar.

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Décadas mais tarde, Levi voltava de uma viagem onde finalmente encontrara informações sobre os gêmeos de Tigrésius com a primeira esposa, Hunna, que agora vivia com os selvagens leoninos.

Feliz por finalmente encontrar seu antigo escravo, um rapaz extremamente leal e servil a quem Levi conquistara apenas por lhe alimentar quando seu antigo dono, o agora Rei Tigrésius, não dava comida a dias. O rapaz se tornara tão dependente, tão....doente, que implorava pelas agressões do mago que ele chamava de “carícias”. Levi fazia tudo o que queria, às vezes deixando o garoto ferido de cama por dias, mas sempre cuidando dele.

Afinal ele não queria perder seu brinquedo favorito. Mas de vez em quando errava a mão com o rapaz, descontando sua frustração por ainda não ter um filho para herdar sua riqueza e ser um espelho do que ele era.

- Tigrésius? – Levi estranhou a presença do Rei em seu quarto. À propósito, agora Levi vivia no palácio como o mago chefe e principal conselheiro do Rei, muitas vezes comemorando com o aliado e Khara a morte de Estefan a alguns anos e de Ilena algum tempo depois.

- Amigo, eu lamento, mas seu brinquedinho morreu. – Tigrésius disse, escondendo parte de sua satisfação pela dor que isso seria para Levi. Ambos conheciam seus sadismos e tentavam amenizar quando se voltava entre eles.

- O que você fez?

- Ele passou na minha frente quando eu estava falando com uma serva sobre aquela estúpida que Eltar defendia. Acredita que ela veio reclamar porque fiz meu filho aprender a ser macho e dar um fim na queridinha dele?

- Aí você descontou a raiva no meu servo? Tigrésius o que nós conversamos sobre interferir no que é pessoal para o outro?

- Eu sei, amigo, eu sei. Olha, mas eu tenho uma proposta para me desculpar com você.

Que tal uma mansão nos campos florêncios, uma quantia em joias e um novo amante?

- Que novo amante? Aquele garoto fazia tudo que eu queria, caramba!

- Oh, eu sei. Mas sei também que há um garoto neste palácio que te excita e você está doido de vontade de dar umas metidas nele. – Tigrésius sorriu e, como aconteceu com todos os loucos, eles se entenderam no olhar.

- Não está falando sério?

- Porque não? Eltar precisa de uma lição pra aprender a ser macho. Se ele conseguir se defender de você, bem, azar o seu. Mas se não, você terá uma putinha nova pra ensinar a fazer tudo que você gosta. Ele é pequeno, um filhotinho do jeito que você gosta, mais novo do que esse seu servo que tanto te deu prazer. Ele vai aprender rápido, basta você não pegar leve com ele. – Tigrésius disse, internamente se divertindo com a dor que isso causaria ao próprio filho e herdeiro.

- Ele me agrada, nunca neguei isso pra você. Se eu pegar ele uma vez, esse garoto será meu sempre. Você entende isso?

L i k a s t í a 0 . 5 - L e v i a t ã | 51

- Claro amigo. Aproveita e ensina algumas coisas pra ele também. Não tenho paciência com aquele fraco. Ele está no quarto dele choramingando por causa do pequeno ferimento que fiz na carinha de boneca dele. Use a passagem secreta pra lá. Você é ótimo com esses labirintos e isso vai assustar o moleque logo de cara. Quem sabe assim ele aprende a ficar esperto. Então? Temos um acordo?

Levi sentia o ouvido zumbir de emoção por finalmente colocar as mãos em Eltar. –

Sim.

~o o~

Você nunca vai ser pai nesta vida! Você não merece essa bênção, seu monstro abusador!

Desde que salvara a vida de Kursk, desde que o vira pela primeira vez, as palavras de seu pai ecoavam de tempos em tempos na mente de Levi. Agora, vendo o garoto dormir depois de ter feito um acordo com ele, Levi sentia que finalmente tinha um filho. Ele podia estar morto, mas o filho renegado de Eltar, o príncipe criado por aquela Rainha estúpida, filha de Tigrésius, um dia seria Rei e ele, Levi, um fantasma antinatural, um monstro sombrio e invisível aos olhos do mundo, seria rei ao lado de seu filho, seu herdeiro escolhido: Kursk Tiger.

Fim...

Pelo menos até Likastía 1 e 2

~o o~

L i k a s t í a 0 . 5 - L e v i a t ã | 52

Bônus da Autora

Arte de capa (2119 x 1415)

https://i.imgur.com/ME625Lk.png

Paisagem (2119 x 1415)

https://i.imgur.com/YWfNqox.png

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