Nem jOICE, nem gOETHE
nem romance
nem AMOR
nem eterno.
futuro
PRESENTE
passado.
O
T
E
M
P
O nunca existiu
NEM A SOMBRA QUE FORMA A IMAGEM “DO POETA”, QUE ME OLHA
COM SEU OLHAR
INDIFERENTE.
nUNCA houve EMÍLIA
nem seu horror a gatos.
Nunca houve uma VOYAGER, desintegrando-se em algum astro longínquo.
nUNCA existiram ET’s captando
nossOs SINAIS.
nunca existIU o ALPHA e o ÔMEGA.
PORQUE,
quando não houver mais
o SISTEMA SOLAR
os DIAS e as NOITES
quando não houver mais,
nenhum traço de nossa EXISTÊNCIA, sequer mesmo, a mais remota
ESPERANÇA (e esse MOMENTO chegará),
então FINALMENTE,
nem VOCÊ nem EU.
NINGUÉM.
Nem Deus.
Nunca, Nunca ExistimoS.
Não mais.
Sons infectos
ele gosta de
acariciar os desalentos
animar a loucura
elogiar o sofrimento
e saudar os desafetos
Escravo
1 escravo
o que eu era
edamesmaforma
nanico magro e desprezível. . se comparado a grandeza da forca esse desgraçado
gostava de ver o horror dos inocentes
e conseguiu convencer meu pai
a me mandar ir trabalhar no restaurante
dele
era somente aos fins de semana
sábado e domingo
eu tinha de trabalhar na cozinha.
lavar dezenas de panelas
cujos tamanhos rivalizam com o meu.
encrespadas de comida
a larva da merda do que
de uma forma ou outra
viriam a ser.
depois, não contente,
me mandava para a
“sala de carne”
eu tinha que limpar os espetos de churrasco
centenas deles
e sempre vinham mais
minha roupa,
meu avental e camisa e sapatos e meias
ficavam ENCHARCADOS com aquele caldo sujo de carne.
ele me mandava para a casa de carnes
onde era baixa a temperatura
depois,
como se não fosse nada demais,
me mandava para a churrasqueira
por fim,
ele me mandava limpar as latas de lixo
eram galões de cerca de um metro e meio de altura
originalmente usados para acondicionar azeitonas
pretas ou verdes
(vindas da VELHA Espanha)
eu tinha que lavá-los
com uma escova,
água e sabão.
minhas mãos não alcançavam o fundo.
eu tinha onze anos
e os finais de semana eram meu pesadelo
tive amigdalite
e com onze anos,
desenvolvi um tumor (benigno)
no pescoço
só o retirei aos vinte anos,
graças ao plano de saúde da empresa em que eu
trabalhava.
“quatro horas de cirurgia. O bisturi ficou a meio centímetro da jugular”, disse o cirurgião,
depois que acordei da geral.
aos 11 anos de idade,
começaram a aparecer pontos pretos na palma das minhas
mãos.
minha mãe finalmente acordou. . aquela retardada
mas foi ele quem me libertou.
meu cunhado
o desgraçado nunca colocou qualquer dos filhos para
trabalhar
de vez em quando fingia.
Fingiam.
agora,
se comem vivos
uns aos outros,
eles,
os escravos.
Dentro do formigueiro
Eu estava cagando.
Logo depois
pensei em tomar banho
abri a torneira do chuveiro
. . para logo depois decidir que ainda não era a hora.
Continuei sentado na privada.
Me limpava.
Olhei para baixo
para o piso branco.
Tinha uma formiga
nadando(?)
naquela água.
Naquele mar.
Depois de muito esforço,
conseguiu salvar-se do
Dilúvio.
. .e eu nem sabia que ela estava ali.
Estava me cagando.
Os cientistas dizem que
formigas não pensam.
Nada de fogo, de luz,
de deuses
Nem de leis.
Nada de filosofia, estado ou ciência.
Nada de literatura
Nada de poemas.
Nenhum milagre.
Nenhum céu.
Acho que os cientistas têm razão:
são mais inteligentes.
Sim, é um casamento
Apenasmaisumcasamento
Ela ainda é minha mulher
E reclama um pouco
Só um pouco, não é mesmo?
Seus ouvidos?
Sim,
ela escuta muito bem
Por isso devo escrever baixinho
Mas ela ouve mesmo assim.
E quando estamos juntos
e não é sempre
(sempre menos do que (eu) gostaria)
é sempre suave.
Mesmo nas piores discussões
Sim, eu estou aqui do seu lado
Agora
Eu não a culpo
Você também não me culpa,
paguei o seu preço, não é mesmo?
Faço o possível,
e todos os dias,
quando me sento ao seu lado,
você me lembra das palavras (não) ditas
em nosso primeiro encontro:
“Escreva agora ou cale-se para sempre”
Egon,
as diferentes religiões falam em
nos anularmos
em perdermos nosso
egoísmo.
Algumas falam
que
quando isso acontece
não mais
precisamos
Jesus citar
Outras falam
em
Nirvana
Deus, Energia,
Caos
Big-Bang
O que quer que seja
ESTOU aqui,
existe egoísmo maior
do que este?
– ele disse.
Eles não se dão conta
para eles,
tudo o que pertence ao passado
está morto
já não existe
todos os “velhos” estão mortos.
seus pais estão mortos.
não conversam com mortos.
todos eles são jovens
para eles,
tudo que é novo
é violento e agressivo
e dura muito pouco.
vivem o tempo do instinto.
todos estão tomados.
todos com armas na mão
esperando a morte
usando suas canetas
escrevendo suas últimas cartas.
Emilia, meu amor, vamos dançar uma valsa?
Minha esposa,
Ligou para mim.
Vive me ligando
Não para de falar no telefone.
iSSO me irrita:
viver
me ligando
aPENAS
mais um problema com o que se preocupar.
só mais uma dor de cabeça
(ai meu Deus! Oh cifrudo!)
mas é isso:
mulheres gostam de dividir seus problemas
em geral são tantos que não sobra muito
tempo para viver.
Eu estava no meio de um poema
quando ela me interrompeu.
Estava insegura, vive me ligando.
Não faço o mesmo
Prefiro o poema
mas acho, espero, prefiro,
que ela goste desse jeito.
Deste tipo de traição.
A coitada foi traída
Não por mim,
mas por todos aqueles que a fizeram acreditar no
preconceito
que existe em se achar que
todo poeta é romântico
Era a 1ª Expo Brasil-México
na escola.
Os alunos me pediram para escrever uma frase num bilhete.
Escrevi
“Gostaria de me ver acordado deste pesadelo”.
O bilhete foi parar num mural,
Junto com outras centenas deles.
Alguns dias depois fui chamado à diretoria:
reconheceu a minha letra.
Alguns professores, mais antigos,
também me odiavam.
Eu era novo na escola,
procurava me manter neutro.
Governo e direção, paisealunos.
Professores.
impossível se defender,
porradas de todos os lados.
A diretora me perguntou o que significava aquilo.
Mantive-me calado.
O que ela não foi capaz de
entender,
é que, seeutivesseescrito“PazeAmor”,
daria na mesma.
era para
ser uma
valsa
mas caiu no rio
o sujeito
que poderia
salvá-la, o salva-vidas,
foi o mesmo que a jogou.
esta
vida
que vocÊ
JULGA SUA
Esta
Vida
Que VocÊ
JULGA ÚNICA
é lambida
pelo mar do universo
de qual deles?
de qual caos?
Uma espécie
vencedora
dentre outras infinitas espécies
dentre outros infinitos
universos
somos apenascraca
do MAR
do CAOS.
este poema
Iié eieieieié
Iié eieieieié
É assim,
como essa música
catarral
ancestral e
diarréica
que vem o fluxo de
pensamentos, e
é assim, e por isso, que eu
me fecho
é assim que
se flecha
é assim que
eu fecho
este poema.
Este século
Este doce som
Este doce som que me atinge
É um silvo do inferno
Doce, agudo e infernal
Estas doces cores
Estas doces formas
Estes doces detalhes
Requinte
Classe
Irreal
Este século de vaidades femininas
E infantis
Este século de ídolos pré-púberes
A mente e o gosto do vazio
Do ridículo
Das maquiagens
Dos detalhes inventados
A marca Irreal Infantil Superficial
Deste século
Cobre uma grossa camada de vazio
De hipocrisia
De bestialidade
E qualquer coisa que se diga, que se fale
Verdadeiramente
É vista com desconfiança, quando não,
Sumariamente ridicularizada e banida
Um mundo feminino e infantil
de revistas de moda de roupas de gestos de bocas
de governos de palavras de bocas vazias
e de livros , que de tão hipócritas, e torpes,
tornam-se obscenos
Não conseguem enxergar,
nenhum nenhuma
Não conseguem enxergar nada além da escuridão
de seus próprios espelhos.
Nasci
no amparo maternal
uma maternidade para mães solteiras
até os vinte
vinte e cinco anos
minha mãe me dizia que eu havia nascido
no hospital são paulo
eu, claro
INGÊNUO
sempre acreditei
fui registrado como tendo
nascido
em 15/03 de
1972
Mas minha mãe sempre me jurou
que eu nasci no
dia 15/02 de
1972
às 05:30 da manhã.
Fico pensando no
Por quê?
Odeio meu pai
Mas é porque
ele me odeia
minha irmã, Cida,
abusou
SEXUALMENTE
De uma criança indefesa
me lemBRO BEM
eu tinha cinco ou sei anos
Agora
ela
éevangélica
Igreja Batista
Evangélicos Crentes choram à toa
U não
H oro
à-toa
quantos anos
ela tinha
quando fez aquilo comigo?
IDADE
suficiente para QUE
ELA E TODO
RESTO
DA minha
família (com exceção do meu irmão Claudomir)
queimem
no
Inferno
por todo o
RESTO
da
ETER
NA
IDAD. .
DESCARREGUE SEU ÓDIO NO
QUARTO ESCUROO PROGRESSO É UMA
TSUNAMI
UMA CATEDRAL PARA
VILLA–LOBOS
UM CÁLICE PARA OS QUE NASCERAM
CEDO DEMAIS.
Eu não
me esqueci,
O NÃO-POSITIVO DEU
UM TIRO NO
POETA CAIO BOV.
não tenho como.
Eu?
eu sonho com a frieza dos sentimentos
que não tenho.
sonho com faces frias e cálidas,
grandes seios e com bombas atômicas.
sonho com infernos terríveis
que torturam todos os meus desafetos
sonho
por toda a eternidade
sonho com a eternidade.
Você?
você pode errar à vontade
Deus?
deus errou quando nos criou
Eu sonho ser Deus
Todos sonham.
Eu sou terrível
meu cabelo está comprido
tento dividi-lo de lado
fico parecendo com aquelas
capas de cantores da jovemguarda
eles não cortavam o cabelo curto.
generais.
também não eram cabeludos
hippies.
não tinham o pensamento curto
mas também não pensavam.
“não somos conservadores!
somos românticos, somos roqueiros!”
. . mas lutar contra a ditadura?
Vandré e Buarque que se fudessem na Augusta a 120 por hora.
Não é mesmo,
meu bem.
NÃO! (PARE, AGORA!)
me vejo no espelho
corto eu mesmo algumas mechas
mudo o penteado
NÃO!
me pareço com
nada a não
ser
comigo mesmo.
“Antes só do que mal acompanhado”.
Um(a) caso(a) crítico(a)
umsujeito
uma pessoa
um(a) poeta
não deveria
NÃO DEVE
criticar
aberta e impunemente
todos(as) os(as)
críticos(as)
ele(a) se
esquece
que
ele(a) também
foi um
crítico(a)
do trabalho
artístico
dos(as) poetas
que,
um dia,
ele(a)provou.
Geografia Geral da União
esse escritório
de advocacia
havia contratato um geógrafo.
Isso mesmo
Era um japonês.
O sujeito trabalhava e era registrado como
geÓgrafo
(num escritório de advocacia!?)
Quando percebi, quase tropo Sei
era um grande escritório.
Certamente sabiam o que estavam fazendo.
Talvez estivessem
Pensando em contar com a colaboração de
novos especialistas
que
soubessem como
justificar
o alargamento
das fronteiras
dos direitos,
de
seus clientes.
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T
P
E
R
M
O--------------------------------------------------
M
E
agora, seis e pouco da manhã.
I
U
E--------------------------------------------------
N
E
M
I
A
-----------------
T
L
R
BA
H
Os minutos os segundos, até parecem
A
O
gotas
D E S
U O
R
Somos
partículas incriadas
as cordas vibrantes da Física
pedaços (in)conscientes do Universo
pipocos infinitesimais de existência,
encruados de Deus.
Estante
Joyce Bukowski Fante
Faulkner Espanca Wolfe
Singer Vidal Sabino
Diaféria de Drummond
a vida espalhada em livros
espalhados pelo
meu chão
percebo nesse
instante
que a literatura
fica na estante
eu não tenho estante
não literaturo
lixo.
Cada livro,
ocupa
o lugar que merece
na estante
que merece.
latinha de cerveja
minhasposa,
aquela raposa,
roubou o
pouco
de espaço que
eu
tinha na geladeira
acho que é quando,
uma das partes,
acha,
quer
morar dentro,
até mesmo dentro,
da geladeira
que o casamento,
provavelmente,
deve estar indo
direto para a Antártica.
Lembranças sujas
a viagem para o sítio do meu avô
o táxi do meu tio
o pé de jaca, tão alto,
o cheiro de café
as folhas no chão
eu correndo atrás dos pintinhos.
Matando-os.
A cobra-cega, com um grão de café na boca: tinha caído em sua toca.
Depois vieram muitas outras. .
Até que chegou a adolescência.
Passei grande parte da minha
adolescência
sem lembrar
Só depois de ter completado 18 anos
descobri o que era o sexo,
jamais o que era o sexo oposto.
Foi com uma puta.
Lembro, em especial, da boa música
desse início de juventude
Agora?
Agora estou adulto e meu médico me avisa pra tomar cuidado com o fígado.
Agora tenho que trabalhar,
me preocupar com as prestações do apartamento
com a conta de luz
e com a minha esposa,
Emília,
que avisa, pelo celular,
que já está
chegando.
Agora? Agora eu me alivio.
Lembro deste poema,
ele tem que,
maquinal
brilhante e
ridicularmente,
obrar.
De primeira mão
Mãos,
são bocas
com dentes sensíveis
é por isso
que diz
comumente
que se morre pela
mão
Marca ®egistrada
Quem
eu
sou?
existem árias
pos
sibili
dades
de
res
posta
VOCÊ acha Que®
EU é que vou saber?
Olho nos seus olhos
e escolho uma
delas
Escolho uma delas,
e me dis
fa®ço.
Estou na moda
eu estava indo
em direção ao
supermercado
estava de
chinelos havaianas
na calçada,
ao me ver passar,
aquela estúpida mulher
ela mudou
sua estúpida bolsa
de lado
pensou que eu fosse
um ladrão
pé de chinelo
Ulisses
Posso falar sobre essa chuva
Que cai lá fora
E que arde em mim,
me apagando.
Acabando com a minha angústia.
Como uma lágrima
me abençoando
Que eu continue escrevendo
Que eu fique em paz,
e não pense mais
mais em morte,
ou em loucura
Eu voltando Eu
A chuva dando forma
a uma forma de vida
sem forma
tento me distrair
e pego Ulisses
penso em Joyce
na viagem de seus personagens,
na beleza epopéica de um cidadão (in)comum
no cenário medíocre dos fatos
– não dos personagens –
de um único dia.
Depois volto a mim
na SãoPaulo-DublinTrieste-capitaldetodosospaiseseculturas
na literal-láctiolípsis-Uranolítera.
literatura
Depois volta a mim
ainda embriagado
nessadessa , desseleite,
dessa leitura.
Noite
Ela é única
Imprevisível como toda mulher
mas, no entanto,
silenciosa
às vezes um sussurro
às vezes um grito seco.
Dificilmente é um diálogo. Mesmoassim,
tudo o que ela diz,
costuma ser cortante e
profundo.
Nossos melhores instintos
Nossos instintos mais
animais e insubmissos