As Meninas que Vieram das Estrelas by Marcos Aragao Correia - HTML preview

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- Muito obrigado, senhor doutor. Tenha um bom dia.

Ijyu levanta-se com as meninas. Ao saírem, Yania lança um olhar de reprovação ao inspector e diz-lhe de forma audível:

- Mercenários…

- Anda! – sussurra Kami a Yania, puxando-lhe o braço.

O inspector ao ouvir aquilo vai atrás de Yania e agarra-lhe no outro braço com força.

- Com quem estás a falar pestinha?

- Consigo, porquê?

- Achas que isso são modos de falar com um agente da autoridade? –

perguntou ainda mais irritado.

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Marcos Aragão Correia

- E você, acha que isso são modos de falar com quem vos veio ajudar a descobrir uma criança desaparecida?

Vendo que o inspector não largava o braço de Yania, Ijyu provoca-lhe um forte choque eléctrico na mão gerado através de energia psíquica.

Imediatamente o inspector larga Yania, fi cando boquiaberto com o que lhe tinha acontecido.

Já lá fora, os três constatam que não havia nada a esperar da polícia.

Voltam à Praia da Luz, onde, já ao fi nal do dia, decidem dar uma longa caminhada descalços pelo areal.

- E agora Ijyu, o que podemos fazer? – pergunta Yania preocupada.

- Lembram-se do que a Lyndi me disse? Tenho que me concentrar de novo na minha intuição – responde enquanto fi tava o mar, fechando os olhos logo de seguida.

Kami fechou também os olhos, tentando sentir o que Lyndi iria aconselhar.

Contudo Yania repara que, não muito longe dali, um grupo de crianças pareciam estar a agredir uma outra que se encontrava a meio. Sem dizer nada, vai em direcção ao grupo.

Vê então que nove crianças, meninos com idades entre os 8 e os 10, estavam a rodear e a agredir um outro menino da mesma idade.

- Porquê estão a fazer isso? – pergunta Yania indignada.

- A fazer o quê? Estamos só a ensinar-lhe como dar socos! – responde um dos agressores.

- Sim, queres também aprender? – pergunta outro, dando de imediato um soco no braço esquerdo de Yania – É assim, viste? Os punhos bem cerrados, com os ossos dos dedos à frente. Assim magoa mais!

Yania foi apanhada de surpresa.

- Seus monstrinhos! Então vocês querem ensinar os outros a dar socos?

Então porque não demonstram em vós mesmos?

- Não tem tanta piada! – responde o que agrediu Yania, imediatamente seguido pelo riso de gozo dos outros.

Yania coloca-se ao lado do menino que estava a ser agredido.

- É isso que vocês querem ser quando forem crescidos? Monstros? Fazer o mal aos inocentes?

- Porque não? É divertido, não é? – responde com um sorriso de desafi o um outro, enquanto o grupo desata de novo a dar gargalhadas...

- Vão se embora! – grita Yania para eles.

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As meninas que vieram das estrelas Novamente sem esperar, os nove começam a dar pontapés em Yania e no menino que ela protegia.

Entretanto Ijyu e Kami eram persistentemente intuídos com o nome de Yania, abrem os olhos procurando-a, e vendo-a em apuros correm em sua direcção.

Kami puxa vários rapazes pela roupa para os afastar, e Ijyu puxa-os para o lado e abraça Yania e o menino que estava a ser agredido.

Desejando intensamente, Kami ordena que todas as gaivotas na praia comecem a dar bicadas nos agressores.

Mais de trinta gaivotas tombam sobre o grupo de pequenos malfeitores, dando-lhes fortes bicadas. Surpreendidos, recuam enquanto tentam a todo o custo protegerem-se das gaivotas, embora sem sucesso.

Vendo que a lição era sufi ciente, Ijyu ordena mentalmente às aves que se vão embora.

O grupo de miúdos, alguns caídos por terra e outros em pé, mas todos assustados, não compreende ainda o que se passou.

Ijyu fala-lhes com desespero:

- Que isto vos sirva de ensinamento! Vocês são livres de seguir o caminho do Mal. Mas lembrem-se sempre que se fi zerem sofrer alguém que é Amor, fazem sofrer a todos os que são Amor, e todos os que são Amor protegerão aquele a quem fi zeram mal. Esta é uma das grandes diferenças entre nós e vocês. O Mal não passará! Agora desapareçam da nossa frente!!!

Ao ouvirem isto, os nove fugiram pela praia fora o mais que puderam, efectivamente desaparecendo por detrás das casas ao cimo do areal.

O menino que foi protegido agradece do fundo do coração a ajuda.

Yania, Kami e Ijyu dão-lhe um terno beijinho na face, e continuam o percurso pela praia.

Embora não muito extensa, a Praia da Luz era maravilhosa! Nenhum dos três estava habituado às praias, pois na aldeia não havia mar, e o rio também tinha pouca areia. Todos adoravam a areia e o mar e as brincadeiras que proporcionavam. Os habitantes da aldeia organizavam de vez em quando uma ida à praia especialmente para as crianças, em conjugação com os irmãos que tripulavam as suas naves. Era tipo uma excursão. As crianças embarcavam numa grande nave que as levava até uma praia de uma ilha deserta, onde passavam o dia. O problema era que não o podiam fazer muitas vezes pois era muito arriscado, dado que os monstros esperavam por qualquer vulnerabilidade para os atacarem.

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Marcos Aragão Correia

A noite caía apressadamente. Uma fria aragem levantava-se agora das ondas do mar, percorrendo a praia, como que fazendo lembrar que o calor humano era insubstituível.

Sentaram-se os três na areia, e Ijyu abraçou as meninas com uma enorme ternura.

Estas pousaram a cabeça sobre o seu peito.

- E agora Lyndi? E agora o que devemos fazer? Por favor, diz-me!

pensava tentando comunicar com o belo Espírito desencarnado.

Yania e Kami ouviram os pensamentos de Ijyu, e juntaram-se a ele nos pedidos de aconselhamento.

Olham os três para as estrelas. Um céu lindo sem uma única nuvem parecia convidar à meditação.

Lembraram-se dos milhões de planetas habitados por esse Universo fora e da galáxia maravilhosa à qual pertenciam.

Nisto, uma estrela cadente percorre os céus, mesmo à frente dos três, como que querendo dizer que não desanimassem.

As meninas abraçam Ijyu ainda com mais força.

As intensas vibrações de Amor que emitiam uns pelos outros, aqueciam-lhes os luminosos corações.

E mais vibrações surgem. Parece que mais um irmão se junta aos três.

Uma luz esplendorosa rodeia-os. Ouvem uma voz com uma doçura inconcebível. Era Lyndi.

- Brevemente receberão uma visita importante! Aguardem! Amo-vos!

A deslumbrante luz concentra-se num só ponto e sobe em direcção aos céus com uma velocidade espantosa, qual estrela que regressava à sua origem.

A alegria brotou novamente com vigor.

Lyndi não se esquecera deles.

Com os pequenos, mas grandes, corações cheios de confi ança, Yania e Kami adormecem no ventre de Ijyu.

A esperança voltara às suas almas.

114

Capítulo 12

Vários dias se passaram. Os pássaros da Praia da Luz acabavam de assinalar o nascer do Sol.

Kami e Yania ainda dormiam profundamente nas ondas suaves de belos sonhos que as tranquilizavam das angústias que enfrentavam. Ijyu, esse, já preparava o pequeno-almoço para os três, tentando elaborar, uma vez mais, uma refeição o mais parecida com as da aldeia. Os enlatados do supermercado eram uma tortura à saúde e ao paladar de quem, já há muito, se habituara a deleitar com os generosos e frescos sabores naturais oferecidos pelas límpidas terras onde viviam. Não existiam muitos produtos biológicos nos supermercados das redondezas. As maçãs e bananas sabiam a pesticidas, os melões e melancias a adubos químicos, as couves, alfaces e tomates a veneno para ratos. Ijyu sentia-se culpado por parecer que estava a envenenar as meninas. Já há várias semanas que estavam a padecer a regra da maximização do lucro dos egoístas. Sabia que era impossível formar uma sociedade igualitária enquanto existissem tantas desigualdades dentro dos corações das pessoas. Num impulso de revolta, deita tudo ao lixo e decide preparar apenas umas fatias de pão integral com leite seleccionado para Yania e Kami comerem. Pelo menos assim não teria problemas de consciência.

Mal a tampa do caixote do lixo batera, ressoa pela casa o insistente som da campainha da porta.

- Inspector João?!

- Preciso falar convosco. É sobre a Madeleine.

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Marcos Aragão Correia

- Entre!

As meninas levantam-se ainda ensonadas e ao verem a visita que chegara, mesmo de pijama e descalças juntam-se de imediato a Ijyu.

- Bom dia Ana e Andreia, ou seja lá qual for o vosso verdadeiro nome…

– diz o inspector já sentado, enquanto pousava uma capa cheia de papéis sobre a mesa.

As duas retribuem o bom dia, mas estavam surpresas pelas dúvidas do inspector. Contudo percebiam que o olhar dele estava diferente para melhor. Mais luminoso.

- Não se preocupem… eu vim vos ajudar. Sei que vocês são especiais, que querem um mundo melhor. Sabem… estou farto de ser um monstro...

– desabafou baixando a cabeça envergonhado. – Desde aquele dia em que vos vi que percebi porque é que sou tão infeliz. Os vossos olhos brilhavam duma maneira que nunca tinha visto. A vossa felicidade causou-me inveja.

Sim… vocês eram felizes. E estavam felizes em poderem ajudar uma menina que foi violentada. Eu não percebia isso antes. É a isso que chamam Amor, não é?

Yania, Kami e Ijyu estavam cautelosos. Sabiam que os monstros mentem e são hipócritas. Que eles frequentemente fi ngem serem pessoas boas, mas apenas para ganharem a confi ança das verdadeiras boas pessoas. E

que só depois de obterem aquilo que pretendem é que revelam as suas reais intenções.

O inspector percebeu a razão da prudência dos três.

Levantou-se e aproximou-se de Yania.

- Miúda, quero pedir-te desculpa por te ter agarrado no braço com força, e por te ter chamado pestinha. Sei que não merecias, e que tinhas razão em me apelidar de mercenário. – e fez-lhe uma festa na cabeça.

Yania concentrou-se nos sentimentos do inspector, tentando verifi car se correspondiam realmente às palavras que dizia. Fez-se alguns segundos de silêncio.

- Posso dar-te um abraço? – perguntou hesitante o inspector.

Yania olhava profundamente nos olhos dele. Tentava ver bem dentro do seu Espírito. Concentrava-se. O silêncio continuou mais alguns segundos.

- Ele está a brilhar por dentro! – constatou Yania sempre silenciosamente.

Então compreendeu que ele tinha mudado. Que estava verdadeiramente arrependido de ser um monstro. Uma lágrima aparece no canto de um dos olhos de Yania. Levanta-se e dá um forte abraço ao inspector.

116

As meninas que vieram das estrelas

- Desculpe eu lhe ter chamado mercenário! – disse comovida.

Os dois abraçavam-se de forma enternecedora.

Kami e Ijyu também sentiram o mesmo que Yania. O inspector não queria continuar a ser um monstro, e estava profundamente arrependido de todo o mal que fi zera.

Voltou ao lugar e tirou vários papéis de dentro da pasta que trouxe.

- Consegui tirar isto do gabinete do coordenador da polícia. Vejam! –

mostrou um grande mapa. – Aqui na Praia da Luz existem dezenas de túneis subterrâneos. Quando eu estava a investigar o caso juntamente com um colega, falámos com um arquitecto que nos revelou esta informação, a qual desconhecíamos por completo. E foi o mesmo arquitecto que nos deu este mapa, o qual juntámos ao processo.

Ijyu, Kami e Yania observavam o mapa.

- Até aqui nada de especial. – continuou – Existem muitas localidades com túneis subterrâneos. O estranho foi quando sugeri ao nosso chefe que investigássemos estes túneis, pois poderiam ter sido utilizados no rapto da Madeleine. A resposta dele foi um imediato não! Justifi cou-se dizendo apenas que não havia tempo a perder com isso. E proibiu-nos de entrar nos túneis. Mais tarde, quando fui folhear o processo, constatei que o mapa tinha desaparecido. Todas as folhas dum processo são numeradas. E os números correspondentes às folhas do mapa passaram a dizer respeito a outro documento que não existia antes, documento sem qualquer importância. Questionei o chefe sobre o desaparecimento do mapa, e ele respondeu-me que esse mapa nunca existiu, e que eu voltasse ao trabalho se não quisesse ter problemas.

- E foi o que fez, não foi? – indagou Ijyu descortinando já a resposta.

- A polícia é constituída por uma hierarquia muito rigorosa. O departamento de Portimão é pequeno. Só temos um chefe, e este é da confi ança absoluta do coordenador do departamento, e o coordenador é o superior hierárquico de todos. Houve colegas que já tinham tido problemas por questionarem o chefe junto do coordenador, inclusivamente terem sido injustamente condenados em processos disciplinares caluniosos.

- Parece que esse chefe é um bom lacaio desse coordenador!!! – riu Yania.

- Tens toda a razão miúda! Mas mesmo assim eu fui falar com o coordenador…

- E então? – questiona Kami – Foi metido na ordem, já estou a ver!

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Marcos Aragão Correia

- Mais do que isso! O tipo ameaçou-me de morte. Sabe que eu não tenho família próxima, e portanto não pôde fazer chantagem com isso.

Simplesmente colocou a arma dele sobre a mesa, e perguntou-me se eu sabia que às vezes aconteciam acidentes, se eu sabia que às vezes as armas disparavam sozinhas…

- Mas que grande monstro! – comentou Yania indignada.

- Mas não é tudo. No início a tese que a polícia defendia era a do rapto.

Tínhamos instruções claras para quando falássemos com os jornalistas, seja ofi cialmente, seja por fugas de informação que estrategicamente seleccionávamos... – Kami interrompe o inspector.

- Fugas de informação estrategicamente seleccionadas? O que quer dizer com isso?

- Bem, a polícia sabe que os órgãos de comunicação social são importantes para obter o apoio do público em geral em relação aos nossos objectivos.

Assim, interessa-nos que as pessoas achem que alguém é culpado ou que alguém é inocente. Então clandestinamente contactamos com um jornalista e passamos uma informação que reforce essa ideia, mesmo que seja falsa, o que interessa é manipularmos a opinião pública de acordo com os nossos interesses. Muitas vezes torturamos pessoas para atingir mais facilmente os nossos malévolos objectivos, obrigando-as a assinar confi ssões falsas depois de terem levado uma grande dose de porrada, tal como fi zemos com a mãe da Joana Cipriano. Os tipos da comunicação social publicam tudo o que nós lhes dizemos, porque acham que como vem da polícia só pode ser verdade!

Ijyu baixou a cabeça. Lembrava-se muito bem da Joana, uma linda menina Espírito do Amor que também foi brutalmente violentada anos antes.

- Mais um caso igual… – era grande a revolta de Ijyu.

- Pois, e muito curioso que em ambos os casos foi devido às vossas intervenções que a polícia foi obrigada, de forma a proteger os monstros envolvidos, a transformar a tese do rapto para a tese do homicídio e ocultação de cadáver por parte dos pais. – o inspector mostra um documento. – Logo a seguir ao vosso contacto eu fi z um relatório descrevendo as vossas pistas ao coordenador, até falei do estranho choque que tinha levado na mão quando agarrava aquela menina – aponta para Yania – já agora posso saber o teu nome?

- Claro!!! Yania! E esta é a Kami, e este é o Ijyu! – respondeu com confi ança.

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As meninas que vieram das estrelas

- Nomes muito bonitos!

O inspector puxa outro documento da pasta.

- E agora vejam isto… uma ordem interna do próprio coordenador, assinada logo no dia seguinte ao do meu relatório, para toda a equipa passar a dar prevalência à tese da morte da Madeleine pelos pais e abandonar as buscas pela menina.

- Mas porquê? – indaga Yania, mais uma vez indignada.

- Nesta ordem, a explicação dada é que o balanço dos indícios já recolhidos aponta para o envolvimento dos pais. Mas isso é falso! Eu estive no terreno e conheço os principais indícios que os outros colegas recolheram. E tudo aponta para o rapto.

- Então porquê? – insiste Kami.

Tira mais um documento e mostra aos três.

- Esta é uma circular interna da Polícia Judiciária datada de 4 de Maio deste ano, apenas um dia depois da Madeleine desaparecer. Diz que os agentes devem recomendar aos pais preocupados com a segurança dos fi lhos a colocação de microchips nas crianças. Os modernos microchips permitem a localização em tempo real do paradeiro da criança, utilizando os satélites. Além disso contêm toda a informação sobre a criança, e quando os governos quiserem, poderá também ser usado como meio de pagamento nas lojas. Até é invocado, aqui, o nome da Madeleine, dizendo que este rapto poderia ter sido evitado se ela tivesse o chip implantado!

- Que horror! – diz Yania.

- Os monstros querem controlar todas as pessoas! – acrescenta Kami.

Ijyu sorriu ironicamente.

- Já era de esperar! O admirável novo mundo monstruoso, onde todos são vigiados e perseguidos até ao mínimo detalhe!

- Exacto!!! Mas já estou a imaginar o pior… é que é uma total mentira que o microchip possa impedir o rapto de uma criança. Muitos criminosos sabem da existência dessa tecnologia, e caso fossem eles a raptar a criança com certeza iriam procurar, através de um detector de sinais electromagnéticos, se a criança tinha ou não o chip, e se tivesse, seria bastante fácil retirá-lo porque até agora o chip é introduzido apenas superfi cialmente, pouco abaixo da pele. A única maneira de evitar isso seria introduzir o chip num local do corpo onde a tentativa de o retirar poderia causar a morte à criança. Dentro da cabeça por exemplo, e será com certeza isso mesmo 119

Marcos Aragão Correia

que os governos irão propor mais tarde. Mas a questão principal, julgo que vocês já a entenderam…

- Lógico! Quem protege as crianças dos criminosos dos governos? –

respondeu Ijyu.

- Exacto! É que os governos passam a ter controlo directo sobre todas as crianças, e mais tarde, sobre todos os adultos da sociedade, sabendo em tempo real tudo sobre eles. Isto quer dizer que eles próprios podem raptar, espancar, violar e assassinar impunemente, com a maior das facilidades, porque o microchip dirá tudo sobre o alvo. E como são eles que fazem o chip, só eles terão uma chave electrónica, tipo controlo remoto, que activa ou desactiva o chip quando bem entenderem, evitando a localização da pessoa pela família. E poderão sempre desculpar-se dizendo que o chip avariou-se ou foi desactivado por criminosos, se questionados sobre o porquê do chip não estar a funcionar na pessoa desaparecida. E como são eles, os governantes, que mandam nas polícias, fi carão sempre impunes.

- Sabendo nós que a História nos ensina que a maior parte dos governos da Terra foram e são constituídos por criminosos da pior espécie, essa é uma ideia terrível! – comentou Kami.

- Claro! Basta lembrarmo-nos de Hitler, Stalin, Mussolini, Mao Tsé-Tung, e tantos outros... – acrescentou Yania.

- Pois meninas, imagine-se o chip nas mãos de qualquer um desses monstros… Se eles já conseguiram matar milhões de inocentes sem chip, o que seria se tivessem acesso ao chip! – apoiou Ijyu.

- Agora percebem o perigo de tudo isto. É que primeiro eles vão propor o chip, servindo-se duma propaganda manipulada em torno das crianças que desapareceram. E depois de terem lavado o cérebro das pessoas, irão tornar o chip obrigatório.

- Como já fazem com os cães! Porque para eles as pessoas não passam de cães! – disse Yania expressando abertamente a sua revolta.

- Tens razão Yania! Mas eles é que são os animais, e não nós! –

concordou Kami também revoltada.

- Tudo isso faz parte dum maquiavélico plano mais vasto dos monstros para proibirem o Amor na Terra. – Ijyu recorda-se do que estudou quando vivia na sociedade. – As crianças são sempre um dos alvos preferenciais, pois além de serem mais vulneráveis serão também os futuros adultos da sociedade. Uma das maiores perversões dos monstros é fazerem igualar o termo pedofi lia com violações de crianças. Na verdade, “pedo” signifi ca criança e “fi lia” amigo, portanto pedofi lia signifi ca realmente “amigo de 120

As meninas que vieram das estrelas crianças”. Ora, um verdadeiro amigo de crianças, não as viola nem lhes faz qualquer outro mal. Ao chamarem amigos de crianças a monstros que lhes fazem mal, estão a tentar, disfarçadamente, incutir nas pessoas que ser amigo das crianças é uma coisa má. O que leva a que muitos adultos tenham receio de expressar o seu Amor por uma criança, evitando lhe dar abraços ou beijos com medo de serem apelidados de pedófi los e serem perseguidos pela polícia. E se as crianças crescerem sem afecto, sem Amor, tornar-se-ão pessoas doentes e facilmente manipuláveis pelos monstros.

Aí, sendo a ausência de Amor a regra na prática e algo aceite como normal, os monstros darão o passo fi nal de fazerem leis para proibir defi nitivamente o Amor na Terra. Essa é a grande ambição deles.

Ouvindo isto, Yania e Kami jogam-se para cima de Ijyu e começam a lhe dar imensos beijinhos e abraços sem parar.

- Se eles julgam que vão conseguir proibir o Amor, estão muito enganados! - diz Kami dando um forte abraço.

- Experimentem mandar a polícia… – um beijinho de Yania – para prenderem… – outro beijinho – aqueles que nos amam… – e outro beijinho

– e verão o que lhes sucede! – afi rma Yania dando imensos beijinhos a Ijyu.

Ijyu retribuía abundantemente.

João comoveu-se muito e pensava no quanto perdera enquanto tinha sido monstro.

Yania e Kami perceberam o pensamento de João, e vão até ele dando-lhe também muitos abraços e beijinhos.

- Já não és monstro, e como tal também mereces! – diz Yania.

Mas o inspector João fi cou envergonhado e inibido pois ainda estava viciado nas regras hediondas do Mal.

- Descontrai, relaxa! – dizia Kami fazendo-lhe umas cócegas debaixo dos braços que fi nalmente o fi zeram sorrir.

- Obrigado meninas! – responde dando um beijo na testa de cada uma.

– Voltemos então à nossa conversa… – como que ainda tentando sair duma situação algo embaraçosa.

As crianças voltaram a se sentar. Sabiam que tinham importantes questões de trabalho ainda por resolver.

João compôs a camisa.

- Sim, é evidente que o Mal pretende a proibição total do Amor. É

isso que eles querem afi nal. E isso também passa por eles raptarem e assassinarem crianças.

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Marcos Aragão Correia

- Eles! Lembrem-se do eles! Eles levaram-na!

- De facto, foi a frase de Kate quando regressa ao restaurante informando que Madeleine desaparecera! – recorda-se João.

- E uma frase muito espontânea… como se o “eles” fosse algo bastante óbvio para ela… – constata Ijyu.

- Mas então porque é que a Polícia Judiciária abandonou a tese do rapto, se a tese do rapto era o que os tais “eles” queriam? – perguntou Yania tentando esclarecer esse ponto.

- A solução está na conjugação destes elementos todos. Eles queriam a tese do rapto, disseste bem, queriam… Mas a partir do momento em que vocês aparecem e falam de informações espirituais sobre a Madeleine, tudo muda. Eles devem com certeza ter pedido informações aos serviços secretos, e souberam quem vocês realmente eram. Porque vocês não são deste mundo, certo?

Ijyu sorriu.

- Depende do que considera ser este mundo…

- Aquele choque na minha mão com certeza não é algo habitual neste mundo…

- Pode ser. Mas já imaginou a possibilidade deste mundo ter sido usurpado aos seus habitantes originais?

O inspector não percebeu.

- O mundo inteiro, e todas as suas estrelas e planetas, pertencem ao Amor, que é a fonte primeira de toda a existência! – explica Kami.

- E nós somos Espíritos do Amor em missão para devolver a Terra ao Amor! – informa Yania com muito orgulho.

- Então acabaram de dar a resposta ao problema do porquê da tese da polícia ter repentinamente mudado! Eles não poderiam deixar que, aqueles a quem eles mais odeiam, ou seja, vocês, fossem os responsáveis pelo resgate do corpo da Madeleine! Já imaginaram??? As televisões, rádios, revistas e jornais de todo o mundo anunciando que Espíritos do Amor descobriram, através da espiritualidade de Amor, o que aconteceu com Madeleine? Eles provocaram e depois empolgaram este caso com uma única intenção: fomentar o medo global dos raptos de crianças entre as pessoas, para que todas as crianças sejam marcadas com o microchip. Toda a população está a olhar para o caso Madeleine. E então vocês aparecem e dizem: nós somos Espíritos do Amor e temos informações espirituais exactas sobre o que aconteceu à Madeleine! E então as pessoas vão ao lago que vocês disseram, e constatam que o corpo da menina está lá, e 122

As meninas que vieram das estrelas que o que lhe aconteceu foi exactamente aquilo tudo que vocês disseram!

Tudo! Descrição do assassino e tudo o mais, tudo correcto! Então toda a população ia querer saber mais sobre o Amor, o Amor que descobriu Madeleine e o seu assassino! Toda a comunicação social de todo o planeta a falar de vocês e com vocês! Toda a comunicação social a falar do Amor e a ensinar a verdade sobre o Amor! É o que se chama virar o feitiço contra o feiticeiro!!!

- Entendemos agora bem, João. O porquê disto tudo... – Ijyu olha ao mesmo tempo para uma fotografi a dos Espíritos de Madeleine, Joana e Francesca abraçados – Pobres meninas! Vítimas inocentes de monstruosidades tão grandes! – encosta a foto ao coração e fecha os olhos – Não deixaremos que também as vossas memórias sejam roubadas. Vamos impedir que eles consigam aquilo que desejaram quando vos fi zeram todo esse terrível mal.

Estamos ao vosso lado. Incondicionalmente ao vosso lado. Amamo-vos.

Yania e Kami abraçaram-se a Ijyu.

O inspector dobra o mapa e mete-o num bolso. Joga a carteira com o distintivo da polícia para o chão. Retira, dum saco que trazia, quatro lanternas.

Decididamente, levanta-se. Prepara a pistola.

- Caro Ijyu, caras meninas, chegou a hora de acertarmos contas com eles.

Cerca de uma hora depois, os quatro localizavam uma das entradas para os túneis subterrâneos da Praia da Luz.

Era uma pequena gruta, escondida por debaixo das escarpas montanhosas que embelezavam a pequena praia.

Para aceder à gruta era necessário estar a maré baixa, o que se verifi cava mesmo naquele momento.

João, Ijyu, Yania e Kami entraram na tenebrosa gruta. Húmida, escura e com um cheiro nauseabundo, apenas compensado pela agradável fragrância lançada pelas ondas do mar. A lanterna que cada um segurava abria um luminoso caminho por entre o espaço ínfi mo que rompiam sem hesitação.

Mais à frente existia uma descida, e depois de terem atravessado as longas escadas que mergulhavam nas entranhas do subsolo, um grande túnel apresentava-se à frente, desta feita com uma largura e altura consideráveis. O silêncio absoluto era apenas quebrado pelo respirar dos quatro. Prosseguiram, movidos por uma causa que lhes aquecia o coração.

- Parece não ter fi m – sussurrou Kami.

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Marcos Aragão Correia

- Segundo este mapa temos que continuar até chegarmos a uma encruzilhada em que confl

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