Encontro de Pensamentos by Guilherme Palacios - HTML preview

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QUAL É A GRAÇA?

 

Laranja, azul e branco: as cores fortes alternantes que repartiam em gomos uma bola de basquete. Ganhei de minha mãe, um dia sem ser uma data de comemoração, um presente espontâneo, simplesmente emanou de mim uma alegria imensa. Essa alegria compartilhei com meus colegas da rua, imaginávamos ser grandes jogadores de basquete, tais como os Globetrotters, éramos uns tampinhas brincando com uma bola colorida saltitante nas ruas de um bairro de Taubaté.

 

Algumas vozes dizem para esquecermos nossas memórias e deixarmos de lado o passado, engano de quem pensa assim! São as memórias que fizeram parte de nossas vivências e descobertas de mundo, óculos que trocamos ao longo de nossa jornada de vida, óculos que indicam um sentido na vida. Óculos de lentes límpidas, embaçadas, escuros, tons cinza ou cor de rosa, cor de arco-íris ou simplesmente óculos que amplificam a imagem de nosso olhar.

 

Poderia citar quais alegrias tive na vida, desde a infância, tais como: o bolo que fiz de laranja, andar de bicicleta sem cair, o sorteio de um saco de bombom que a professora fez para cativar seus alunos, uma nota 10 na escola, tomar ônibus sem precisar estar acompanhado, andar sozinho na rua Santa Ifigênia e outras ruas da cidade de São Paulo, o beijo de meus pais que sempre me confortava, a iniciação sexual, o encontro do nome nas listas de quem vai prestar um concurso ou de quem passou num vestibular concorrido, primeiras vezes que deram alegrias. Alegrias que encontrava nos pequenos detalhes, insignificantes para muitas pessoas, alegrias de um garoto que não teve irmãos, alegrias de quem convive e tem companhias felinas e caninas, alegrias de quem conviveu com colegas vizinhos de uma pequena favela de Osasco, uma comunidade de pessoas de origem nordestina ou do interior de algum lugar do Brasil, pessoas de pais trabalhadores sem uma formação certificada pela escola, mas pela vida sofrida. Colegas que não me excluíam de suas brincadeiras, colegas que hoje não saíram de suas condições de vida, permaneceram na favela, uma areia movediça que impede sua saída e os coloca nas margens da sociedade, um ciclo de pobreza, poucos saem desse lugar, vivem da maneira que a vida pode ser vivida concretamente.

 

A alegria eu encontrei quando dei um abraço de urso, um abraço que quase quebrou as costelinhas daquela menina. No dia seguinte, a menina disse que estava com muitas dores no corpo, juntos fomos ao ortopedista, depois de um RX, a médica aconselhou:

 

Jovem, não dê mais abraços assim, a costela é frágil e pode quebrar, seja menos bruto com as pessoas.

 

Essas memórias, distantes do passado, do meu passado, ainda são o presente, não se tornaram uma história do passado como querem muitos acreditar, são outras histórias por sermos pessoas singulares. A minha história compartilho com vocês. Imaginação literária, imaginação fictícia, imaginação que podemos duvidar de sua veracidade, imaginação que aflora depois de muito viver intensamente as relações humanas.