Encontro de Pensamentos by Guilherme Palacios - HTML preview

PLEASE NOTE: This is an HTML preview only and some elements such as links or page numbers may be incorrect.
Download the book in PDF, ePub, Kindle for a complete version.

SENTADOS EM CIMA DA PEDRA

 

Atrás, o relógio central, e, à frente, o museu.

 

Sentados, conversamos sobre o passado.

Meu passado, cheio de recordações. O passado que ainda pertence a minha vivência, não cabe dizer ser uma experiência, o presente impregnado do passado, ainda recente, ainda latente, ainda presente na memória e no inconsciente.

E, repartíamos segredos, uma troca de essências humanas, os meus com os dela ou os dela com os outros, ou os delas com outras, segredos ditos.

 

Domingo de outono, às oito da manhã, café com leite, pão com manteiga, xícaras de porcelana com detalhes em tons rosa, sentados em cima da pedra. Muitas formiguinhas vinham buscar e levar as migalhas de nosso piquenique, levar farelos de pão para suas tocas-esconderijos.

 

Praça do relógio, lugar para ficar um tempo parado.

 

Na adolescência, reuníamos para conversar sobre assuntos sérios e acadêmicos. Um pouco de política e um pouco da vida estudantil. Às vezes, eu deitava debaixo de uma árvore depois do almoço e dormia. Às vezes, à noite, sentávamos para olhar as estrelas e o céu. Às vezes, sentávamos para esperar passar os efeitos das bebidas que tomávamos nas festinhas dos centros acadêmicos nas sextas-feiras. Alguns faziam outras coisas que não convém falar. Segredos.

 

Mas, naquela manhã de domingo, nosso café da manhã não foi uma reunião para tratarmos de assuntos filosóficos ou políticos. Uma reunião para ser a união de corpos e mentes. Para sentir de perto o calor do corpo e compartilhar histórias do passado distante ou do passado próximo.

 

Não seria justo espalhar as suas confidências, os segredos que guardei, injusto seria eu contar o que me foi confiado e sussurrado. Se eu contasse as histórias mais íntimas que guardo comigo e repartisse com vocês, não seria justo desvelar esses segredos.

 

Quantos segredos guardamos em nossas vidas?

 

Nada de inocente somos depois que perdemos a nossa inocência nesse confronto de relações humanas, lutas e batalhas do cotidiano.

 

E ainda vejo escrito por aí:

“Uma cidade mais humana”, ou algo parecido, como se a palavra “humana” contivesse em seu conceito o poder de redimir as falhas e as contradições da psique, esclarecer os dilemas, encontrar um juízo de valor justo, ser algo honesto e neutro.

 

Uma faceta humana é o sentimento amor, entre muitas que podemos encontrar espalhadas ou fragmentadas pelos escritos de muitos autores. Vou abordar apenas uma, a faceta do amor que requer para si a posse do outro.

A posse acontece quando amamos?

Queremos ter o outro a cada instante de nossas vidas, invadir a sua privacidade e tomar a sua vida para nós. Queremos controlar os passos e prever o que se fará em relação a isso, aquilo ou supor um julgamento. Controlar o seu corpo e sua mente, ter a sua alma como um objeto e colocar numa gaiola pequenina. Tomar para si o que não nos pertence. Ser o único em sua vida. Sufocar o amor com perguntas ofensivas, ou chantagear com o possível rompimento da relação.

Ou, trair para se vingar do outro.

Amor, uma faceta que causa dor e arrependimento.

Amor ou morte?

 

Amar, poucos conseguem dizer com sinceridade que amam.

E quando ouvi:

 

Você é o grande amor de minha vida.

 

Pode ser uma mentira, enganação, apesar de parecer uma verdade, um outro conceito que poderemos incorporar à palavra “humano”.

O conceito de saber mentir e enganar, de conseguir dizer “meias verdades” para agradar o outro.

 

Um amor humano.