- Deixe aquele piolho anêmico comigo.
- Done. – Ane chamou.
- Ane. – Done quase perdeu a compostura com um suspiro.
- E minha mãe? Ela está bem? Pode cuidar dela, por favor? Eu sei que você não está muito contente com ela, mas minha mãe vive no palácio leonino e tenho medo por ela, inocente nesse meio.
- Ah, Ane... – Done sentiu um aperto no coração.
- O que? – Ane teve um mau pressentimento. – Ela se feriu?
- Sua mãe está ótima, Ane. Melhor do que todos nós juntos. – Done parou antes que falasse demais. – Mas não se preocupe. Eu vou cuidar dela sim. Em breve. – Ele mudou o foco para sua mãe, não querendo continuar com aquela conversa. – Algo mais, majestade?
- Não, filho. Vá descansar.
- Obrigado, mãe. Mande um abraço para Sven e diga pra aquele velho sem vergonha não comer todo o doce de flor da cozinha. – Done se despediu.
- Mãe... O que você fez? – Ane murmurou.
- Aquele.....aquele....tolo! Idiota! Burro! Gatinho de merda! – Calíope estava espumando. Nenhum Tiger aturava uma ofensa, nem a menor que fosse, sem buscar feliz por uma guerra. Mas traição era algo muito pior. O ar ao redor de seu corpo ondulava com o calor das chamas prontas para irromper em segundos. Ane segurou a mão da rainha e só então ela percebeu que a moça mais nova estava falando com ela a algum tempo. – Ah, Ane....
Sem pensar, ela cortou a distância e beijou Ane, esquecendo de sua raiva, seu corpo quente, mas desta vez não era o poder Tiger agindo. Era a retribuição de Ane agindo no corpo da Rainha Tiger que, naquela manhã, pela primeira vez desde sua coroação, a quase 20 anos, chegou tarde na reunião com o Conselho.
~o ⭐ o~
- Essa garota deve ser uma maga de fugas, porque não é possível! – Ciara esbravejou. –
Como ela conseguiu quebrar o cristal? Isso não é impossível?
- É. – Téo respondeu massageando as têmporas, uma dor de cabeça o irritando.
Ciara se aproximou por trás e começou a massagear as têmporas dele. – Então como ela quebrou?
- Ela não quebrou. – Téo disse. – A energia não era dela. Haviam três resquícios de energia mágica no cristal quando voltei com o idiota do rei.
- Sunny e....quem?
- Alart.
- Ele achou o esconderijo? – Ciara correu para frente de Téo que a puxou para coloca-la em seu colo.
- Não. Era fraca e distante. Meu palpite é que a chatinha conseguiu contactar ele em sonho. Só que pra isso ela teria que estar pelo menos um pouco consciente dentro do cristal. O que é bem difícil, quase impossível. Exigiria um poder muito grande.
- Céus... Se ela estivesse um pouco consciente ela...poderia ter...sei lá....escutado algo?
- Com certeza. – Téo respondeu.
- Mas que merda! – Ciara tentou se levantar, mas Téo a segurou firme em seu colo, acariciando sua coxa.
- Por isso preciso encontrar aquela merdinha antes do rei e colocar ela de volta em suspensão.
- Ela não tem para onde ir. Tiger é arriscado demais. Vamos encontra-la. Mas e quanto a outra energia?
- Era tão poderosa... – Téo abriu distraidamente o laço que fechava o decote de Ciara, expondo seus seios.
- De quem era?
- Só Kallisti sabe...
~o ⭐ o~
Eu realmente sei... Mas ele não merece que eu conte.
Capítulo 14
Planejar é importante, mas é curioso como às vezes planos são feitos para serem destruídos pela simples existência de algo chamado efeito colateral.
~o ⭐ o~
Done cruzou os braços mantendo sua maior expressão de príncipe meio bobo.
- Majestade, entendo sua preocupação e garanto que farei tudo que puder para ajudar. Porém, não posso evitar essa pequena solicitação da Rainha. Veja isso como uma demonstração de superioridade, de desejo pela paz. Seu povo e o meu verão que o senhor fez tudo ao seu alcance para que a paz fosse mantida.
- Sim. Claro que faço. Não fui eu quem ataquei primeiro colocando essa paz em risco...
– Arman disse pela milionésima vez a mesma coisa.
- Claro que não. Mas é sempre bom reforçar o quanto tentamos evitar um conflito.
Afinal, o senhor, sábio como é, não vai querer atrair a impopularidade de seu povo com uma guerra que poderia ser evitada com um toque de diplomacia, não é?
Arman queria partir logo para o ataque, mas sabia que isso colocaria não só os Tiger, como também seu próprio povo, os leoninos pacíficos, contra ele. Além disso, ceder nessa exigência tola poderia ser algo bom. – Muito bem. Mas se algo acontecer a ele, não haverá mais diálogo.
- Eu entendo perfeitamente, majestade. – Done se despediu do Rei e do conselheiro ao lado dele, parecendo um fantasma maligno, e saiu desejando um banho de horas para desinfetar sua alma daquela podridão.
- E então? Conseguiu? – Sunny perguntou assim que ele chegou no esconderijo.
- Lindinha, claro que consegui. Eu sempre consigo tudo. Eu sou lindo, inteligente, o máximo. – Done entregou uma muda de roupa para ela.
- Done, você precisa tratar esse seu ego. Logo você vai precisar de mais um corpo só pra abrigar ele. – Sunny sorriu.
- Eu sei. Você me ama. – Ele sorriu e logo ficou sério. – Não se preocupe, Sunny. Ismir não vai nem saber que você está lá.
- Não tenho um bom pressentimento sobre isso. Mas também não vou fugir de uma briga. Se ele me achar, vai desejar estar morto.
- Uma Tiger perfeita! Assim vou me apaixonar. – Done deu um soco leve no ombro dela como costumava fazer com Alart desde que eram muito jovens.
- Repete isso. – Alart chegou espumando.
- E o rei do ciúme chegou. – Done brincou.
Sunny olhou para longe. De novo. Aquilo estava incomodando Alart desde que ela voltou. Nunca mais, em nenhum momento, ela olhou nos olhos dele. Alart conhecia bem a jovem para perceber o óbvio. Ela estava escondendo algo.
- Meu pai já me deu a documentação para a viagem. – Alart disse para Done, sem tirar os olhos de Sunny que continuava entretida com absolutamente qualquer coisa só para não olhar para ele. – Ele quer que eu vá jantar com Ciara em uma reunião que ela fará de despedida para mim. Talvez até enviar algo para filha.
- Não vejo problema. – Done disse notando o olhar de Alart.
- Não! – Sunny quase gritou.
Alart ergueu uma sobrancelha desconfiado. – Já conhecemos a falsidade da Ciara e sua ambição, não vai me pegar desprevenido. Além de ser uma forma de fingir normalidade.
Então porque não, Sunny? Há algo que você queira me contar?
- Eu? Er. Não. É que. Bem. Eu...eu só...só acho que pode....é arriscado. Só isso. – Sunny olhou apenas para Done.
- O plano todo é arriscado. – Alart disse.
- É, então pra que arriscar mais ne.
- Pensando bem, Sunny tem razão nesse ponto. – Done disse.
- Alart....por favor....Não coma nada perto dela... – Sunny tremia de um jeito que era visível mesmo ao longe.
Alart se aproximou dela enquanto Done se afastava de fininho para checar de novo o mapa, dando privacidade ao casal. – Sunny. – Alart ergueu o rosto dela com um dedo e se assustou ao ver tantas lágrimas rolando pelo rosto dela. – Ei. Calma, raio de sol. O que...
Sunny abraçou ele, escondendo o rosto em seu peito.
- Sunny, você sabe que pode me contar qualquer coisa. Porque não me diz o que...
- Não. Eu...só me deixa ficar aqui um pouco. – A garganta de Sunny parecia se fechar com a emoção.
~o ⭐ o~
- É melhor eu voltar ao trabalho. – Calíope deu um beijo em Ane e se levantou para deixar a jovem com os arquivos que estava avaliando. – Você é uma má influência, Ane.
- Eu? Mas foi você que veio aqui me distrair do trabalho. – Ane fingiu estar indignada.
- É bom saber que distraio você. – Calíope piscou para ela. – Vem dormir comigo esta noite?
- Claro. Jamais recusaria uma ordem da Rainha.
Calíope sorria largamente quando saiu e Ane sentia como se seu coração estivesse a ponto de pular da garganta. Até agora, só seu pai sabia do romance dela com Calíope. Do lado Tiger, Calíope contara apenas para Sven, inclusive planejando um presente para a
jovem quando ela finalmente assumisse publicamente o romance. Algo que a Rainha não fizera ainda apenas para não assustar a moça tímida e por ainda não ter conversado com seu filho. Ela também não estava ansiosa por esse momento. Ah, claro, havia Ismir também que conhecia essa relação, mas o casal não sabia disso.
E falando no diabo....
- Linda letra. – Ismir disse muito próximo da nuca de Ane que deu um pulo de susto, pois nem o vira se aproximar.
- Demônios do rio! – Ane gritou.
- Desculpe, não quis assustá-la, bela lady. – Ismir sorriu, algo que sempre dava calafrios em Ane. – Beba um pouco de chá. Aceite como um pedido de desculpas deste Tiger desajeitado.
Ele sempre oferecia presentes, joias, flores, até animais de estimação fofos. Mas ela rejeitava tudo. Não sabia porque, mas só estar perto de Ismir a deixava tensa, com uma inexplicável sensação ruim. O que não lhe parecia justo. E foi aqui que Ane lembrou de seu pai e todos os ensinamentos que ele sempre lhe dera sobre justiça. Não era certo tratar assim um lorde que só tinha sido gentil e legal com ela. Mesmo afastados, o que em parte era culpa dela por estar sempre com Calíope, ela sabia que Ismir era um amigo da rainha.
Então ele não podia ser uma pessoa ruim. Certo?
Um chá e um papo furado não vão matar. Ela pensou.
Ai Ane, que vontade de te dar um cascudo! Ok, foco, Kallisti, foco.
- Claro. – Ane aceitou uma das xícaras de chá que ele tinha na mão e sinalizou para ele se sentar na cadeira ao lado dela. Ignorando a sensação incômoda na boca do estômago, ela bebeu o chá.
- Sabia que sua mãe foi uma amiga minha na juventude? – Ismir soltou, com os olhos brilhando.
- Não. Nunca soube disso. Mas minha mãe sempre foi extrovertida, do tipo que faz amizades muito fácil...
- E linda. Você é parecida com ela.
Aquele incômodo de novo. Ela tratou de mudar o rumo da conversa. – Dizem que pareço mais com meu pai.
O difícil é saber quem é seu pai, menina, com o tanto de machos que sua mãe pegava.
Ismir evitou dizer isso, rindo por dentro. – Ah como era bom aquela época... Sua mãe era especialista em levar diversão para as festas... De todos os tipos.
Ane pensou em perguntar o que ele queria dizer com isso, mas se sentiu enjoada e meio tonta do nada.
- Ela nunca deixou de fornecer certas...coisas para me ajudar. E sempre serei grato a ela por isso. – Ismir se aproximou de Ane com um sorriso que parecia mais cruel do que divertido.
Muito perto....perto demais... Ane pensou, se forçando a levantar, mas seu corpo não lhe obedecia.
- Eu estive pensando muito em te levar para um passeio, Ane. Um que você vai adorar, que vai te fazer gemer de satisfação. – Ismir passou a mão pela coxa dela, subindo a bainha de sua saia longa até que ela estivesse praticamente toda na cintura.
NÃO! ME SOLTA, SEU PORCO CABOTNO! Mas o grito de Ane soou apenas em sua mente. Seu corpo não reagia e ela começou a entrar em pânico.
- FILHO DE DEZ COVARDES IMPOTENTES! – Sven agarrou Ismir pela nuca o afastando da jovem que quase desmaiou de puro alívio.
- O que pensa que está fazendo, empregadinho de quinta! – Ismir esbravejou.
- O que VOCÊ pensa que está fazendo? Abusando da jovem... Se eu não tivesse vindo avisar algo para ela...
- Abusando? Eu? Olha bem pra mim, seu merda! Eu sou Ismir, um nobre, poderoso, amigo da Rainha, rico, bonito! Não preciso abusar de ninguém! Você viu ela reclamar? Ela estava gostando e muito!
- Seu.... – Sven deu um soco na cara de Ismir fazendo um dente dele voar para longe.
- EU VOU TE MATAR POR ISSO! – Ismir sacou uma adaga pronto para matar o Tiger mais velho.
Sven... Ane não conseguia nem mesmo chorar, tamanha era a paralisia em seu corpo.
Alguém...ajude....Kallisti, por favor, não deixa esse felino tão bom morrer por minha culpa...
Kallisti pareceu ouvir as preces da moça.
Ouvi mesmo que não sou surda ne!
Um vulto laranja passou pela porta em direção a Ismir e o derrubou no chão, jogando a adaga longe. – SEU COVARDE DE MERDA! – Done estava com os pelos tão eriçados que parecia ter dobrado de tamanho. - Atacando um Tiger velho desarmado com uma faca!
Você não presta nem pra brigar como macho de verdade!
- EI! Eu não sou velho... Sou...experiente. – Sven disse e correu para ajudar Ane que parecia uma estátua de mármore, com os lábios ficando roxos.
- Ele começou! Me agrediu sem motivo. Só porque eu e a jovem ali estávamos transando numa boa. – Ismir disse.
- É mentira, alteza. – Sven disse.
- Claro que é mentira. Ane tem muito bom gosto. Jamais cederia a uma bosta como você!
Ismir, astuto como sempre, percebeu o ciúme estampado no rosto do príncipe. – Acho que ela só prefere os poderosos então. De preferência quem possa coloca-la no trono Tiger.
Done não aguentou e deu dois socos na cara de Ismir. – VOU QUEBRAR TODOS OS
SEUS OSSOS, SEU IDIOTA!
- Alteza... – Sven chamou. – DONE!
- QUE?
- A jovem Ane precisa de ajuda. Ela está gelada. – Sven disse com um olhar preocupado.
- O que você fez com ela, Ismir? – Done só quis quebrar ainda mais a cara dele quando Ismir sorriu cuspindo sangue. – FALA, INFELIZ!
- Eu não fiz nada além de dar o que ela me pediu. Ela se ofereceu pra mim e eu aceitei.
Ela deve ter se drogado antes em algum beco.
- Ane? – Calíope deixou o bolinho enfeitado cair no chão e correu para Ane. – Querida, o que houve?
- Ele deu alguma coisa pra ela e estava tentando abusar da menina, majestade. – Sven disse.
Calíope olhou pra Ismir de um jeito que teria feito qualquer um se encolher no chão, chorar e pedir pela mamãe.
- Prenda isso na masmorra mais fria e podre que encontrar até segunda ordem. – Ela disse entredentes, com pelos eriçados, visivelmente lutando para se controlar.
- O que? Mas eu não fiz nada de errado. Só fiz o que ela pediu. – Ismir se debateu.
- Cale a boca, Ismir. E agradeça porque se não o mato aqui agora é por consideração ao nossos anos de amizade. Mas não me teste, porque vontade não me falta.
- Levanta! – Done se levantou e sacou a espada. – Anda logo.
- Você...você não pode fazer isso comigo! – Ismir realmente parecia não acreditar no que estava acontecendo.
Calíope se virou para ele com um ar assassino. – Não posso? Claro que posso, Ismir. Eu sou a Rainha e você é apenas um súdito. Se tem alguém que pode alguma coisa aqui esse alguém sou eu. Agora saia daqui.
- Você só está com ciúmes porque ela veio procurar em mim o que você não pode dar pra ela! Não tenho culpa se você decidiu namorar uma rameirazinha interesseira que gosta mais de macho!
O queixo de Done facilmente poderia tocar o chão. Será possível? Minha mãe com Ane? Não. Deve ser só mais um papo furado de Ismir. Se bem que...elas são tão próximas...e os olhares... Não. Minha mãe e a mulher que amo? Não. Não tem como...
O pensamento de Done foi cortado quando uma chama amarelo-alaranjada passou na sua frente e atingiu metade do rosto de Ismir. O fedor de pelo queimado e o grito angustiante tomaram conta do ambiente. Os passos calmos de Calíope ecoaram enquanto ela andava até o Tiger que gritava feito louco no chão.
- Shh. – Ela ordenou. – Cale a boca ou vou queimar seu pintinho aqui também.
Ismir temendo que isso realmente aconteceu, conseguiu se calar enquanto lágrimas escorriam pelo seu único olho bom e a dor o dilacerava.
- Você vai aguardar a minha boa vontade de ouvir qualquer merda que você tenha a dizer na masmorra como o bandido que você é. E reze para Kallisti te proteger de mim porque se o que pensamos se confirmar sobre você ou se eu confirmar o que eu quase posso apostar que você fez com a MINHA Ane, não haverá deuses nem demônios suficientes pra te salvar de mim. – Ela disse em voz calma e com um sorriso assustador no rosto.
Done pegou Ismir de qualquer jeito, pouco se lixando para os ferimentos dele, saiu e o entregou ao primeiro guarda que viu, dando as ordens da rainha. Depois voltou correndo para ver como Ane estava, mas já a levavam para um quarto. O quarto da rainha. Aí já era demais.
- Mãe. Precisamos conversar. – Done chamou quando ambos chegaram na porta do quarto.
- Sim, filho. Precisamos. Mas não agora. Agora a prioridade é a Ane. – Calíope disse e seus olhos espelhavam a preocupação que também havia nos olhos de Done.
~o ⭐ o~
- Eu quero ver ela. – Sunny disse.
- Imaginei. – Alart deu um beijo em sua testa. – Vamos.
Os dois saíram do quarto, atravessaram o Templo de Kallisti e seguiram pelo enorme pátio até o palácio. Done estava encostado na entrada, parecendo distante.
- Done. Como ela está? – Sunny perguntou.
- Ela e minha mãe estão...juntas. – Done disse, meio aéreo ainda.
- Ah. Bom. Vamos vê-la? – Alart perguntou.
O olhar de Done finalmente pareceu clarear, voltar à realidade. – Não, irmão. Você não entendeu. Elas estão...juntas... Como...casal.
- Elas estão transando? – Sunny soltou.
- Amor. Sutileza. Lembra? – Alart disse, preocupado com amigo.
- AHAHAHAHAHA! – Done nãoa aguentou. – Sunny, só você mesmo pra me fazer rir.
Vou casar com você por causa disso.
- Ah, mas não vai mesmo! – Alart virou para ele com a cara fechada.
- Irmão, o que é isso? Eu aqui sofrendo e você nem pra me deixar casar com a Sunny pra acalmar meu coração. Que amigo é você?
- Eu sei bem o que você quer acalmar! Fica longe da Sunny!
- Que amigo malvado... Não tem pena de mim....
- Calma meninos. – Sunny não resistia a perturbar a paz de Alart. – Eu caso com os dois e todos dormimos juntos, felizes e unidos.
- Ótima ideia. Concordo plenamente. – Done disse sério.
- NEM MORTA! – Alart berrou atraindo o olhar dos guardas que estavam de prontidão a alguns metros.
Done e Sunny se olharam sérios por dois segundos e desataram num riso incontrolável. - AHAHAHAHAHAHA!
- Ainda vou infartar com vocês. – Alart cruzou os braços, emburrado. - Pirralhos.
~o ⭐ o~
- Ane. – Sunny sentou na cabeceira da cama, ao lado da amiga.
Ane abriu os olhos devagar sentindo seu corpo todo dolorido e uma fome absurda. O
que não era novidade porque ela vinha comendo tanto ultimamente que algumas roupas já estavam ficando apertadas. – Miranda?
- Olha só. A felina adormecida acordou. Você nos deu um susto daqueles, sabia?
Tudo o que tinha acontecido na sala dos arquivos veio como uma avalanche em sua memória. Ane colocou a cabeça no peito de Sunny e desabou num choro convulsivo.
- Calma. Você está segura, amiga. Pronto...Passou. – Sunny acariciou os cabelos de Ane e sinalizou para que Alart, Done e Calíope que entravam no quarto ao ouvir o choro ficarem quietos.
- Aquele...ele...ele ia... – Ane nem conseguia dizer em voz alta.
- Me perdoe, Ane. – Sunny sentiu um aperto no coração. – Se eu tivesse...
- Você não tem culpa, Mi. – Ane disse.
- Sim, Ane. Eu tenho. Devia ter denunciado ele.
Ane se afastou um pouco e olhou assustada para a amiga. – Ele...abusou de você?
- Não. Não pessoalmente. Mas não duvido que ele chegasse a isso algum dia. Vindo do meu pai qualquer coisa é possível. – Sunny suspirou.
- PAI? – Ane e Calíope disseram ao mesmo tempo.
Sunny suspirou. – Sim. Aliás.. – Ela se levantou e fez um reverência para a Rainha. –
Sunny Tiger, do litoral, filha de Bianca e Ismir, à suas ordens, majestade.
- Puta merda! – Calíope deixou escapar e olhou para Ane, ambas pensando a mesma coisa. – Achamos a descendente do mago Laos.
- Laos? Quem é... Oh, merda! – Done olhou para Sunny como se ela tivesse três cabeças.
- Laos? O mago louco desaparecido? O torturado por Kursk a sei la quantas décadas?
Pensei que ninguém sabia nada sobre ele desde o sumiço... Ele teve descendentes?
- Teve, Ane descobriu. – Calíope disse com orgulho visível. – Mas, Bianca além de insuportável também era estéril.
A Rainha pegou uma bandeja cheia de comida suficiente para três felinos e colocou no colo de Ane.
- Minha mãe não era nenhuma das duas coisas, majestade.
- É melhor não falarmos disso aqui. – Done disse, preocupado com Ane.
A rainha serviu uma taça de vinho e caminhou para dar nas mãos de Ane. – Nem vem.
Mir...Sunny...seja lá que nome ela tem, é minha amiga e quero saber tudo sobre ela. Fala, Sunny.
- A coisa não é bonita, Ane. Não quero que você... – Sunny parou chocada, deu alguns passos e tomou a taça das mãos de Ane tão bruscamente que pegou todo mundo de surpresa. – Tá doida, garota?
- O que? – Ane perguntou confusa.
- Toma, Alart. Tira isso de perto dessa maluca! – Sunny olhou feio para a amiga como se Ane estivesse cometendo um crime.
Alart, que estava tão confuso quanto todo mundo, pegou a taça e deu um gole enorme.
- Como eu dizia... – Sunny relatou tudo o que tinha vivido enquanto o quarto permanecia em um silêncio quase sobrenatural.
~o ⭐ o~
- Lance o ataque. – Arman deu a ordem.
- E quanto ao príncipe, majestade. – Téo perguntou, embora não desse a mínima para o jovem herdeiro.
- Ele servirá ao reino leonino como um mártir. Sempre posso ter outros filhos, não é mesmo? – Arman sorriu.
- Será a justificativa perfeita para a guerra e seu triunfo como Rei das Duas Coroas de Likastía, majestade.
- E ao meu lado você será o segundo felino mais poderoso do mundo, querido.
Prefiro ser o rei enquanto seu cadáver apodrece, animal nojento. Téo pensou enquanto aceitava as carícias do rei e imaginava Ciara no lugar de Arman ali.
~o ⭐ o~
- Não vejo outra forma de resolver isso, meu jovem. – Calíope disse. – Não posso confiar em seu pai para manter o acordo e não vou rejeitar uma guerra. Nenhum Tiger neste mundo aceitaria isso... Nem mesmo eu.
- Eu só...Não gostaria de fazer isso. – Alart disse.
- Eu sei, mas é minha condição para manter a paz entre nossos reinos. – Calíope disse.
– Sunny, você aceita?
- Por mim, sim. Se Alart quiser...
- Você sabe que quero mais do que o ar que respiro. – Alart respondeu. – Com essa parte estou totalmente de acordo. O que me incomoda é meu pai. Afinal, apesar de tudo, ele é meu pai.
Sunny desviou o olhar e se remexeu na poltrona.
- Vamos descansar. – Calíope sinalizou. – Acho que todos precisamos.
- A senhora precisa mesmo é conversar com seu filho. – Sunny disse.
- Sunny! – Alart ficou chocado com o jeito dela falar com uma rainha.
- O que? Ela precisa mesmo. Done merece uma explicação.
- Querida, não se fala assim com uma rainha.
- Rainha ou plebeia no lixo, não me importa. Done é nosso amigo e não vou ficar quieta vendo ele sofrer.
- Sunny!
Calíope sorriu com admiração. – Agora entendo porque meu filho e esse rapazinho aqui gostam tanto de você. Tem razão, Sunny. Preciso mesmo falar com meu filho. Saiba que nunca quis magoar ele. Mas confesso que fico muito feliz em saber que meu filho tem uma grande amiga como você. Principalmente agora. Eu gostaria de poder retribuir seu carinho por meu filho e quem saber até sermos amigas.
- Se acerte com meu amigo que nós conversaremos. – Sunny falou.
- Falou como alguém perfeita para seu futuro lugar neste mundo. – Calíope saiu.
- Ai, Sunny... Sutileza, querida...sutileza. – Alart deu um beijo em sua mão e saiu de braços dados com ela.
~o ⭐ o~
Como é lindo o amor. Quando é amor mesmo, claro.
Capítulo 15
Você assiste Barracos de Família? Não? Ah, é. No seu universo não pega esse programa. É cheio de barracos entre pessoas de uma família envolvidas em cada caso de deixar a gente boquiaberta. Cada baixaria absurda...
Adoro esse programa.
~o ⭐ o~
- Vai falar com seu pai? – Sunny perguntou.
- Não. Só avisar que a reunião terminou e que estou levando uma proposta. – Alart se sentou na beirada da cama, sentindo uma dor de cabeça chata começando. – Esse tipo de coisa deve ser dito pessoalmente.
Sunny se ajoelhou na cama atrás dele e começou a massagear seus ombros. –
Entendo. Tenha cuidado.
- Sim. Terei. A Guarda do Rei já sabe e pelo menos tenho o apoio deles.
- E quanto ao povo?
- Isso ainda me preocupa. Não quero revelar as armações do meu pai e sujar sua imagem, mas não sei como ter o apoio do povo sem que eles saibam minhas razões.
- Dizer a verdade é o melhor caminho na minha opinião.
- Curioso você dizer isso. – Alart se virou para ela. – Porque eu sinto que você está mentindo pra mim sobre algo desde aquela noite na floresta.
Sunny praticamente pulou da cama, pegou seu xale e se dirigiu à porta. – Vou ver a Ane. Preciso falar com ela.
- Sunny, para de fugir de mim, caramba! – Ele se aproximou, mas ela nem o olhou e seguiu para a porta.
- Não estou fugindo, eu tenho que ir lá...
Assim que ela abriu a porta, ele se aproximou por trás, ágil como...como...bem, como um felino ne, duh. Ele bateu a porta com a palma da mão, a segurando fechada, prensando Sunny entre ele e a porta. Ela se virou e olhou para os pés.
- Eu não estou com muita paciência, raio de sol. Fale de uma vez. Aqueles filhos de um tronco podre abusaram de você? É isso?
- Não... – Sunny não tinha coragem de olhar pra cima.
- Então você sabe mais alguma coisa e não quer me dizer. – Não era uma pergunta.
- Por favor... Me deixe ir...
- Fale.
- Não.
- Por quê?
- Porque não quero te ver sofrer. – Sunny olhou para ele, implorando com os olhos para ele não perguntar mais. – Preciso ir...Ane...
- Ane tem a Rainha para cuidar dela e Done que teria a zorra de um braço por ela! Pare de me enrolar...
- Ane está grávida. – Sunny soltou.
Alart ficou mudo por dois segundos. – Grávida?
- Sim. Não sei se ela já percebeu e preciso avisar pra ela se cuidar.
- Done?
- Claro né, Alart! De quem mais seria? Da Rainha? – Sunny revirou os olhos, ficou na ponta dos pés, o beijou rapidamente e, se aproveitando da surpresa dele com a notícia, saiu. Foi por pouco...
~o ⭐ o~
- Temos apenas uma chance... Faça seu trabalho direito e vamos comemorar no meu quarto mais tarde. – Arman ordenou. – Notícias da garota?
- Ainda não. – Téo disse, a raiva fervendo. A vontade de esmagar a cabeça do rei numa pedra era enorme.
- POIS ENTÃO ACHE-A! COMO VOU GERAR UM NOVO HERDEIRO SEM ELA?!
Você não vai gerar nada, seu merdinha burro. Téo pensou e acenou humildemente.
~o ⭐ o~
Done cruzou os braços e tentou pensar em paisagens bonitas para se acalmar. Ok que ele pensou nas paisagens pegando fogo segundos depois, mas o que valia era a tentativa ne.
- Quer uma taça de florevinho, filho? – Calíope pegou duas taças e começou a servir.
- Ah, claro, mãe. Uma taça de florevinho e uma facada nas costas pra acompanhar. –
Done debochou.
Calíope abaixou a garrafa na mesa e respirou fundo. Ia ser uma conversa tensa.
- Filho...
- Sim....filho...sou eu. Não que pareça importar tanto já que não te impediu de...PEGAR
A MINHA NAMORADA! – Done deu um chute numa cadeira a jogando longe.
Calíope nem se abalou quando a cadeira passou a meio metro de sua cabeça, atingindo a parede atrás dela.
- A MULHER QUE EU AMO! A ÚNICA QUE FINALMENTE VALE A PENA! QUE EU QUERIA TORNAR MINHA ESPOSA! MÃE DOS MEUS FILHOS....DOS SEUS NETOS! – Enquando gritava, ele deu vários socos na parede ao seu lado, abrindo um buraco na grosa parede. – PODIA DAR UNS AMASSOS EM QUALQUER UMA! ATÉ NAQUELE IMBECIL PATÉTICO E CRIMINOSO
DO ISMIR! OU O SVEN! OU AQUELA SACERDOTISA VESGA QUE A SENHORA ACHA LINDA!
QUALQUER UMA! PORQUE A MINHA ANE?! MINHA. ANE. PORQUE?!?? – E mais três cadeiras, uma mesa e quatro vasos foram destruídos.
- Já acabou? – Calíope perguntou a um Done estava ofegante. – Agora me escute. Sei que você a ama. Acha que não tentei ignorar o que sinto por ela? Done, se fosse um interesse físico, algo passageiro, nunca teria me aproximado dela. Mas não pude evitar... Eu a amo.
- Pff! – Done passou a andar nervosamente como um animal selvagem enjaulado. –
Ama...sei...
- Sim, amo. E sei que isso dói. Acredite, meu filho, dói em mim te ver sofrer. Eu sou sua mãe e sempre fomos amigos. Eu quero um neto e você não e exatamente um grande fã de relações mais sérias. Acha que eu arriscaria tudo isso por algo apenas sexual?
Done sabia que ela falava a verdade. Mas ainda doía e ele ainda queria quebrar alguma coisa. Done se sentou em uma poltrona, com a cabeça entre as mãos. Calíope respeitou o momento dele. Era algo que ele herdou dela, a cabeça quente, a necessidade de um tempo para acalmar a vontade de destruir tudo ao redor.
Done levantou a cabeça, os cotovelos apoiados nos joelhos. O que ele viu, o que ele estava vendo antes mesmo de saber da relação delas, atingiu o coração e a consciência dele. – Você a ama.
- Amo.
- Que merda. – Ele murmurou. – Eu devia raptar ela e levar pra uma caverna em algum lugar da floresta inexplorada.
- Você é vaidoso demais. Não sobreviveria em uma caverna como um selvagem.
- Ser lindo tem seu preço, mãe. – Done brincou.
Calíope sorriu, embora tentasse se manter séria. Era um dom de seu filho. Ela nunca conseguia ficar séria por muito tempo ao lado dele. – Não vou me desculpar por isso, filho.
Apenas saiba que se eu pudesse escolher, teria me apaixonado até pelo fantasma de Leviatã só para não ferir você.
- Credo, mãe! – Done se arrepiou todo e bateu na madeira. Ele nunca ia admitir, mas sempre teve medo do lendário Leviatã. Um medo comum em toda criança Tiger, mas que ele, supersticioso como era, nunca conseguiu perder. – Não chama que atrai. Olha... Não vou dizer que estou feliz porque não estou. Mas...sei que Ane será bem cuidada e amada, e vice versa. Vocês duas, Alart e Sunny são as pessoas que mais amo nesse mundo. A felicidade de vocês é muito importante pra mim.
- Mas....?
- Mas eu não posso ficar aqui. Não por um tempo, pelo menos.
- Você precisa ficar longe um pouco.
- Sim. Se a guerra eclodir, não ficarei aqui de qualquer forma por causa das batalhas.
Mas se o plano de Alart der certo, peço que me deixe ficar ao lado dele por um tempo como apoio tático e político.
- Claro. Eu sinto falta do meu filho, mas você sempre foi bastante ocupado.
- Não é para sempre. Eu só preciso...
- Não se preocupe. Eu entendo.
- Aquele florevinho ainda vai rolar? – Done perguntou com um sorriso que não alcançou os olhos.
~o ⭐ o~
- Isso é bom. – Ane suspirou.
- É? – Sunny esperava um surto, choro, seguido de aceitação e preocupação. Não aquela calma, felicidade...
- Claro. Eu gostaria de ter um filho quando minha carreira estivesse mais estabilizada, o pai não fosse filho da pessoa com quem estou agora, eu estivesse casada.... Mas, sabe, depois que Jana morreu, uma moça tão enérgica e cheia de vontade de viver, eu percebi o quanto nossas conveniências sociais são tolas no fim das contas. Esperar pra que tudo seja perfeito para fazer algo é desperdiçar a vida. Além do mais, se eu tivesse que escolher um felino para ser pai de um filho meu, seria alguém como o Done. Alguém que eu sei que será um ótimo pai, que se um dia eu não estiver mais neste mundo, meu filho terá um pai tão maravilhoso quanto o que eu tenho.
- Puxa... Done tem razão quando diz que você é extremamente sábia, não apenas inteligente. – Sunny disse, admirada. – O que você precisar, conte comigo. Eu não sei nem como é criar alguém. Digamos que não tive uma boa referência ne, mas vou ajudar no que puder.
Ane pegou uma mão de Sunny. – Eu agradeço, amiga. Agora só preciso mesmo de coragem para contar pro Done e Calíope...
- O que foi? – Sunny notou uma tristeza repentina na amiga.
- Acho que vou perder a mulher que amo ne.
- Ue, porque?
- Porque eu...
- Não seja boba, Ane! A Rainha olha pra você como se fosse a joia mais rara da coroa.
Duvido que ela vá querer terminar a relação de vocês por causa disso. Claro que...é meio confuso...mas vocês vão acertar as coisas. Quanto ao Done....
- Done vai surtar. – Ane deu um sorriso tímido.
- Eu? Surtar porque? – Done entrou com a mãe do lado.
- Não sei como dizer isso... – Ane olhou para ele, para a rainha e depois para a amiga implorando silenciosamente por uma dica do que fazer.
- Não olha pra mim. Sabe que sutileza não é meu forte. – Sunny sorriu e apertou a mão de Ane.
- Eu... Vou....Nós vamos....
- Eles vão. Tu irás... – Done brincou e Alart entrou bem nessa hora, pronto para apoiar o amigo.
- É SÉRIO, DONE! – Ane se irritou com o humor dele. – EU PROCURANDO UM JEITO
PRA FALAR QUE TO GRÁVIDA E VOCÊ FAZENDO PIADA! PARECE QUE NÃO CONSEGUE FALAR
SÉRIO POR MEIO MINUTO!
A cara de Done era cômica. Com olhos e boca arregalados, seu queixo parecendo que ia tombar no chão. Calíope estava parecendo uma estátua, felicidade e tristeza igualmente estampadas em seu rosto.
- Grá...grá..graávida? – Done sentiu os joelhos tremerem. Ane então percebeu o que tinha dito e colocou as mãos na boca, desejando que um buraco se abrisse pra ela se esconder dentro dele.
- Depois eu que não sei ser sutil, heim. – Sunny sorriu para a amiga que olhou torto para ela.
- Como grávida? Como issoiss...isso aconteceu? – Se Alart não tivesse sutilmente colocado uma mão nas costas dele o apoiando, Done teria caído.
- Ah pronto. Vou ter que te ensinar como funciona isso agora? – Ane cruzou os braços e olhou para Calíope, sentindo um aperto no coração.
- Não...quer dizer...eu sei....quer dizer...Grávida? Tipo....de um bebê felino?
- Não, Done. De uma pedra lunar. – Sunny respondeu.
- Done, é melhor você assumir sua responsabilidade com seu herdeiro. Não criei um animal, mas sim um felino digno. – Calíope disse e, pelo seu olhar, ela não estava brincando.
- Mas é claro que vou cuidar do meu filho! Que ideia, mãe! Eu só...só estou...surpreso.
- Se você não falasse ninguém ia notar. – Alart disse.
Calíope se virou para sair. – Vamos deixar vocês conversarem...
- Cali... – Ane chamou com uma tristeza que chegava a doer fisicamente.
- Não se preocupe, An. Vamos conversar depois. – Calíope saiu sem dizer mais nada, se sentindo sufocada com a dor.
Depois que todos saíram, Done sentou do lado de Ane, olhando para frente. Depois de alguns minutos de silêncio, ele disse: - Grávida?
- Done!
- Desculpa. É o choque. – Ele se virou para ela e segurou sua mão. – Minha filha terá tudo que uma Tiger herdeira do reino deve ter. Mas, acima de qualquer coisa, ela terá em mim um amigo como minha mãe foi para mim. Isso eu garanto. Legalmente, ser casada comigo a tornaria rainha quando eu me tornar rei, mas não é um pré requisito para que minha filha herde o trono. Na verdade, nem sei se existe uma lei tosca com esse requisito.
Enfim...Você sabe que eu daria qualquer coisa para ser seu marido.
- Você meio que deixou isso bem claro desde o início. – Ane respondeu.
- Mas não é o que você quer, certo? – Done perguntou.
- Sinto muito, Done... Mas...
- Vocês se amam. – Ele completou. Era mais fácil do que ouvir essas palavras saindo dos lábios dela.
- Sim. – Ane respondeu, quase chorando. – Desculpa.
- Não, Ane. Não dá para controlar essas coisas. E sei que vocês se amam. Minha mãe nunca esteve com ninguém seriamente. Apenas com meu pai algumas noites para gerar um herdeiro e depois, em raras ocasiões, uma amante aqui e ali. Mas nunca vi os olhos dela brilharem desse jeito. Nem os seus. – Ele levantou uma mão para ela se calar. – Sempre soube que você não me amava. Que gostava de mim, que sentia atração, mas não amor. Eu esperava poder conquista-lo, mas... Enfim. O que quero deixar claro é que você é a pessoa mais doce que já conheci e fico feliz que minha filha seja sua também. Mas não me casarei com você, a menos que você queira, nem vou interferir na relação de vocês.
~o ⭐ o~
Calíope não conseguia dormir, então foi caminhar pela mais antiga ala do palácio onde ficava a maior biblioteca do planeta. Ela raramente ia ali, mas Ane vivia lá trabalhando e a Rainha queria estar em um lugar que a lembrasse de seu amor. Para sua surpresa, Ane estava lá com Sunny e Alart conversando.
- Oh... Não sabia que vocês estavam aqui. Vou deixa-los em paz. – Calíope começou a se virar para sair, mas Sunny foi até ela e a guiou para dentro.
- Sente-se conosco. Afinal esse lugar é seu, não é. – Sunny guiou a rainha para se sentar na cadeira vazia ao lado de Ane.
Alart olhou para ela por cima de sua xícara, com um sorriso. Minha Sunny... Sempre nenhum pouco sutil.
Ane pensou se pegava a mão da Rainha, meio sem graça. Calíope não sabia o que Ane e Done tinham decidido, não sabia o que fazer.
Sunny serviu uma xícara de chá para a Rainha. – Finalmente vai ser vovó, heim. Soube que a senhora sempre quis ter um neto.
- Sunny. – Ane olhou pra ela surpresa e tensa.
- O que? É verdade ue. – Sunny respondeu.
- Ela tem razão. – Done apareceu com uma colcha sobre os ombros feito uma criança que não conseguia dormir. Ele tomou a cadeira que era de Sunny e se sentou de frente para a Rainha, ao lado de Alart. – Minha mãe sempre quis ser avó. Pelo menos vai parar de me encher sobre isso. Além de cuidar bem da mulher que ela ama.
- Mas...vocês... – Calíope olhou entre os dois.
- Não vou casar com ela. Não vou separar duas pessoas que se amam. Dá azar. – Done disse.
Calíope conteve a alegria, mas segurou a mão de Ane sob a mesa.
- Você ta no meu lugar. – Sunny disse.
- Perdeu, raio de sol. – Done brincou.
- Ei! Só eu posso chamar ela assim! – Alart disse.
- Done, sai do meu lugar. – Sunny cruzou os braços, de pé ao lado de Alart.
- Calma, raio de sol.
- Done, vou socar sua cara. – Alart disse.
- Sai, Done. Eu quero sentar. – Sunny fez beicinho.
- Senta no meu colo, raio de sol. – Done deu um tapinha no colo, com seu sorriso sedutor estampado na cara, pronto para o pití de Alart.
- Ah, mas só sobre o meu cadáver!
- Uai! – Sunny deu um gritinho quando Alart a puxou para o seu colo, fazendo cara feia pro amigo que ria descontroladamente e roubava o chá de Sunny a sua frente.
- Nunca falha. – Done disse, quase sufocando de rir.
- Eles sempre foram assim? – Ane sussurrou para Calíope.
- Done perturbado da cabeça e Alart caindo nas brincadeiras idiotas do meu filho? –
Calíope respondeu. – Sim. Só está pior agora porque Done descobriu como tirar o amigo do sério.
Ane colocou uma mão na frente da boca enquanto ria.
- Toma um chazinho, querida... – Done fez menção de colocar a xícara na boca de Sunny, mas Alart deu uma pisada em seu pé. – Ai!
Alart pegou sua xícara e colocou na boca de Sunny. – Idiota. – Ele disse para Done que riu mais ainda. Instintivamente Ane colocou uma mão protetora na barriga, feliz e doida para contar aos seus pais sobre seu filho.
- Não xingue perto da minha filha. – Done disse. – Ela pode aprender.
- Done, ela nem nasceu ainda. – Calíope disse.
- Filho. – Ane corrigiu.
- O que? – Done perguntou.
- Você sempre chama de filha, mas pode ser um menino. – Ane esclareceu.
- É menina. – Done disse com uma certeza incontestável.
- Como você sabe? Ainda é cedo... – Ane perguntou.
- Eu sinto. É menina. – Done disse sem nenhuma sombra de dúvida. – Vai ser linda, irresistível e séria, como eu.
- Socorro. Outro Done no mundo eu não aguento. – Ane arregalou os olhos.
- O mundo não aguenta, querida. – Calíope entrou na brincadeira.
- Eu sei que é perfeição demais, mas vocês, meros mortais, vão ter que aprender a conviver com isso. – Done sendo Done.
- Se herdar a modéstia do pai estamos todos perdidos. – Sunny riu.
Naquele momento um forte tremor sacudiu o palácio Tiger, derrubando pedaços de pedras do teto, arquivos e até prateleiras inteiras. Quando o tremor parou, a poeira tornava impossível enxergar o que antes tinha sido uma linda sala bem decorada e iluminada com velas e luzes geradas por magia.
~o ⭐ o~
Não posso conversar agora. Estou preparando a receita para criar uma nova pessoa nesse mundo. Volte mais tarde para assistirmos juntos Barracos de Família. Você vai amar.
Capítulo 16
Lembra o que eu falei sobre planos anteriormente? Bem, é verdade. As consequências de efeitos colaterais atrapalham muito. Mas sabe como elas atrapalham ainda mais?
Quando planos são armados por alguém que tem mais ego do que inteligência.
~o ⭐ o~
- Feito. – Téo disse.
- Ótimo. Agora vamos para a parte dois. Meu povo já deve estar agitado. – Arman se levantou.
- Vamos usar o visor para confirmar o estado da devastação?
- Não precisa. O local que mandei você atacar é perfeito. Garanto que todo o palácio caiu como uma casinha de areia. – Arman riu.
Idiota. Téo acenou calmamente e saiu com o Rei, acertando os detalhes da busca à Sunny que mudaria de direção novamente.
~o ⭐ o~
- ALGUÉM?! – Uma das Sentinelas, a guarda pessoal da Rainha gritou no que pareceu vir de quilômetros de distância. – ALGUÉM AI?
À sua esquerda, idiota! Uma voz ecoou na mente da Sentinela.
Ela virou de um lado para outro.
ANDA LOGO! A voz ordenou fazendo a Sentinela instintivamente correr na direção indicada. Ali.
A Sentinela sentiu um impulso para uma enorme rocha específica, sentindo que devia movê-la. – Senhor! Aqui. Me ajude.
- O que foi? Oh céus! – Sven suspirou vendo a devastação. Parte do teto havia desabado, não existia nenhuma das pesadas estantes de pé, o chão era um amontoado retorcido de entulho, livros, arquivos, pedras mágicas e objetos diversos. Ele mesmo estava sujo, suado, maltrapilho, com uma expressão de pânico mal controlado. – Nari, não temos tempo para isso. Temos que encontrar a Rainha, o jovem Príncipe e seus amigos.
- Rápido! – A Sentinela, Nari, pegou a rocha enorme em uma extremidade. – Sven!
Está quente como um vulcão!
Sven correu e ajudou Nari com uma esperança crescente. – AQUI, AJUDEM!
Guardas e Sentinelas correram para dentro do local e tiraram várias rochas até que um dele deu um grito.
- Eu....queimei a mão. – O Guarda exibiu uma queimadura leve nos dedos.
- Aqui... Rápido... – Veio o apelo debaixo daquele caos.
Uma luz suave emanou nas mãos de todos que estavam ajudando com as pedras, protegendo-os parcialmente do calor e das queimaduras. - Se apressem. – Uma maga com algo que parecia ser uma longa camisola, mas que agora estava toda suja e rasgada, com um olho meio torto, estava na entrada, ostentando o símbolo das Sacerdotisas de Kallisti tatuado no ombro.
Pedra por pedra, fragmento de vidro e ferro, tudo foi retirado, revelando uma cúpula gigante de fogo que visivelmente estava enfraquecendo. Quando a cúpula se desfez, revelou Sunny, Alart, Done e Ane desmaiados. Sunny com um corte na cabeça estava abraçada sob Alart que parecia uma névoa negra em forma felina, com luzes brancas oscilando no interior. Done tinha pulado sobre a mesa obviamente tentando alcançar e proteger Ane, mas perdendo a consciência no meio do caminho. Ane estava caída de lado com os braços sobre a barriga. Calíope estava sobre um joelho, com as duas mãos para cima, os braços tremendo violentamente, os olhos perdendo o foco. Assim que notou seus aliados socorrendo eles, ela caiu para frente e perdeu a consciência.
~o ⭐ o~
- Acorda! – Ciara chacoalhou o marido que roncava alto na cama.
- O que foi... Já tenho que ir trabalhar? – Hieron perguntou, sonolento.
- O Rei atacou o palácio Tiger. – Ciara jogou uma camisa de qualquer jeito para ele.
- Merda. Outra guerra... Porque com certeza vai dar nisso. – Hieron bocejou enquanto Ciara andava de um lado para outro colocando coisas na bolsa. – Querida, mas... Não podemos fazer nada. Pra que essa presa?
- Tentei falar com Ane, mas ela não responde.
- Amor, nossa filha dorme na casa mantida pela Universidade. Além disso, estamos no meio da madruga. Nossa bebê deve estar dormindo.
Ciara se acalmou um pouco, mas ainda precisava falar com Téo, entender o que tinha dado errado. O plano era atacar quando Ciara tivesse dado a desculpa de estar doente para fazer sua filha sair de Tiger e ir visita-la. Isso aconteceria só dali a dois dias. Até porque precisavam encontrar Sunny para colocar mais do poder da garota na arma, o que causaria a destruição total do gigantesco palácio e da região próxima, num raio de 8 quilômetros.
- Vem deitar, amor. Precisamos mesmo de um descanso para enfrentar a crise que com certeza virá. – Hieron bateu no colchão ao seu lado.
- Vou andar um pouco pelo jardim. – Ciara se dirigiu para a porta.
- Vou com você. – Hieron bocejou, morrendo de cansaço.
- Não, querido. – Ciara deu um beijo rápido nele e o empurrou gentilmente de volta para a cama. – Você precisa dormir. Não quero que um martelo escorregue da sua mão e te mate.
- Amor, isso seria insanamente ilógico. – Hieron sorriu e se deitou, dormindo quase imediatamente.
Essa sorte eu não tenho. Ciara pensou e saiu.
- Foi rápido. – Téo saiu de trás de uma árvore alta.
Ciara deu um tapa no braço dele. – Que ideia foi essa de atacar aquele lugarzinho de quinta categoria! Podia ter ferido minha filha!
- Sua filha só vai ao palácio algumas vezes durante o dia. Não passa o tempo todo lá. –
Ele colocou a mão no pescoço dela, apertando com força mediana, a empurrou contra a árvore e a beijou. – Além do mais, culpe o idiota do Arman. Ele que acelerou o ataque. – Ele soltou o pescoço dela, mas prensou seu corpo a prendendo contra o pau....
Da árvore, gente!
- Pelo menos o ataque foi eficaz? – Ela perguntou se esfregando nele o melhor que pôde.
- Não sei. O idiota não verificou. Mas acredito que sim. Mesmo com a arma sem a força total, ainda tinha o suficiente para fazer um belo estrago e destruir o palácio.
- Qual local de ataque Arman escolheu?
- Os aposentos reais. – Téo sorriu. – Com a força do ataque, além daquela ala, com certeza destruiu tudo, sobrando, talvez só o muro externo. Só lamento pelo Templo de Kallisti. Era tão lindo... – Ele a ergueu, fazendo com que ela prendesse as pernas ao redor de sua cintura. - Mas Kallisti vai nos perdoar por essa pequena travessura.
Não vou não.
- Então é melhor comemorarmos. Deixa eu tirar esse gosto ruim do Rei da sua boca e do seu grande amigo aqui. – Ciara se esfregou mais nele e os dois não deram a mínima para o fato de que Hieron estava dormindo no quarto do segundo andar, cuja janela dava para o mesmo jardim em que eles gemiam feito animais no cio.
~o ⭐ o~
- Como elas está? – Calíope começou a dizer antes mesmo de abrir os olhos, saindo da cama.
- Majestade, é melhor se deitar, a senhora se esgotou quase completamente... – A Sacerdotisa disse, caminhando para a rainha.
- Ane... Ela está...
- Grávida. Sim, percebi no exame. Mas não se preocupe, minha Rainha. Ela e o bebê estão bem, apenas escoriações e o susto mesmo.
- E meu filho?
- Teve um trauma em duas costelas, mas está bem. E irritado. Muito. Muito irritado.
- E...
- A jovem Tiger teve um ferimento preocupante na cabeça, mas a operamos e ela está em observação agora. O príncipe leonino está com ela.
- É melhor se deitar, majestade. – Sven entrou, cansado e pronto para tentar acalmar mais um Tiger cabeça dura.
- Qual a extensão dos danos na cidade? – Calíope ignorou o conselho e passou a colocar seus sapatos.
- Majestade, tente desc...
- Sven! É uma ordem. A extensão dos danos. Agora. – Calíope se levantou tremendo.
- Na cidade, nenhum dano detectado. – Sven suspirou, cansado e aliviado por saber que pelo menos não teria que sustentar o reino nas costas até que fosse decidido o que fazer com o trono vago. – No palácio está tudo relativamente bem. O ataque foi direcionado aos seus aposentos e, consequentemente, ao Templo de Kallisti relativamente próximo. Os danos nos aposentos reais foram significativos. Áreas mais altas, como as alas dos arquivos foram atingidas pelo tremor do ataque e uma parte da energia de ataque que chegou nesses locais primeiro devido a altura. No Templo, apenas as áreas externas do lado Leste foram atingidas. Até o momento não foram detectados danos na estrutura, mas os jardins, altares externos, fontes e o aviário com os pássaros em tratamento não puderam ser salvos.
- E todas estamos muito tristes pelos pobres animais. – A sacerdotisa lamentou.
- Alguma sacerdotisa ferida? – Calíope perguntou.
- Não. A maioria estava dormindo nos aposentos do lado Oeste e outras estavam no altar principal fazendo a vigília de costume. Sentimos apenas o forte tremor e o som horrível. – A sacerdotisa respondeu.
- Pelo menos o dano foi menor do que imaginei. – Calíope se sentou na cama, incapaz de continuar de pé. – Demos o azar de estar no lugar errado...
- Não, majestade. Vocês deram sorte. – Sven comentou. – Se não estivessem nos arquivos, estariam dormindo e... Nem quero imaginar...
Calíope se levantou e colocou uma mão no ombro do Tiger, imaginando o quanto deve ter sido difícil para ele acreditar que a Rainha e o único herdeiro conhecido do trono mortos. – Vá descansar, meu amigo. Você fez um excelente trabalho, como sempre, mas preciso que vá descansar. Teremos um dia bem longo e umas bundas leoninas pra chutar.
- É, velho. – Done chegou com uma mão na lateral de seu corpo. Uma sacerdotisa de cura obviamente contrariada o seguia tentando impedir que ele fizesse esforço e, claro, falhando. – Você não é mais um jovenzinho pra ficar saltitando por aí no meio da madrugada.
- Eu não sou velho, rapaz. – Sven ergueu o queijo orgulhoso. – Sou....experiente.
A sacerdotisa chefe sinalizou para a jovem sair e a moça obedeceu aliviada.
- Ou seja, velho. – Done sorriu.
- Você devia estar na cama, meu filho. – Calíope reclamou.
- A senhora também, mãe, mas obediência nunca foi o forte em nossa família.
- Vamos, Sven. – A Sacerdotisa chamou e Sven, como um perfeito cavalheiro, enlaçou o braço no dela. – Não adianta tentar fazer esses dois obedecerem a um repouso mesmo.
- Ah, Sven. – Calíope chamou. – Quem era a jovem que nos salvou?
- Oh, sim. Nira.
- Não me refiro à Sentinela. Mas é bom saber que ela nos ajudou. Vou me lembrar de recompensá-la.
- A quem se refere, majestade? Ela nos guiou com uma história estranha sobre vozes em sua cabeça. Claramente, produto de trauma. – Sven comentou, fazendo uma nota mental para indicar um tratamento da mente para Nira.
- Uma voz jovem. Não foi trauma, Sven. Eu também ouvi. Até me perguntou se eu estava bem.
- Também ouvi, mas pensei que era um sonho. – Done comentou.
- Curioso. Não reconheceu a voz, majestade? – A sacerdotisa perguntou.
- Não. Nunca a ouvi.
- Nem eu. – Done confirmou.
~o ⭐ o~
- Scylla.
- Senhor Hieron.
- Você se assustou com o tremor de ontem?
- Acredita que nem vi? Eu dormi tão pesado ontem que foi até difícil acordar hoje. –
Scylla sorriu, seus longos dentes brancos quase brilhando sob o sol.
- Eu também. – Hieron sorriu. – Só acordei porque minha esposa se assustou. Sabe...
Minha filha está em Tiger e Ciara acabou entrando em pânico.
- Oh, é mesmo. – Scylla pegou a cesta das mãos do leonino. – E como elas estão?
- Ane mandou um recado hoje cedo através do príncipe Tiger. Sabe como é. Com tudo o que aconteceu, as comunicações estão muito restritas. Mas ela está bem. Disse que tem uma ótima notícia.
- Isso é bom. Em tempos difíceis, boas notícias são uma bênção divina. – Scylla disse.
- Sim. Estou curioso. Quanto à minha mulher, ela está bem. Saí e ela ainda estava dormindo esgotada. Deve ter ficado até de manhã acordada, preocupada.
- O senhor virá para o pronunciamento do Rei?
- Claro. Não gosto dessas coisas, mas é importante se manter informado nesses momentos. – Hieron se despediu da moça.
Ela se virou para entrar no palácio leonino, passou pela porta e jogou a cesta em um canto no chão. Scylla pegou o vestido leve, azul claro, semi transparente, tirou a roupa pesada que usava e se trocou.
- Bom dia, Scylla. – Uma jovem a cumprimentou assim que passou pela porta.
- Bom dia. Como estão todos?
- Bem. Só uma das amigas da Rainha que não acordou ainda.
- Scylla, que bom que chegou, criança. – A sacerdotisa apareceu e as duas jovens se endireitaram.
- Senhora. – Scylla saudou sua mestra.
- A Sacerdotisa do Templo de Kallisti convocou curandeiras de todos os templos menores para ajudar no palácio. Você foi uma das selecionadas. Venha comigo.
Scylla conteve sua preocupação e seguiu sua mestra até o escritório dela.
~o ⭐ o~
Sunny acordou com uma dor de cabeça chata que não passava de jeito nenhum. Ao tentar se levantar, sentiu sua mão pesada e olhou para ela, se deparando com Alart sentado no chão, dormindo com a cabeça apoiada no colchão e segurando sua mão.
Ao sentir um movimento sutil, ele acordou. – Sunny!
- Oi. – Ela sorriu.
Ele resumiu o que havia acontecido, sempre beijando seu rosto, aliviado por vê-la acordada de novo. Logo Ane fugiu de seu quarto para o de Sunny, deitou do lado dela na cama, quase sentadas com as costas apoiadas na cabeceira, fofocando.
- Eu tenho que avisar pra minha mãe se proteger...
- Não. – Sunny disse.
- Como assim “não”? – Ane olhou para a amiga. – Eu sei que ela não agiu certo com você e ainda não entendo o motivo, mas ela é minha mãe, Sun. Tenho que avisar pra ela sair de perto do rei e se proteger.
- Sua mãe não precisa de proteção, Ane.
- Sunny! Minha mãe não é um monstro!
- Ane. Ela estava no meu cativeiro também.
- Isso não faz sentido. Não foi o Rei...
- Ela só está usando ele.
- Do jeito que você fala, até parece que minha mãe é uma vilã perigosa, assassina...
- Ela é.
- Acho melhor a gente mudar de assunto. Vou pedir pra falar com ela...
- Ane, não quero te magoar, mas também não quero mentir. Já menti pro Alart e não gosto disso. – Sunny suspirou.
- No que você mentiu? – Ane perguntou.
- Sua mãe e Téo falaram de mortes que eles tinham causado. Eu sei quais mortes são essas.
- Mesmo se fosse verdade, aposto que minha mãe não fez por querer. Ela pode ter sido ameaçada....
- Ela matou a mãe do Alart a mando do Rei. – Sunny disse. – E...
- E...?
- Jana. Sinto muito.
Ane saiu da cama em um pulo, furiosa. – Você não pode falar essas coisas sem saber!
Você não...você...
Alart e Done foram levar um lanche para Ane e, não a encontrando no quarto, seguiram para o de Sunny onde acreditavam que elas estariam. Ao entrar, viram essa cena e se aproximaram.
- O que aconteceu? – Alart perguntou.
- Pergunta pra ela! – Ane disse entre lágrimas.
- Eu só disse a verdade. – Sunny respondeu, sua cabeça doendo mais ainda com a histeria de Ane.
- Ela acusou minha mãe de.... – Ane desabou no choro.
- Você falou pra ela do caso com Téo? – Done perguntou incrédulo, com Ane chorando em seu peito.
Sunny olhou feio para ele e Ane se afastou para olhar em seus olhos.
- Que....que...caso... Grande Kallisti... – Ane sentiu seu mundo desabar. Sua mente exibiu vários momentos aparentemente inocentes, mas que, pensando bem, eram suspeitos. Nunca fizeram sentido porque ela nunca imaginou seu tio e sua mãe como amantes. Mas agora? Agora parecia tão evidente.... – Não. Eu....
Done se chutou mentalmente por falar demais.
- Minha mãe...traindo meu pai....e matando Jana e a rainha? Isso...não pode ser.
Alart enrijeceu e Sunny evitou seu olhar.
- Que...rainha? – Ele perguntou, já sabendo a resposta pela reação dela.
- Arman encomendou a morte de sua mãe para Ciara, por isso ele agradeceu dando tanto poder no palácio pra ela. E ela e Téo mataram Jana porque a menina viu eles dois se pegando. Pronto, falei. – Sunny soltou de uma vez.
~o ⭐ o~
- Leoninos, irmãos, meus filhos! – Arman falou de uma varanda para uma multidão abaixo. – Nós somos um povo de paz. Porém, mais uma vez, os Tiger, sempre descontrolados, nos atacaram sem motivos. Ontem recebi a notícia da morte de meu filho, nosso amado Alart, pelas mãos da Rainha que já planejava também nos atacar.
Infelizmente, não tive outra opção a não ser revidar. Mostrar para eles que não somos indefesos, fracos!
Téo ao lado de Arman observava o discurso com expressão solene. O povo parecia revoltado, louco para vingar a morte do jovem herdeiro do trono, tão amado e respeitado.
- Hoje, com a morte da Rainha e do Príncipe Tiger, vamos tomar o reino deles e nunca mais eles vão ter coragem de nos atacar! – Arman disse.
Hieron que ouvia da multidão, mantinha os braços cruzados, sério. Isso é loucura. Se já vingou a morte do príncipe, guerrear é desnecessário... Ainda bem que não sou político.
Scylla ao lado deles, cumprimentou Hieron e Ciara, depois se virou e saiu. Logo as coisas ficariam difíceis.
~o ⭐ o~
Só tenho uma coisa a dizer: detesto burrice e incompetência.
Capítulo 17
Gosta de confusão? Não? Então o que está fazendo aqui? Ok, ok. Hoje só coisas bonitas e pacíficas. Sério....
~o ⭐ o~
No palácio Tiger, Calíope estava consolando Ane que chorava sem parar. O dia todo a moça se manteve forte, deixou o assunto pesado de lado, mas agora, na cama com a cabeça no peito da Rainha, Ane não conseguia parar de chorar. Mais cedo Sunny pediu para a Sacerdotisa de Kallisti testar sua memória na frente de Ane, Calíope, Done, Alart e Sven para mostrar o que ela tinha ouvido em seu momento dentro do cristal. Apesar da confusão de Sunny naquele momento, a voz de Ciara era clara para todos. Não só a dela, como a de todos que passaram por aquele cativeiro. Além de uma voz que nenhum deles conhecia, nem mesmo Sunny. Ane passou mal com a emoção e Sunny desmaiou, caiu e os pontos na cabeça começaram a sangrar. A Sacerdotisa socorreu as duas, com ajuda de uma jovem sacerdotisa de um templo menor na cidade.
- Meu pai... – Ane chorava de um jeito que quase não conseguia mais respirar. –
Ele...ele não merecia isso...
- Não. Ele parece um bom felino. – Calíope deixou sua magia fluir para as mãos, criando um calor suave e o usando para passar a mão na coluna de Ane, acalmando um pouco a jovem.
- Eu conto pra ele? Eu não conto? O que eu faço? – Ane desabou no choro de novo.
- Ane, meu amor, você precisa se acalmar. Isso não vai fazer bem para o bebê.
Mas Ane não parava, soluçando, numa tristeza de dar dó. A moça só parou de chorar quando, exausta, desabou em um sono pesado.
~o ⭐ o~
- Mãe. Está quase na hora. Eu sei que a senhora não aprova o que tenho feito todos esses anos, mas... É necessário. – Scylla limpou o túmulo simples e sem nome, colocou uma flor vermelha-vibrante sobre a pedra e limpou uma lágrima teimosa. – Parece até castigo seu por tudo que tenho feito. De tantos felinos pra amar... Eu não podia sentir isso por qualquer outro? – Ela suspirou. - Pede por mim aí para Kallisti. Vou precisar de toda proteção que puder conseguir.
Ela se levantou, jogou um beijo para o túmulo e um para o céu como era costume, caminhou por trás de uma árvore dentre as muitas naquela floresta semi-densa e o cenário ao seu redor assumiu a forma conhecida do palácio, embora agora aquela área fosse mais escombros do que qualquer outra coisa.
- Você!
Scylla se manteve calma e pensou se havia cometido algum erro na passagem, algo que pudesse denunciá-la. Nunca acontecera antes. Ela sempre foi cuidadosa. Mas...
- Senhora? – Ela sorriu inocentemente.
- O que faz nesses escombros? – A Sentinela pareceu intrigada.
- Vim rezar pelas almas das pobres aves que perderam a vida sem motivo. – Scylla respondeu tristemente. Não era mentira, mas também não era totalmente verdade.
- Claro. Entendo. Se para aqueles acostumados com a morte como eu já não foi fácil ver pobres animais morrerem assim, imagino para jovens sacerdotisas como você. – Nira ficou séria. – Mas foi bom encontra-la. Preciso de uma de vocês para ajudar nos cuidados de feridos. Venha comigo.
Scylla acenou e seguiu para fazer seu trabalho. Aquela parte do palácio estava tão intacta que nem parecia ter havido uma explosão tão destrutiva do outro lado. Eu preciso dormir. Ela pensou. Além do cansaço extremo pela energia gasta, ela nem se lembrava a última vez que dormira. Scylla treinou seu corpo desde os 10 anos para aquele nível de resistência, mas até ela tinha seu limite. E esse limite estava perigosamente perto de ser atingido.
- Aqui. – Nira sinalizou para uma porta, bateu e esperou a permissão para entrar.
Assim que uma voz respondeu, Nira abriu a porta, passou primeiro e Scylla foi logo atrás, apenas para congelar por alguns segundos antes de seu autocontrole assumir de novo. –
Encontrei uma jovem para ajuda-la. Esta é... – Nira percebeu tarde demais que não tinha perguntado o nome da jovem.
- Scylla, minha jovem, entre. Não sabia que tinha sido convocada. – Sven se aproximou, cumprimentou a moça e a guiou para dentro.
- Quem é essa moça linda, Sven? – Done perguntou com um sorriso malicioso para o velho Tiger.
- Não seja maldoso, Done. Não acho que ela seja namorada dele. – Sunny comentou e Ane escondeu um risinho com a mão.
- Eh, você tem razão. Ele é velho demais para uma moça tão bonita. – Done piscou para ela e Sven ficou na frente da moça protetoramente.
- Eu não sou velho. – Sven disse. – Sou....
- Experiente. – Done, Sunny e Alart disseram ao mesmo tempo, arrancando risos de todos na sala, até mesmo de Scylla.
- Parem com essa bobagem e deixem a garota vir me ajudar. – A sacerdotisa deu um tapinha na mão de Sunny que tentava tirar o curativo sozinha.
- Altezas, ladies. – Scylla cumprimentou educadamente, em voz super baixa, e ficou ao lado da Sacerdotisa. – Em que posso ajudar, Grã-Mestra?
- Segure isso e me ajude com um feitiço de cicatrização. Algo suave. Não queremos atrapalhar o processo natural e deixar o organismo dependente. – A Sacerdotisa orientou e Scylla fez seu exercício mental de ocultação antes de deixar sua magia fluir. Pelo menos um fragmento dela. Mesmo com seu controle, foi impossível não sentir aquela vida de novo, fluindo calmamente.
Ao terminar ela sentiu que realmente precisava descansar. Scylla nunca perdera a consciência perto de ninguém. O que era algo comum quando as novatas treinavam sua magia até aprender seus próprios limites. Mas ela não. Ela não podia perder a consciência ou seria atendida por outros magos de cura e, sem seu controle consciente, levaria menos de dois segundos para eles perceberem sua magia totalmente.
- Aqui. Me ajude a avaliar esta jovem mamãe. – A Sacerdotisa disse e Scylla teria chorado se não fosse tão boa em mascarar absolutamente tudo em sua vida. Ao lado de Ane, as duas usaram seus dons para verificar a mãe e o bebê, guiar o sangue para evitar inchaços e detectar vitaminas que os dois corpos precisavam.
- Tudo bem? – Ane perguntou, estranhando o silêncio de Scylla que evitava até olhar para ela.
- Sim, minha jovem. – A Sacerdotisa respondeu. – Precisa beber mais água e comer menos doces.
- Mas eu fico indo no troninho toda hora e doces me deixam mais....feliz. – Ane deu um sorrisinho.
- Ir no “troninho” toda hora é natural, querida. Quanto aos doces... Menos é sempre melhor. – A Sacerdotisa se virou para Scylla. – Seu plantão termina agora?
Scylla acenou com a cabeça e viu a Rainha passando pela porta comentando algo com Sven. Merda.
- Pode ir descansar, querida. Você parece perto da exaustão. Tome. – A Sacerdotisa colocou um pedaço de bolo na mão da jovem.
- Vamos, Scylla. Eu te acompanho. – Sven colocou uma mão sobre o ombro dela, a guiando para fora, virou a cabeça para trás e viu Done simulando um beijo apaixonado na parte de trás da mão. Sven, como o adulto maduro que era, mostrou a língua para o rapaz e saiu ouvindo a gargalhada de Done e Sunny até metade do corredor.
~o ⭐ o~
Arman e Téo passaram pelas tropas alinhadas perfeitamente no pátio principal do palácio.
- Quando posso mandar atacar? – Arman perguntou.
- A qualquer momento, majestade.
- Ainda não decidi o método de envio, mas pensei no que você disse. Pode ser útil. E
quanto a garota?
- Tivemos uma pista dela em uma caverna, mas, devido a chuva de ontem, não temos nenhum rastro. – Téo respondeu. – Nós vamos encontra-la e a usaremos para a arma.
- Não. Eu já matei a raça imunda dos Tiger reais. A guerra está vencida antes mesmo de começar. Agora Sunny será mais útil como mãe do meu herdeiro. Encontre-a e logo teremos um herdeiro com uma poderosa magia onírica.
- Assim será feito, majestade.
~o ⭐ o~
Calíope terminou a cerimônia colocando o manto e o pequeno cetro nas mãos de Sunny ajoelhada na sua frente. Sunny se levantou e virou para a plateia formada por Alart, Done, Ane e vários nobres, soldados, sacerdotisas, magos, comerciantes, todas as pessoas importantes e de confiança da região.
- Tigers, eu apresento a Duquesa e Ministra do Litoral Selvagem, Sunny Tiger. – Calíope disse oficialmente.
Sven, ao lado da Rainha, sorriu para Scylla na plateia e fez uma nota mental para tentar convencer a menina, mais uma vez, a deixar ele apresentá-la para a Rainha. Em geral, eventos de nomeação e nobreza tinham uma festa e um banquete, mas isso teria que esperar. Calíope dera ordens para que o mínimo de movimento externo fosse realizado no palácio, nem mesmo fazendo um pronunciamento para seu povo ou confirmando se a família real estava viva ou não. Se sua teoria estivesse certa, e ela apostava que sim, logo Arman daria um passo em falso.
Ane guiou Sunny para um quarto próximo e Done levou Alart para outro. Sven procurou de novo Scylla na plateia, mas a moça tinha sumido.
- Parece decepcionado, amigo. – Calíope comentou sem olhar para ele. – Procurando alguém? Uma certa moça jovem e bonita?
- Eerr.. – Sven se sentiu um garotinho pego aprontando.
- Eu vi o jeito que você olha pra mocinha que mais parece muda. – Calíope se virou para ele. – Achei que fôssemos amigos, mas eu nem sabia que ela existia, muito menos que você tinha uma namorada.
- Ela não é minha namorada. – Sven coçou a nuca, sem graça. – Mas é uma mocinha inteligente, bem-humorada, um pouco quieta demais às vezes, mas um doce. Eu queria apresentá-la, mas ela é muito tímida e nunca deixou que eu a trouxesse aqui.
- Ela pode até não ser sua namorada, mas que você gosta dela, aah, gosta. – Calíope brincou.
Algum tempo depois de muita fofoca, mulheres nobres rindo, brincando e ajudando a arrumar a moça, Sunny aguardou o sinal para sair. As portas de cada quarto ficavam próximas da entrada do salão, uma na frente da outra, com a porta principal do salão as separando e um corredor longo levando até onde Calíope aguardava, Sven pouco atrás dela. Done saiu do quarto onde Alart estava e sentou na primeira fileira de bancos logo na frente. Alguns minutos depois, Ane saiu do quarto onde Sunny estava e se sentou ao lado de Done.
- Você está bem? – Ele perguntou baixinho para a moça que tinha os olhos um pouco inchados.
- Sim. – Ane respondeu.
- E minha filha?
- Filho. – Ane corrigiu, embora ninguém soubesse o sexo ainda. – Está bem. Relaxe.
Duas sacerdotisas bateram uma única vez, bem de leve nas portas de cada quarto e abriram totalmente porta principal do salão. Alart abriu sua porta e Sunny a dela. Sven e Calíope de pé no altar viraram de costas e todos os convidados viraram os rostos para o lado oposto ao corredor. Os guardas fazendo a segurança do local olhavam para as saídas e até para o teto. O casal se encontrou no meio do caminho, ficando no centro da saída e do início do caminho. Eles se viraram para o altar, deram as mãos e caminharam firmemente até para no primeiro dos três degraus que subiam para o altar. Todos então se voltaram para frente, olhando atentamente o casal. Alart deu um beijo na testa de Sunny e ela fez o mesmo com ele. Os dois olharam para a Rainha que sinalizou para eles subirem, dando o sinal de que o casamento realmente era uma união testemunhada por todos ali. Os dois subiram e pararam de frente para a Rainha, ajoelhando-se em seguida.
- Filhos de Kallisti, vocês são um casal perante os olhos de quem? – Calíope iniciou o ritual.
- Os nossos olhos. – Eles responderam.
- O que os une?
- A cumplicidade, o amor e lealdade. – Eles disseram e aqui Ane quase chorou de novo.
- Vocês desejam se unir pelas nossas leis para, viver juntos, sempre juntos, lutar em uma vida a dois contra qualquer dificuldade, comemorando os momentos de felicidade, educando os filhos se tiverem?
- Sim. – Alart respondeu, mal esperando Calíope terminar.
- Sim. – Sunny conteve um risinho. Se começasse a rir era bem capaz de entrar em um riso nervoso incontrolável.
- Vocês trouxeram algum símbolo para esta união?
Alart tirou um anel do bolso e colocou no dedo indicador da mão direita de Sunny. Ela fez o mesmo com uma aliança prateada na mão dele e esfregou seu focinho no dele em um gesto de carinho que quase o fez explodir de emoção.
- Vejam! – Calíope apontou para a enorme porta aberta e o casal olhou para lá. –
Aquela é a saída. Se, por qualquer motivo que seja, um de vocês, ou ambos, não desejam este casamento, saiam por lá agora ou fiquem juntos para sempre.
Todos os convidados bateram os pés violentamente e o coro de vozes altas, aparentemente irritadas, gritou: SAIAM! SAIAM! SAIAM! SAIAM! SAIAM!, até mesmo com algumas vaias.
Confesso: é minha parte preferida nos casamentos Tiger.
Apesar do som quase ensurdecedor e da ameaça no ar, o casal se manteve inabalável, de mãos dadas, olhando para frente onde a Rainha estava. Depois de alguns segundos que pareceram uma eternidade, Calíope ergueu uma mão silenciando a plateia e anunciando.
- De hoje em diante, Sunny e Alart, vocês são namorados, paqueras, noivos, cúmplices, amigos e casados oficialmente. Que Kallisti os guie sempre e uma suas almas com sua beleza e amor.
Sunny e Alart se levantaram para que eles dessem um selinho finalizando a cerimônia.
Mas Alart simplesmente a puxou, inclinou para baixo em seus braços e a beijou a ponto de deixa-la sem fôlego.
- AEEEE, IRMÃO! – Done gritou enquanto aplaudia, puxando o aplauso e assovios de toda a plateia.
Ane e Calíope trocaram um olhar carinhoso que não passou despercebido por alguns nobres e comerciantes no local.
- Será que finalmente teremos um casal no trono Tiger? – Um comerciante de joias perguntou esperançoso.
- Tomara. – Um nobre e comerciante de carnes comentou. – Se uma guerra eclodir mesmo, precisaremos de toda boa notícia que pudermos.
~o ⭐ o~
Ismir estava furioso, agoniado, sem saber o que acontecia lá fora, depois da explosão.
Ele não era informado nem de quanto tampo estava ali, sem janelas ou qualquer coisa que desse uma dica da passagem do tempo. Até mesmo as alimentações que eram levadas para ele seguiam um ritmo e menu inconstantes, de forma que não dava pra saber o tempo usando isso. Ele estava enlouquecendo, tão cheio de raiva que sentia que poderia brigar mesmo com um fantasma.
- Você está horrível.
Ismir deu um pulo de susto, pois não tinha ouvido nada além daquela goteira irritante na cela.
- Por fora, quero dizer. Por dentro você sempre foi horrível mesmo. – Scylla se aproximou da grade, ainda sim, ficando a um braço e meio de distância.
- Quem é você? O que quer? Ah... Sei o que você quer... – Ismir olhou para ela de cima a baixo, com luxúria e crueldade estampados. – Vem aqui que dou um trato em você, menininha.
- Oh, sim... Do mesmo jeito que queria fazer com a sua filha? – Scylla perguntou com nojo.
- Eu não tenho...
- Filha? Assim como também não tem irmã, não é? A mesma que você vendeu por uma noite com um monstro e depois a jogou fora, quase morta.
- Quem é você? – Ismir perguntou, imaginando quem poderia saber isso. Ele contou mentalmente, tentando lembrar se alguém que sabia disso, algum dos servos, tinha sobrevivido.
- Não. Acredito que não. – Scylla olhou tranquilamente para as garras pintadas de vermelho, algo que deu arrepios em Ismir. – O rosevinho envenenado que você serviu para todos os empregados que sabiam do seu segredo sujo foi bastante eficaz.
- Como você sabe o que eu...
- Está pensando? Fácil. Nem preciso de telepatia, que por sinal eu tenho em enorme quantidade. Você é transparente quando encurralado. Transparente como cianeto. – Scylla olhou para ele, sem nenhuma traço da moça tímida, discreta, sem amigos e inocente que as pessoas conheciam.
Ismir conhecia aquele olhar. Ele conhecera muitos assassinos frios na vida, inclusive ele próprio.
- Aquela vadia no trono Tiger mandou você pra me matar? Quanto ela pagou? Eu pago mais. O dobro, se quiser. Basta dizer o preço.
- Que decepcionante. Tanto tempo matando e sendo o merda cruel que você é, foi quase inalcançável, só caiu por sua burrice e seu fraco por mocinhas que o lembrassem sua filha... E agora está aí, implorando para negociar sua vidinha de merda. Eu esperava o mínimo de orgulho Tiger... Quanto a sua oferta, sacie minha curiosidade. Como exatamente você pretende me pagar?
- Eu tenho posses, sou rico, um nobre e ministro de toda uma região do reino.
- Oh... Uma região? Fala do Litoral Selvagem?
- Sim...
- Aquele governado pela Duquesa e Ministra Sunny?
- Espera, o que?
- Aquela mesma que você escravizou, vendeu, agrediu e não reconheceu oficialmente como SUA filha, a mesma que você queria levar pra cama e esperou anos pra fazer isso? A mesma resgatada pelo Príncipe Leonino?
- Não....aquele...ele era meu servo... – Ismir estava mais confuso do que antes. – Eu vou comer aquela vagabunda ingrata até ela perder a consciência! Depois vou continuar pegando ela desmaiada mesmo!
- Ah, fala da Princesa Leonina? Aquela que acabou de se casar com o Príncipe Alart?
- Impossível!
- Oh, não. É muito possível. A própria Rainha assinou o reconhecimento da herança dela e fez o casamento. Sabe o que é mais legal... Todo mundo já sabe sobre o bosta que você é e a herança de Laos. – Scylla sorriu como a predadora que era. – Divertido, não acha?
- NÃO! EU VOU MATAR TODOS ELES! TRAIDORES! ANIMAIS!
- CALA A BOCA, MALUCO! – Um Guarda gritou de fora da porta pesada de ferro no início do corredor ao longe.
Scylla nem se abalou. Ismir berrava feito doido várias vezes nesse tempo preso.
Nenhum Guarda se abalava mais nem para olhar pelo visor na porta.
- Vai! Me tira daqui, vadia! Eu vou dar um jeito de te pagar, nem que tenha que roubar da piranha da Rainha.
- Oh, você ainda não entendeu, não é? Qualquer coisa que venha de você é menos do que nada para mim, TIO.
Ismir olhou para ela, as unhas vermelhas como sua meia-irmã gostava de pintar... O
mesmo sorriso... – Yara morreu depois que o cara que pagou por ela a usou como quis por dias..
- Semanas. Minha mãe foi abusada e torturada por SE-MA-NAS! Sabe o que é isso, não é? – Scylla ergueu um martelo de cabo de aço, velho, um pouco enferrujado em algumas partes.
Ismir deu um passo para trás dentro da cela. Era a primeira vez que ele ficava feliz por estar preso. – Você...tem os olhos do seu pai. A mesma expressão falsamente inocente.
- Oh, acha que me ofendo com isso? Acha que não conheço perfeitamente cada traço daquele maldito? Cada segredo sujo de todos vocês? Felizmente herdei mais da minha mãe... – Ela murmurou e depois acrescentou com um olhar tão maligno que fez o sangue de Ismir gelar. - Menos a bondade.
- Você...você não pode me tocar... Eu estou aqui e você a... – Ismir congelou quando a moça abriu um portal com bordas formadas por uma luz clara, branca, com raios vermelhos ocasionais. O portal abriu uma passagem em forma de triângulo entre as grades. Ele a
olhou confuso, procurando por um transportador, o objeto que canalizava energia mágica para abrir esse tipo de portal, algo que precisava de muita energia de vários magos para portais pequenos. Mais ainda para os maiores. Mas ela não carregava nenhum.
Scylla atravessou lentamente, o portal se fechando atrás dela assim que ela passou.
Lutando por sua vida, Ismir correu para Scylla, com garras à mostra, mirando no pescoço para dar um golpe mortal na jovem. Mas, antes mesmo que pudesse chegar perto o suficiente, Scylla esticou o braço e acertou um soco potente o suficiente para jogar o tio na parede ao fundo. Ismir bateu a cabeça na parede de pedra úmida e caiu no chão com um baque oco. Scylla andou até ele calma e inabalável. Ismir tentou se levantar, seus braços trêmulos, mas logo levou um chute na barriga, com as garras dos pés de Scylla à mostra. Ele sentiu o fôlego sumir, seu grito sem som.
- Minha mãe sofreu tanto... Viveu na floresta inabitada por meses, cuidando de suas feridas – Scylla deu um soco no meio da coluna de Ismir, que caiu de volta no chão – com ervas, caçando como um animal – outro soco na lombar – até que eu nasci, no meio de uma tarde que alagou a caverna onde ela se abrigava, fazendo ela se abrigar embaixo de uma árvore de flores vermelhas. Irônico, não é. Minha mãe sempre amou vermelho...
- Pa...pare...eu pos..so...compensar....voc... – Ismir sentiu o corpo tão dolorido, tão ferido pelas garras dela que não sabia se conseguiria levantar.
- Me compensar... Eu queria ser como minha mãe. Mesmo depois disso, de viver uma vida pobre e doente, de sair da floresta sozinha, cuidar de mim, de sofrer com as sequelas do abuso por 10 anos, ela ainda te perdoou. É... Ela perdoou você e aquele merda que abusou dela, pedindo sempre para que os deuses iluminassem suas almas. Quando a doença tomou conta de seu corpo, jogando ela na cama, eu ouvi ela chorando com pesadelos e pedindo socorro pra você. Depois de insistir muito, ela me contou minha origem pedindo para que eu não odiasse vocês, que eu vivesse em paz, aceitasse a oferta do templo que queria me testar e treinar a magia que começava a despertar. Sunny é como minha mãe. Você teve duas mulheres de bom coração na sua vida.
- Me perdoe...sobrinha. – Ismir só queria uma chance para se recuperar e se vingar.
- Eu queria ter um bom coração assim... – Scylla murmurou. – Mas eu não sou e é isso aí.
Ela deu uma martelada no joelho direito dele.
- VADIAAAAAAAAAAAAAAAA! – Ismir berrou de dor.
- CALA BOCA, MALUCO! – O Guarda gritou lá de fora novamente.
- Acho que ele tem razão. – Scylla disse com um sorriso, erguendo a cabeça do tio com uma mão. – É melhor eu calar essa sua boca imunda.
Ela deu um golpe na garganta dele, causando uma dor lancinante, como se algo tivesse atingido suas cordas vocais. E tinha mesmo. O golpe conhecido por alguns espiões de elite tirava a capacidade da fala por alguns minutos e era extremamente doloroso.
- Assim está melhor. – Ela soltou a cabeça dele que caiu com um baque no chão, quebrando vários de seus dentes.
Não aguentando a dor e o medo, Ismir urinou em si mesmo. Eu vou te matar! Ele pensou.
- Eu sei que mataria se pudesse. Você estava sentado em uma poltrona observando minha mãe ser torturada e implorar pela sua ajuda... Oh não, ela não me contou. Eu vi nas memórias dela nas muitas vezes que usei minha telepatia sem que ela soubesse. Mas eu sei que você gargalhou quando ela foi drogada e aquele verme usou uma coisa específica para violentar minha mãe na vigésima terceira vez. Você lembra o que foi, não é? – Scylla sorriu ao ver o terror nos olhos dele. – Bem, vamos começar tirando essa coisa nojenta.
Ismir se debateu, mas Scylla deu um soco nas genitálias dele e, antes que pudesse reagir, ela cortou a calça dele com um golpe de suas garras afiadas. Ismir entendeu o que viria e tentou lutar, mas sua coluna não obedecia, suas pernas pareciam pesadas demais. O
terror fez com que ele começasse a desmaiar, mas Scylla previra isso e deu um tapa forte na cara dele e o chutou para rolar até ficar de novo de barriga para baixo.
- Nãnanina não. Vocês não deram o luxo da insconciência para minha mãe. Então você também não o terá. – Com um chute ela abriu as pernas dele, sentou na parte de trás dos joelhos do Tiger e pegou o martelo preso na cintura, mirou no ânus dele e enfiou alguns centímetros num único golpe. O prazer vingativo que isso lhe deu fez Scylla fechar os olhos por um segundo, aproveitando.
Ismir gritou em sua mente, mas sem som em sua garganta. SUA DOENTE!
- O que? Você quer mais? Claro, às suas ordens, tio. – Com um sorriso maligno, Scylla empurrou em um golpe o cabo todo, 41 centímetros de cabo, no ânus dele. O sangue escorreu junto com dejetos, sujando a cabeça do martelo. Mas Scylla não parou, mesmo ouvindo os gritos incoerentes e o desespero do tio na mente dele. Aquilo era música para seus ouvidos depois de tudo que vira na mente da mãe, tudo que a assombrava durante as noites em que tinha pesadelos com essas imagens, sons, cheiros...
BASTARDA SÁDICA! Ismir berrou mentalmente, grunhindo enquanto sua voz ameaçava voltar.
Ela se levantou, agachou na frente do rosto dele e sussurrou em seu ouvido. – Duas verdades incontestáveis, titio.
Sem pena, ela ergueu o martelo e golpeou a cabeça dele uma vez, duas, três, tantas que ela perdeu a conta.
PARE! POR FAVOR! EU IMPLORO! PARE....VOU MATAR VOCÊ. EU ODEIO. .. Foi o último pesamento de Ismir.
Scylla, completamente banhada em sangue e pedaços do tio, abaixou o martelo, olhou para a cabeça deformada, só uma massa de cérebro, pele, pelos e sangue. – A recíproca é verdadeira, Ismir. Também te odeio.
Ela levantou, visualizou o local que pretendia ir, abriu o portal e sumiu, sem deixar nada para trás.
~o ⭐ o~
Era fim de tarde e caía uma chuva torrencial em Jubay. Ciara entrou toda molhada e ouviu Hieron gritar do escritório/mini oficina que ele usava para trabalhar quando estava em casa.
- Ciara? – Ele chamou.
- Sim, sou eu.
- Você viu meu martelo? Aquele que Téo me deu de presente?
- Não. Sabe que não mexo nessa zona.
- Mas não está aqui. – Ele saiu do escritório e passou por ela sem nem a beijar. Já tinha alguns meses que ela notou uma diferença nele, sutil, mas inconfundível. Ela tinha certeza de quem o grande amor que ele sentia por ela tinha caído na rotina comum de um casamento longo.
Felizmente não vou precisar de aturar por muito tempo, corno burro. Ciara pensou, alegre com a confirmação de mais um passo do plano seguindo em perfeita ordem.
- Usa outro, ue. Você tem um monte dessas coisas aí.
- Mas eu gosto desse. Foi presente do meu irmão...
- Você não esqueceu na obra?
Hieron deu um tapa na testa. – Claro! Eu saí com ele ontem e não lembro de ter trazido de volta. Só pode ser isso. Deve estar na construção. – Ele pegou um casaco e abriu a porta.
- Você vai sair nessa chuva por causa de um martelo idiota?
- Não demoro! – Hieron saiu com o casaco na cabeça, correndo pelas ruas da cidade.
Quinze minutos depois ele usou a pedra mágica que se transformou imediatamente em uma chave para abrir a porta do escritório da obra.
- Senhor Hieron! – Scylla gritou em meio a chuva, correndo para ele completamente ensopada.
- Scylla! Menina o que faz na rua embaixo dessa chuva?
- Estava na loja ali, - ela sinalizou para o outro lado da rua que parecia um riacho agora
- vi o senhor chegando e corri para lhe dar isso.
Scylla estendeu um martelo com cabo de ferro, lixado com perfeição, sem nenhum traço do ferrugem que existia ali a uns anos. Até mesmo a cabeça do martelo parecia nova de tão bem limpa e lixada.
- Meu martelo!
- O senhor esqueceu no banco da pracinha ontem. Eu levei para casa e guardei para o senhor.
Hieron ficou emocionado com o gesto. – Venha, entre.
Ele guiou a moça para o escritório, acendeu a lareira, pegou duas toalhas dentre as velhas que ele guardava ali e se virou para dar uma para Scylla. A visão o pegou de surpresa, pois a menina já estava usando a lareira para improvisar um chá com um caldeirão pequeno, velho e amassado que ele mantinha para esquentar comida às vezes.
- Você não precisa fazer isso.
- Tudo bem. – Ela respondeu distraída.
- Eu sei que a toalha não é das melhores, a panela é velha...as canecas também estão sem alça... – De repente ele percebeu como tinha coisas não muito elegantes ali.
- Não tem problema. Se ainda dá pra usar, é o que importa. – Ela pegou uma toalha da mão dele e se enrolou sem nem dar atenção para o estado velho e encardido do pano que nem limpava mais de tão antigo. Scylla sentou na frente da lareira, no tapete macio, um presente recente de Ane, uma das poucas coisas novas ali.
Hieron balançou a cabeça despertando a si mesmo e sentou do lado da moça. –
Obrigado. Eu vivo planejando limpar meu martelo, mas não tenho muita paciência com esses trabalho mais sutis.
- Não foi nada. Eu gosto de cuidar de coisas úteis. – Ela respondeu.
- Você parece cansada. – Hieron disse, mas achava mesmo que ela parecia emocionalmente cansada, só que não quis ser invasivo.
- Acho que estou. Ser forte pode ser cansativo às vezes. E solitário. – Scylla murmurou.
Em um impulso, Hieron puxou ela em um abraço. No início, Scylla ficou tensa, mas logo amoleceu e sentiu que chorava, se xingou por isso, mas não conseguiu evitar. Hieron ficou calado, apenas fazendo um cafuné nela, deixando a moça desabafar. Ele sabia como isso ajudava em momentos de merda. Quando ela finalmente conseguiu se acalmar, ele segurou seu rosto com as duas mãos.
- Você não precisa aguentar as coisas sozinha, menina.
- Desculpe. Eu não sei o que deu em mim. – Scylla se condenou por ter feito aquilo e levantou.
- Scylla, você me ajudou quando eu precisava desabafar. Se não fosse por você, hoje eu teria destruído minha vida. Nunca se culpe por precisar desabafar. Você é a felina mais forte que conheço. É uma honra poder te ajudar a aliviar sua carga um pouco.
Scylla se sentiu melhor, apesar de ainda envergonhada por seu momento de fraqueza.
Ela correu para a porta e disse antes de sair. – Obrigada. Não sabe o quanto me ajudou.
Hieron sorriu, mas não teria feito isso se soubesse à que “ajuda” ela se referia. Algum tempo depois, Hieron entrou em casa apenas para dar de cara com sua esposa sentada no sofá com uma expressão tensa no rosto.
- O que foi, Ciara?
- Você foi convocado para a guerra. – Ela mostrou um documento com o selo real.
~o ⭐ o~
Sunny e Alart estavam sentados de mãos dadas, curtindo a companhia um do outro e aguardando. Ane estava protegida, sua porta send guardada por Nira, nomeada oficialmente pela Rainha como guarda pessoal de Ane. Os ministros mais cedo foram testemunhas da nomeação de Ane como mãe do príncipe ou princesa herdeira, o que a tornava responsabilidade legal do reino Tiger.
Calíope e Done aguardavam Sven se despedia de Scylla, escolhida pela Sacerdotisa de Kallisti para ficar ao lado de Ane cuidando da moça e do bebê naquela manhã. Scylla deu um abraço em Sven e murmurou algo no ouvido dele. Lendo os lábios dela, Calíope e Done entenderam que ela disse “tenha cuidado, por favor. Você é muito querido para mim.” Mãe e filho se entreolharam e sorriram.
- A menina que nunca fala gosta dele? Poxa... Os novos e gostosos como eu não têm chance então. – Done brincou.
- Ela fala, Done. A gente que nunca ouviu porque a menina é tão tímida que só fala baixinho. – Calíope riu.
Sven se aproximou e seguiu ao lado deles para o local determinado. Mas o sorrisinho de Done prenunciava o que viria. – Grande Kallisti... Me proteja desse menino.
Me tira dessa.
Calíope sorriu, mas ficou quieta, só esperando.
- O velho seduziu a menininha tímida heim. – Done riu e fez um gesto....
Como devo dizer....éééé....demonstrando certo ato oral sexual em moças, usando dois dedos. Se não entendeu, problema seu.
Calíope não aguentou e gargalhou alto, atraindo os olhares dos soldados ao redor.
- Que coisa feia, rapaz.
- Não é não. Eu acho lindo, com aquela rachadurazinha no meio e...
- DONE! – Sua mãe controlou o riso por dois segundos, até olhar para o boquiaberto Sven. Aí foi demais para o pouco controle dela.
- Eu não... Ela não... Ah! Não adianta explicar. Você é um caso perdido. – Sven mostrou a língua para Done.
- Eu sei... A gente usa a língua mesmo. – Done fez um joinha e uma cara de idiota, fazendo Calíope quase cair para trás rindo loucamente.
~o ⭐ o~
O exército passou pelo enorme portal, mas, pelo tamanho e gasto de energia, apenas um terço do exército passou antes dele se fechar com o transportador entrando em curto.
O resto, ficou do outro lado confuso, liderado por Téo que tinha ficado ao lado do transportador guiando a passagem junto com o general. Do outro lado, pomposo, à frente do exército, com uma espada sacada, Arman viu o portal se fechar, mas não importava. A guerra já estava ganha mesmo, aquilo era só uma formalidade.
Erguendo a espada ele gritou para seus soldados avançarem. O grupo marchou em um ritmo moderado pelas ruas completamente desertas. Ele estranhou inicialmente, mas nã fazia diferença. A guerra estava ganha. Quando ele chegou perto do palácio e o viu praticamente intacto, sua confiança oscilou, mas logo ele pensou. Não importa. Eles morreram. A guerra já está ganha.
Sempre pomposo, Arman se virou para seus soldados que estavam com um péssimo pressentimento sobre isso, ficando de costas para o palácio. – Hoje, irmãos, nós, os Leoninos de Likastía, verdadeiros herdeiros do mundo, vamos tomar nosso lugar de direito!
O reino Tiger caiu aos nossos pés, seu povo covarde nem teve coragem de nos encarar!
Sem sua Rainha e o filho tolo dela, sem herdeiros, isso tudo é nosso!
Os portões principais se abriram e, juro, juro mesmo, Arman pensou que eram os nobres e o exército se rendendo já que não tinham mais quem os liderasse.
O exército Tiger formou uma barreira que logo se dividiu em duas, com Calíope surgindo no meio, Done logo atrás.
- Sem que Rainha, Arman? – Calíope disse, seu corpo visivelmente emanando ondas de calor com a magia Tiger controlada com muito esforço.
- Tolo? Engraçado, só conheço um tolo e estou olhando para ele. – Done sorriu, mas era um sorriso perigoso.
Arman congelou. – Não. Vocês....morreram.
- Fala do ataque ridículo que você lançou? – Calíope sorriu. – Só fez cócegas no meu pé. Mas, se não se render, posso te mostrar o que é um ataque mágico de verdade.
Sem que ele nem visse ela mover a mão de tão rápido que foi, uma bola de fogo atingiu o chão a centímetros do seu pé.
- MATEM ELA! VOCÊS VIRAM! ELA ME ATACOU PRIMEIRO! – Arman gritou para seus soldados. Os soldados, porém, não queriam uma guerra sem motivos. Muitos cresceram com histórias horríveis de seus pais, sobre como seus ancestrais viveram sem partes do corpo, aterrorizados, alguns enlouquecidos pela guerra entre as Duas Coroas no passado.
Mas Arman era seu rei, eles não tinham mais o que fazer, apenas obedecer seu líder.
- ELA MATOU ALART! – Arman berrou para fazer seu exército finalmente agir.
Funcionou. O exército ficou em prontidão para atacar.
- Me matou? – A voz de Alart surgiu antes que ele aparecesse atrás de Done e ficasse ao lado da Rainha. Mas o que mais deixou Arman fulo foi a jovem que estava de mãos dadas com seu filho.
- Sunny? – Arman sussurrou.
- Para você é PRINCESA Sunny. – Alart corrigiu. – Minha esposa.
- NUNCA! EU MATO VOCÊ ANTES DISSO, SEU TRAIDORZINHO!
Isso fez o exército soltar um suspiro audível.
Alart aproveitou o momento e disse: - Meu povo nobre de alma, vocês não precisam lutar. Os Tiger têm mais motivos para lutar e mesmo assim estão dispostos a manter nossa preciosa aliança.
- ALART, VOCÊ TRAIU SEU POVO...
- Cale a boca, pai. Estou oficialmente contestando sua posição como Rei. Aqui, na frente do exército leonino e dos Tiger, eu convoco a Lei dos Protetores.
- Você...quem você pensa que é, seu moleque? Você nunca será rei! Não depois de roubar o que é meu por direito!
Alart entendeu, mas se forçou a não entender ou teria arrancado cada um dos dentes de Arman ali mesmo. O comandante daquela parte do exército deu um passo para o lado de Arman e estendeu a mão. – Senhor, a Lei dos Protetores foi convocada. Por favor, me entregue a espada.
- Seu ridículo, fracassado! Eu sou o REI e ORDENO que você mate esse traidor!
- Com todo respeito, senhor, enquanto a convocação não for resolvida, o senhor não tem autoridade sobre o exército. Me entregue a espada.
Arman ergueu a espada num ataque que atingiria a barriga do comandante. Agilmente ele pulou para o lado. Alart correu até o pai, seu corpo apenas uma massa negra ondulante, até se materializar segurando a espada e dando um único chute na barriga de Arman que o jogou a metros de distância. - Comandante, prenda o Rei. – Alart ordenou, com os pelos todos eriçados.
~o ⭐ o~
Como eu disse.... Odeio burrice e incompetência. E adoro uma boa e cruel vingança.
Capítulo 18
Estamos caminhando para outra guerra? Espero que sim. A guerra é uma das maiores impulsionadoras da criatividade e da evolução tecnológica. Ou seja, a guerra é o combustível para a evolução dos meus felinos fofinhos.
~o ⭐ o~
- Comandante, prenda o Rei. – Alart ordenou, com os pelos todos eriçados.
Arman tentou lutar, mas seu exército o cercou e subjulgou facilmente.
- Rainha Calíope? – Alart chamou, com dentes cerrados, se acalmando.
- Claro, rapaz. Fique à vontade. – Calíope respondeu, chamas ainda brilhando em sua mão.
- SEU MOLEQUE... – Arman se debateu, mas três dos soldados leoninos o seguraram firmemente.
- Acalme-se, pai. – Alart disse, finalmente se tranquilizando. – Você ficará em uma prisão até tudo ficar pronto para o desafio ser cumprido. – Ele se virou para ir até sua esposa.
- Você não é mais meu filho! Devia ter matado você junto com a burra da sua mãe!
Você não é ninguém! Eu não vou aceitar um desafio de um pivetinho de merda!
Se Arman tirasse o foco das costas de seu filho que permaneceu imóvel de costas, teria visto o olhar furioso de seu exército.
Alart se virou calmamente, mas seus olhos tinham uma fúria que parecia ter vida própria. – Está se negando a aceitar o meu desafio, Rei Arman?
- É CLARO QUE NÃO ACEITO NADA DE VOCÊ, MOLEQUE!
Com um sinal sutil o Comandante deu ordens para os soltados aliviarem o aperto em Arman. Nada mais teria dado tão certo. Arman avaçou para dar um soco em Alart, mas o rapaz desviou facilmente. Os soldados Tiger fizeram menção de reagir, mas Calíope os parou com um gesto. Arman caiu quase ajoelhado, mas era apenas um truque para pegar uma adaga escondida sob os pelos do tornozelo. Em um movimento rápido, ele se ergueu com a ponta da lâmina em direção ao coração de Alart.
- NÃÃÃÃÃO! – Sunny deu um grito e pulou para frente, mas Done a agarrou por trás, prendendo-a pela cintura.
Alart segurou o pulso do pai, parando a ponta da adaga a uma curta distância do próprio peito.
- Tentando matar um herdeiro, recusando um desafio claro e direto... Engraçado, nunca percebi que você era burro. – Alart disse.
- VOCÊ NÃO É MAIS MEU HERDEIRO! MEU HERDEIRO AINDA VOU COLOCAR NAQUELA LINDA BARRIGUINHA ALI. – Arman fez um curto sinal para Sunny que teria vomitado facilmente com aquele pensamento.
Alart era um leonino com magia de luz e sombras, nada do poder Tiger do fogo. Mas, naquele segundo, qualquer um poderia jurar que seus olhos brilharam com tanta raiva que parecia fogo.
- Puta merda.. – Done murmurou, prevendo o ciúme do amigo.
Alart acertou um soco no estômago de Arman com toda sua força. O velho se encolheu enquanto a adaga caía de sua mão.
- VOCÊ NUNCA MAIS VAI OLHAR PRA MINHA MULHER, SEU ASSASSINO, VERME, ESGOTO EM FORMA DE FELINO! – Alart deu socos, chutes, seu corpo por vezes desaparecia em uma massa negra indistinguível, apenas para voltar a se materializar com toda sua raiva.
– ISSO É POR TER MATADO A MINHA MÃE!
- Eu não a matei! A burrice dela fez isso! – Arman se levantou para socar Alart, mas seu filho era muito mais ágil, se abaixou e lhe deu uma rasteira.
- Você....
- Ela ia tirar você do palácio porque eu tinha um casinho.... Vocês eram meus, MEUS! –
A raiva de Arman pareceu desligar seu escasso bom senso.
- CASINHO? VOCÊ E TÉO ESTÃO SE PEGANDO A ANOS! ISSO NÃO É UM CASINHO! –
Alart achou que seu pai não seria tão burro para morder essa isca óbvia.
- NÃO SE META COM O TÉO! ELE É MEU! – E Arman mordeu a isca, praticamente entregando seus crimes de bandeja para todo o exército Tiger, parte do seu e a família real Tiger.
Mas Alart estava perdido demais na própria raiva para parar agora. Tudo que ele queria era matar. Porém, matar um pai ou mãe em Likastía era algo muito sério e imperdoável, exceto em um único caso, que não se enquadrava aqui. Arman já estava no chão, seus pelos manchados de sangue, seu focinho parecia deslocado, seu rosto estava quase irreconhecível em meio ao sangue, sujeira e ferimentos, seu braço esquerdo deslocado... Mas Alart não parava de bater e Arman não calava a boca, perdidos demais na própria raiva. No chão, Arman atingiu os joelhos de Alart que gritou, de fúria mesmo, e caiu sobre o pai em meio a socos.
Sunny gritou algo, mas a voz dela parecia vir de longe, abafada nos ouvidos de Alart que pulsavam com a emoção. Alart imobilizou o pai, sentando sobre a barriga dele, pegou a primeira coisa que sua mão alcançou. Lamentavelmente...
Não para mim. Eu não lamento não.
Lamentavelmente era uma rocha enorme, um fragmento de alguma construção destruída na onda de choque do ataque da arma de Arman a dias. Alart ergueu a coisa com as duas mãos e se preparou para acertar a cabeça de Arman que continuava provocando o rapaz. Burrice? Ah, mas com certeza. Garras fortes e calosas agarraram a rocha por trás de Alart e o objeto foi jogado longe. Rosnando furiosamente, Alart se virou com as garras à mostra, mas alguém o agarrou antes dele se virar e o jogou no chão. Alart levantou, ainda cego de raiva, foi para cima da pessoa e estacou ao reconhecer a voz do soldado leonino.
- Já chega, garoto. – O soldado ergueu o capacete que cobria metade do rosto como era costume no posto de corneteiro do exército, revelando Hieron. – Ele rejeitou o desafio, automaticamente você já é o Rei. Ele já foi parado. É assim que você quer começar seu reinado?
Ofegante, Alart acenou agradecendo pelo velho leonino ter o trazido de volta à razão.
– Ob...brigado....Hieron... – Alart colocou uma mão no lado de seu corpo sentindo uma dor horrível, possivelmente uma costela quebrada.
Percebendo, Hieron correu até o rapaz e o apoiou, atraindo a preocupação do exército leonino, Sunny e dos outros.
- Done...
- Oi, irmão? – Done respondeu, ainda segurando Sunny por simples reflexo mesmo.
- Me faz ... um favor?
- Claro, cara.
- Solta a minha mulher, caramba! Ai... – Alart parou para respirar.
- Ahaha. – Done soltou Sunny que correu até Alart.
Done foi um pouco mais devagar até o amigo inicialmente. De repente, deixando Alart confuso, Done deu uma corrida sacando sua espada e passando por ele. O exército leonino gritou, Ane surgiu do nada correndo com Scylla atrás tentando pará-la, Calíope enviou uma rachada de fogo que passou pela lateral de Alart... Foi tudo muito rápido. Foi meio inútil também.
- FILHO DE UMA AMEBA COVARD... – Done gritou e parou do nada.
- AAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAAH! – Arman berrou, a adaga que tinha pego do chão voltou pro solo enquanto sua juba queimava e a espada de Done ficava presa abaixo de seu umbigo.
- DONEEEEEEEEEEEEEEEEEEEEE! – Ane gritou e chegou junto com Calíope no príncipe Tiger.
- Do...ne... – Alart olhou para o amigo caído no chão com a adaga enfiada até metade do cabo em seu peito.
Hieron olhou para Arman com a decepção estampada no rosto por ver como ele tentara matar Alart o atingindo pelas costas. Sem pensar duas vezes, ele pegou um frasco
com ervas cicatrizantes que recebera de presente ao ir para a guerra em uma tentativa dele se curar caso fosse ferido em batalha. Ele colocou sobre o ferimento de Done, mas havia muito sangue que logo ensopava as ervas. Scylla se aproximou derrapando no chão e tentou usar sua magia para curar o rapaz, mas, antes mesmo de começar, ela percebeu que seria inútil.
- Scylla? – Hieron olhou surpreso. Afinal, fazia menos de meia hora que ele havia chegado e ela se despediu dele pouco antes em Jubay. Sem um portal, como ela chegou?
Scylla olhou para ele com um rostinho triste, mas logo voltou seu foco para Done. As sacerdotisas e magos fizeram um círculo para tentar reunir energia mágica de cura, embora todos eles já sentissem que era inútil.
- Meu garotinho.... – Calíope mal conseguia respirar, seu peito dóia de um jeito como se a facada tivesse sido em seu coração.
- Anda, garoto. – Sven lutava para não chorar. – Lute. Você é bom nisso.... Por favor, meu neto.
- Ane... – Done engasgou com o próprio sangue, seus olhos parecendo pesados.
- Shh! Cala a boca, idiota! – Sunny limpou as lágrimas. – Tem que se polpar. – Ela ajudou Scylla o quanto pôde, mas também já sabia que Done não resistiria.
- Também...te...amo...Sunny.... – Done sorriu, pegou a mão da mãe e a de Ane e colocou juntas em um sinal claro de apoio ao casal. – Cuidem del...
- Dela. – Ane disse chorando e Done deu o sorriso mais genuíno do mundo. – É uma menina.
- Epaine. – Done disse o nome que queria para sua filha.
Ane sorriu, pois o nome significava “impressionante”.
- Eu... eu....- Alart não conseguia falar, a culpa o devorando.
Done olhou diretamente nos olhos do amigo e disse: - Não...nunca...não se culpe.
Assim, Done fechou os olhos pela última vez.
- Tirem. Todos. Daqui. – Calíope rosnou.
Alguns soldados Tiger e alguns leoninos pegaram Done respeitosamente e saíram em silêncio, enquanto outros afastaram todos dali. Apenas Hieron, Sven, o Comandante leonino e Alart ficaram para trás com Arman careca no chão, agonizando.
- Majestade... – Hieron chamou. – Com todo respeito.... Vingança é um veneno para o coração.
- As leis Tiger são muito claras sobre a punição para a morte de um Rei ou príncipe à covardia. – Sven disse.
Calíope manteve um olhar venenoso em Arman o tempo todo. – Bem, justo é justo. –
Hieron abaixou a cabeça e foi procurar Scylla.
- Cumpra a lei de seu povo, Calíope. – Alart disse, se virou e caminhou para o palácio.
- Me...mate... – Arman implorou, pois a dor era demais para ele.
- Ah, acredite. Eu vou te matar. Mas vou fazer isso lentamente pra você sentir uma pequena porcentagem da dor que eu estou sentindo agora. – Calíope disse.
Os berros de Arman podiam ser ouvidos a uma distância considerável, mas ninguém ajudou, ninguém se importou. Apenas Alart ainda sentiu pela morte do pai que, apesar de tudo, era seu pai.
~o ⭐ o~
- Não é possível! Porque ninguém dá algum sinal de vida?! – Téo murmurou olhando o exército alinhado no pátio do palácio como ele ordenara depois de algumas horas sem sinal de Arman. Será que esse imbecil morreu em batalha? Nãããão. Eu não tenho tanta sorte.
Mas a verdade é que ele estava aproveitando a ausência temporária do Rei. Não só ele. Téo subiu as escadas e entrou no quarto do Rei onde Ciara estava nua na cama, beliscando uma fruta azul doce.
Uma brisa morna soprou do cômodo que funcionava como um enorme closet. Ciara ficou curiosa, já que todas as portas e janelas, inclusive a porta do closet estava fechada.
- Se acostumando com seu futuro quarto, amor? – Téo atraiu a atenção da amante.
- E sofrendo pela morte do meu maridinho. – Ciara debochou.
- Calma, querida. Não sabemos se aquele corno já morreu. – Téo tirou a roupa devagar, provocando Ciara que o admirava.
- Aquele idiota não sabe lutar, não tem magia como nós, querido pode ter certeza que ele morreu fácil. – Ciara apoiou a cabeça nos travesseiros, dando uma visão bastante ampla de seu corpo para ele. – Como é ser filho único, amor?
- Tão bom quanto ser o Rei com uma Rainha tão deliciosa como você. – Téo puxou ela pelo tornozelo, até que ela ficasse na beirada da cama.
- Se o Rei não morrer láááá... – Ciara soltou um gritinho quando Téo colocou a língua em...na...éééé....”parte sensível entre suas pernas”. – Vamos mata-lo logo? O veneeeno está pronto.
- Uhmhuum. – Téo disse ainda ocupado.
- Você preparou o... AAAAAAAAAAAH! – Ciara relaxou.
- Está tudo pronto, minha garota. – Téo beijou suas coxas e sua barriga. – Vou usar a poção ilusória para disfarçar o veneno e ele vai agir feito louco na frente de todo. O imbecil facilitou bastante ultimamente com os ataques de raivinha dele. – Téo colocou as pernas dela mais abertas e se alinhou em sua abertura. – Ele vai surtar em público e o veneno vai literalmente explodir aquela cabeça vazia dele. – Téo penetrou em um único impulso, fazendo Ciara soltar um gemido alto.
Uma brisa morna saiu do closet, atraindo a atenção de Ciara. Mas os fortes golpes de Téo logo distraíram ela novamente. A tarde passou, a noite também, os amantes perderam a noção do tempo e cochilaram.
~o ⭐ o~
- Scylla.. Espera! – Hieron chamou, mas a moça andou rápido para longe.
Uma jovem abraçou Scylla, pegando-a de surpresa. – Milady...
- Scylla...eu só queria contar pra ele o que você descobriu... – Ane chorou.
- Ane?
- Papai! – Ane puxou o pai, sem querer causando um abraço triplo. – Eu...eu preciso...contar...oh, papai!
- Shhh.... Calma, florzinha do papai. – Hieron ignorou o aroma perturbador.
- Pai...eu...eu...estou... – Ane olhou para ele e desviou os olhos.
- Grávida? – Hieron perguntou.
- Como...como..sabe? – Ane perguntou chocada.
- Por causa da conversa de vocês....lá.... Você sabe. – Hieron disse.
- Eu...vou deixar vocês.. – Scylla se soltou e saiu.
- Pai. Não sei como dizer, mas... – Ane olhou Sunny ao longe, abraçada com Alart e decidiu seguir o exemplo. – Eu amo a Rainha e nós estamos juntas. Grande Kallisti! Como ela consegue fazer isso? – Ane escondeu o rosto entre as mãos, morta de vergonha.
Hieron ficou boquiaberto, mas logo se controlou e pegou o queixo da filha, forçando seu olhar para ele. – Você a ama?
- Sim. – Ane disse sem hesitar.
- Então fique com ela, filha. Sempre seja honesta com suas emoções e as dos outros. –
Hieron engoliu em seco. – Nada pior do que perceber que suas emoções não foram respeitadas.
- Pai? O senhor está bem? – Ane se preocupo com a expressão dele.
Calíope entrou procurando por ela e Hieron viu o olhar da filha vacilar para algo atrás dele. Ele se virou e viu a Rainha encontrando Ane com o olhar.
- Vá, florzinha do papai. – Ele deu um beijo na testa dela. – Seu amor vai precisar de todo seu apoio agora. Mais tarde vamos conversar. Nós três.
Ane correu para Calíope e Hieron saiu à procura de Scylla.
Mas ele não era o único.
Sven entrou procurando a moça e perguntou a alguns magos que indicara o caminho por onde tinham visto ela ir.
Scylla encontrou a porta que dava para um quarto onde se guardavam objetos de limpeza e se preparou para entrar.
- Scylla. – Hieron bateu a mão na porta, a fechando antes que ela entrasse.
- Senhor...
- Como você chegou aqui tão rápido? Você trabalha para a Rainha? Estava espionando em Jubay? – Ele metralhou ela com perguntas.
- Eu preciso resolver uma coisa e...
- Num cômodo de limpeza?
- É que eu...
- Pare. Não minta pra mim. Não você. Não depois de tudo que te contei. – Hieron estava no limite.
Ela soltou um suspiro. – Conversamos depois. – Scylla tentou sair, mas ele a agarrou pelos ombros.
- SOLTA ELA! – Sven sacou a espada e partiu para cima de Hieron.
- Está tud.. - Scylla começou a falar, mas Sven parecia possuído.
- Vou te ensinar a não tocar desse jeito em uma moça!
- Saia. Isso é entre nós! – Hieron perdeu sua paciência.
- Se quer brigar, briga com um macho, seu covarde!
- Covarde? Eu vou te mostrar quem é covarde! – Hieron deu um passo com as garras à mostra, os dois com pelos eriçados, prontos para uma briga.
- CHEGA! – Scylla apareceu em meio a um portal que surgiu do nada entre os dois felinos.
Eles olharam para ela como se ela fosse um alien.
- Como... – Sven olhou boquiaberto.
- Como você...você... – Hieron olhou para Scylla procurando algum transportador, olhado ao redor no corredor se havia alguma. Nada.
- Menina, é melhor você se explicar. – Sven disse.
- Não conta isso pra ninguém. Por favor, Sven. Ainda não.
- Não posso enganar minha Rainha, menina, por mais que eu goste de você. – Sven lamentou ser o conselheiro e ser tão leal.
- É só por um tempo. Até eu derrubar um...um inimigo dos reinos.... – Scylla olhou sem querer para Hieron e isso levantou a suspeita dele.
- Que inimigo, Scylla? – Hieron perguntou, sua intuição o chutando por ter feito a pergunta.
- Eu...não posso te dizer. – Ela respondeu.
- Scylla... Você não... – A dor nos olhos de Hieron era quase palpável.
- Se é um inimigo dos reinos, posso pensar em te dar o tempo que precisa.. – Sven disse. – Mas quero saber tudo. Agora.
- Eu... – Scylla suspirou. Não queria magoar Hieron, mas também não queria trair sua confiança logo agora que ele estava tão magoado. Decidida, ela olhou para Sven. – Preciso mostrar uma coisa.
Hieron abaixou a cabeça, sentindo que não podia mais confiar em ninguém, se virou pronto para ir embora.
- Hieron. – Scylla correu até ele e o virou para ela. Sem desviar o olhar dele que estava dolorosamente decepcionado, ela disse: - Sven, pode nos dar alguns minutos? Prometo que não vou fugir.
Sven sabia que a garota tinha palavra, então apenas acenou e saiu, ficando nas proximidades.
- Eu...não sei como dizer isso sem te ferir. – Scylla disse.
- Faça como quiser. – Hieron se soltou para sair, mas Scylla ficou na ponta dos pés e o beijou. E, para surpresa dele mesmo, ele correspondeu com uma paixão que não sentia desde a juventude, tirando a última gota de dúvida sobre o que ele sentia, se era real ou só uma resposta natural à decepção.
- Eu amo você. E, depois de hoje, você talvez nunca mais queira chegar perto de mim.
Mas, pelo menos, terei esse momento para me lembrar. – Scylla disse com um voz triste de dar pena.
- Menina... Eu quero ficar com você. – Ele foi silenciado por outro beijo dela.
Scylla se afastou, contou até três mentalmente e soltou: - Sua suspeita está certa.
Ele enrijeceu, lembrando do desabafo que fizera para ela dias atrás. – Minha mulher tem mesmo um amante. Isso não tenho dúvidas, Scylla. Eu ouvi os gemidos, os gritos dela no nosso quarto naquele dia. Eu devia ter subido e matado ele, mas...me virei e fui embora... Se não tivesse te encontrado, não sei o que teria feito naquele dia... Eu sei que as coisas entre nós não eram as mesmas a anos, mas...
- Hieron. Não é só isso. – Scylla disse. – Foi melhor você não ter visto mesmo. E, acredite, eu nunca deixaria você descobrir. Ainda não quero que saiba. Então, você pode ir embora agora e fingir que não aconteceu nada...
- Não. Eu quero saber quem é. É o tal inimigo que você falou, não é? Quem é ele, Scylla?
Scylla tentou falar, mas sua garganta parecia doer só de pensar em revelar isso. –
Não...consigo...
- Então mostre. – Hieron disse e seu tom não deixava brechas para discussão.
Scylla chamou Sven e pediu para que os dois não saíssem do lado dela, ficando ambos praticamente grudados na jovem, um de cada lado. Ela estalou os dedos da mão esquerda e um portal se abriu, se fechando logo em seguida ao comando dela.
Scylla tinha lágrimas nos olhos quando olhou para Hieron e disse: - Me desculpe.
Então ela repetiu o gesto, abriu o portal para o lugar que visualizou e os três chegaram ao palácio leonino em uma sal de jogos pouco usada... Bem, pouco usada para jogos ne.
Depois outra sala que parecia um depósito, mais outra que parecia um salão de reuniões, depois na sala do trono.
Onde eles estão? Ela pensou.
Mais duas salas aleatórias, o estábulo, todas os lugares no palácio onde o casal sempre se pegava achando que ninguém sabia. Faltava só mais duas, mas Scylla só precisou de mais uma tentativa e os três se viram em uma sala escura que parecia ter muitas roupas, sapatos e algumas pequenas poltronas no meio.
Silenciosamente, Scylla tirou uma chave mestra do pescoço e abriu uma pequena fresta, dando uma boa visão da cama do Rei leonino. Sven e Hieron se alinharam verticalmente para olhar pela fresta, enquanto Scylla ficou um passo para trás. Ela não precisava ver o que via com frequência.
- Se acostumando com seu futuro quarto, amor?
Hieron virou para olhar para Scylla. Choque, raiva, decepcção... Tudo passando pelos seus olhos. Ele voltou a olhar a cena, incrédulo, porém de repente muita coisa fazendo sentido em sua mente.
- E sofrendo pela morte do meu maridinho.
O deboche de Ciara foi como ácido correndo pelas veias de Hieron.
Depois de ouvir toda a conversa, e mais um pouco, Scylla puxou os homens para trás gentilmente e fechou a porta do closet. Sem uma palavra, eles se encostaram nela e passaram pelo portal. Quando seus pés tocaram o chão Scylla os tinha levado para dentro do seu quarto.
- Aquele era o Téo, conselheiro de Arman. – Sven disse para Hieron.
- Meu irmão....Meu próprio irmão... – Hieron parecia em choque.
- Espera. Você é o irmão do Téo? – Sven olhou para ele, tentando associar aquele leonino enorme com o garotinho que vira duas vezes só a muitos anos.
- Meu irmão? Sério? – Hieron olhou para Scylla. – Você não me contou...Porque?
- Você teria acreditado?
- Então, Téo planeja tomar o trono leonino. – Sven constatou.
- E o Tiger, enfraquecendo ele antes. – Scylla disse.
- Com todo respeito, cara, mas seu irmão é um idiota. – Sven disse para Hieron.
- Ele não é mais um irmão para mim. – Hieron respondeu.
- Ele sempre será seu irmão. Fingir que não é tolice. – Scylla comentou.
- Bem, ela tem razão. Não vale metade de uma consideração sua, mas ele é seu irmão.
– Sven disse, atraindo um olhar furioso de Hieron.
- E meu pai. – Scylla disse tristemente e Hieron olhou para ela estupefato.
~o ⭐ o~
Não posso conversar. Estou ocupada recebendo um dos meus favoritos na história de Likastía inteira.
- Um dos seus favoritos? Poxa, mas eu sou tão magnífico, bonitão... Achei que era o favorito.
Ah, meu pequeno Done... Vamos nos divertir muito no pós-vida.
Capítulo 19
KKKKKKKK! Ahn?...Ah, oi. Não te vi. Estava rindo de uma piada aqui que o Done contou.
Enfim... Onde estávamos? Oh, sim....
~o ⭐ o~
Sven saiu com a promessa de que respeitaria o tempo pedido por Scylla depois de ouvir sua história, mas que não demorasse. Hieron continuava sentado, congelado no lugar, tenso com tudo que ouvira sobre seu irmão, o passado de sua sobrinha, o ciúme e instinto de proteção que ele sentia por ela chegando a uma dor quase física. Hieron sempre foi um felino de paz, justo, sensato, mas agora ele achava a tarefa mais difícil do mundo continuar calmo e justo. Hieron começou a voltar pra realidade ao sentir mãos pequenas com alguns calos e garras vermelhas pegando suas mãos e colocando ao redor de uma xícara simples de barro, com flores vermelhas pintadas à mão ao redor do objeto que soltava fumaça e exalava um aroma calmante.
- Beba isso. É para o seu bem. – A voz de Scylla finalmente o trouxe de volta do abismo obscuro que se tornara a mente do felino.
Grato, ele bebeu um gole enorme do líquido sem nem soprar, o calor descendo queimando em sua garganta, mas a dor foi bem-vinda. Era uma forma de se punir por não ter salvo sua sobrinha de uma vida tão difícil, embora, no fundo, ele soubesse que não tinha culpa.
- Devagar! Vai se machucar assim! – Scylla deu um grito assustada, preocupada com ele. Em um reflexo natural, ela estendeu a mão para tocar a garganta de Hieron, mas sua mão parou sem encostar nele quando ele segurou firme seu pulso, impedindo o toque.
Scylla se sentiu suja como não sentia a anos, como se o fato de ter sido gerada como foi a tivesse tornado impura, podre.
Hieron largou a xícara vazia no braço largo do sofá e puxou Scylla pelo pulso, abraçando-a tão apertado a ponto de deixa-los sem fôlego.
- Me... – Hieron soluçou. – perdoe... Eu devia...devia...eu...devia...
Scylla se surpreendeu com as lágrimas dele e se sentiu culpada porque, como uma Tiger que se preze, ela não chorava. Pelo menos não na frente de ninguém e não admitiria nunca.
- O que? – Scylla se afastou um pouco, com dificuldade porque ele a segurava firme, olhou em seus olhos, a poucos centímetros de seu rosto. – Devia o que? Você não tinha como saber, acredite. Eu chequei. Eu investiguei todos que tiveram contato com aqueles dois vermes. Como acha que descobri tudo sobre vocês?
- Mas...ele é meu irmão... eu devia saber...
- Pare com isso! – Scylla foi firme. – Minha mãe era irmã daquele monstro, sabia que ele não prestava, mas ela nunca imaginou que ele faria o que fez com ela! Como você esperava saber sobre Téo que é muito mais sorrateiro? Se não parar com essa merda você vai enlouquecer e não posso viver com essa culpa também!
Hieron se calou por um segundo, pensando em todo trauma que a menina devia carregar sozinha todos esses anos. – Sempre te achei linda, mas com olhos tão tristes...
Scylla tentou se levantar, não querendo demonstrar fraqueza, mas Hieron a puxou em um beijo esfomeado, necessitado. As emoções densas dos últimos dias e a tensão sexual entre os dois que vinha atormentando-os a tanto tempo foi demais. Scylla sentou no colo de Hieron, com uma perna de cada lado dele, aprofundando o beijo. Hieron a segurou firme, com as mãos atrás de suas coxas, levantou a segurando firme e levou até o cômodo ao lado onde ficava a cama, a colocando gentilmente sobre ela, deitando em cima dela, sem nem mesmo parar o beijo.
Em um momento fugaz de tentativa de controle, Hieron parou suas mãos que estavam prontas para abrir a blusa curta da moça com um rasgo: - Se você não quiser, eu vou ent...
Scylla o puxou para baixo e o beijou enquanto arrancava a camisa dele, os botões voando longe. Foi toda a permissão que ele precisava.
~o ⭐ o~
- Vamos leva-los para Jubay e apresentar os fatos. – Alart disse, um olhar sempre atento a Sunny que conversava com alguns soldados, acalmava Ane, andava verificando quem precisava de apoio, principalmente entre os leoninos.
- Espero que entenda que ainda não posso ir. – Calíope disse, atenta à Ane. – Preciso dar um funeral digno ao meu filho, reunir os conselheiros...
- Eu entendo. – Alart respondeu. – Mas vou na frente. Seu testemunho pode ser dado mais tarde em Jubay. Ninguém contestaria isso.
- Aquele leonino, Hieron, não é?
- Seu sogro. – Alart olhou para ela.
Calíope olhou confusa por alguns segundos até a ficha cair. – Por Kallisti... É verdade.
Sim, ele. Alguns do seu povo falaram sobre o respeito que ele tem entre os leoninos.
- Sim, ele será convocado como testemunha. É um bom homem.
- Majestade... – Nira se aproximou com uma expressão grave, atraindo também o olhar atento de Sven a alguns metros.
- Diga, Capitã. – Calíope respondeu, ainda confusa demais para se lembrar que não tinha avisado para a Sentinela sobre a promoção que lhe dera.
Nira parou boquiaberta, mas logo se recuperou. – Temos um problema nas masmorras.
- Pode falar, Nira. Alart é o Rei leonino e um grande aliado. – Calíope ordenou e Sven parou pouco atrás da Sentinela.
- Bem, como desejar. O prisioneiro Ismir... está meio morto.
- Meio morto? – Calíope quase riu. – Como seria “meio morto”?
- Er.. Desculpe.. Morto. Totalmente. Sem dúvida. – Uma mão semi escondida de Nira tremeu demonstrando o quanto a visão a abalara.
- Como entraram na cela? – Calíope perguntou. – Ou ele fugiu?
- Na verdade, majestade, não sei como ele entrou. Ninguém consegue explicar. Ele foi...massacrado... Parece estar morto a algumas horas, talvez até mesmo deste ontem.
Mas não há nenhum sinal de invasão e o guarda garantiu que ninguém entrou ou saiu daquela ala. Ele mesmo só percebeu a morte do felino ao entrar para levar mais água. É
quase como se alguém tivesse aparecido do nada e sumido do nada só para matar ele.
Sven sentiu seu corpo gelar. Nesse momento, quase como uma invocação mental, Scylla apareceu na sala com uma poção na mão, algo calmante provavelmente. Quando seus olhares se cruzaram, ela sentiu que algo estava errado. Mas Calíope e Alart também perceberam tudo isso. Scylla que falava algo com Hieron vindo alguns passos atrás, calou a boca e olhou para Sven. Alguma coisa deu errado, disso ela não tinha dúvidas.
- Sven. Fale. – Calíope ordenou, mas o conselheiro desviou o olhar. Ela caminhou para Scylla, com os olhos travados nos da moça.
Scylla pensou em correr, mas isso a denunciaria mais do que tudo. Sua mente começou a trabalhar rapidamente, pensando nas possibilidades e estratégias que poderia usar em qualquer problema que pudesse vir. Sven caminhou atrás da Rainha, Nira quase ao lado dela, Alart logo atrás dele, atento ao conselheiro. Ane viu aquela movimentação, puxou o braço de Sunny chamando a atenção dela e ambas caminharam até Scylla, tentando entender a situação.
- A jovem quase muda. – Calíope falou sorrindo, mas claramente intrigada.
- Majestade. – Scylla murmurou super baixinho.
- Scylla. Sabia que nunca esqueço um nome? – Calíope continuou. – Ismir sempre achou isso curioso. Lembra dele, não é?
- Talvez. – Scylla disse ainda mais baixo, mas Nira teve uma sensação estranha que não sabia explicar.
A sacerdotisa de Kallisti se aproximou, ficando ao lado de Scylla. – Algum problema, majestade?
- Não sei. Algum problema, Scylla? Sven, porque não nos conta qual o problema? E não minta. Não estou em um bom dia para brincar de caça-verdade.
Sven se aproximou. – Ismir está morto.
Scylla não demonstrou nenhuma reação, mas Sven sabia de uma forma quase intuitiva que tinha sido ela. Ele gostava tanto dela que parecia até sentir as emoções dela antes de ver em seu rosto.
- Scylla... – Ele disse num lamento baixo.
- O que você tem a ver com isso, menina? Ismir não era um poço de virtudes, então tentarei compreender se você falar a verdade. – Calíope disse.
- Não sei do que... – Scylla murmurou super baixo.
- Fale alto. – Calíope perdeu a paciência e quase gritou, mas, para sua surpresa, Scylla nem mesmo tremeu, não demonstrou nenhuma reação, nem desviou o olhar como qualquer um faria. – Curioso...
- Cali, não brigue com ela. Ela foi muito legal comigo e estamos todos tensos hoje. –
Ane tentou acalmar as coisas. – Vamos deixar isso para depois, quando estivermos calmos.
A raiva não é amiga da justiça, meu pai sempre diz. Vamos procurar ele e conversar....
Com isso Scylla virou para trás e procurou Hieron no corredor de onde vieram. Mas não havia nenhum sinal dele. O que não poderia ser bom porque não tinha outro caminho para sair sem passar por ela que estava logo na entrada daquele salão. A não ser pelas escadas em uma lateral do corredor que dava para alguns depósitos de magos e o transportador usado para enviar uma ou duas pessoas à distância ou mercadorias específicas. Vingativa como era, Scylla não tinha dúvidas de para onde ele ia e o motivo.
Apavorada, ela virou e tentou correr, mas nem deu meio passo. Nira a segurou e virou-a de frente para a Rainha.
- Scylla, amor, não fuja... – Sven tentou acalmar a jovem, já pensando em como salvá-la de qualquer punição pela morte de Ismir.
- Scylla, calma... – Ane disse.
- ME SOLTA! – O pânico fez ela esquecer seu cuidado e sua voz ecoou com toda sua natureza.
Calíope deu um passo para frente, boquiaberta, Sunny tremeu visivelmente e Nira sentiu um arrepio sacudir seu corpo.
- Era você... Mas... Sua ficha... Não cita telepatia forte o suficiente.... – Calíope comentou.
- Foi ela sim. Eu reconheço essa voz em qualquer lugar! – Nira disse.
- Foi ela o que? – A sacerdotisa perguntou. – É melhor ter provas antes de acusar uma das sacerdotisas de qualquer coisa.
Um círculo de soldados e nobres curiosos já tinha se formado para ver a fofoca.
- Não é uma acusação. É uma constatação. – Calíope respondeu. – Foi ela que...
- Me ajudou no cativeiro que Arman fez. – Sunny disse.
Ao mesmo tempo que Calíope completava: - Salvou a gente no desabamento.
Quando as duas fecharam a boca, se entreolharam abismadas e depois olharam para Scylla.
- ME SOLTA, DROGA! – Scylla gritou, pouco se importando com a descoberta delas.
- Scylla...foi você...sua voz parecia familiar, mas...eu não tinha certeza... – Ane comentou.
- SIM, FUI EU! – Scylla se debateu mais ainda. – Eu evitei que Sunny morresse naquele cristal, ajudei a quebrar aquela coisa, ajudei para que a mensagem chegasse no namorado dela, evitei que vocês morressem nos escombros, salvei sua filha da parada respiratória que ela teve na sua barriga no desabamento...
- Minha bebê parece reagir à sua voz, feliz... – Ane comentou.
- Como fez isso, menina? – A sacerdotisa perguntou. – Sua ficha não...
- QUE CACETE! ME SOLTA! – Scylla deu uma cotovelada em Nira que a soltou, mas alguns soldados apontaram suas armas para ela. – MANDA ELES ABAIXAREM ESSA MERDA!
NÃO TENHO TEMPO PRA ISSO!
- Calma, menina. Você tem explicações... – Calíope disse.
- Scylla, obrigada. – Sunny disse emocionada, não se importando com mais nada.
- De nada. – Scylla se acalmou. – Olha, eu conto tudo, mas depois. Agora se não me deixarem ir seu sogro vai fazer uma bobagem da qual se arrependerá pelo resto da vida e eu vou me sentir a pior merda do universo.
- Meu pai? – Ane perguntou.
- Do que está falando? – Calíope perguntou.
- Hieron sempre foi um felino sábio.. – Alart tentou contestar.
- Merda... – Sven entendeu, deu um passo até Scylla e segurou as mãos dela. – Scylla, onde ele está?
- Lá no transportador... Espero. – Ela respondeu. – Sven... Ele vai mata-los.
- Sim, vai. – Sven se virou para a Rainha. – Precisamos impedir que Hieron mate... – Ele se calou olhando para Ane.
- Quem meu pai vai matar? Meu pai é pacífico.
- Subam! Se Hieron estiver no transportador, não o deixem passar e tragam ele para mim. – Calíope ordenou e dois soldados Tiger subiram.
- Quem? – Alart perguntou e Sunny entendeu a linha de pensamento dele.
- Não teria motivos, Lala. – Sunny o acalmou. – Mesmo que ele soubesse, não haveria motivos para matar. A menos que... Oh, céus.
- O que? Do que estão falando? – Ane perguntou, mas logo pareceu entender. – Não...
Mesmo assim, ele nunca mataria....
- Sua mãe e meu pai que são amantes? – Scylla perguntou, sarcástica. – Aquele monstro que... – Scylla calou a boca.
- Téo é seu pai? – Alart olhou para ela, os olhos da moça finalmente fazendo sentido porque ele sempre os achara familiar.
- Sim, aquele merda é meu pai. – Scylla estava agitada, esperando o retorno dos guardas, apesar de sentir o resultado.
- Meu tio...amante...não... Você é... – A mente de Ane girava em um turbilhão.
- Quem é você, de verdade, garota? – Calíope perguntou.
Scylla ergueu o queixo e disse: - Sou Scylla Tiger, filha de Yara, meia irmã daquele monstro que você chamava de amigo, e de Téo, aquele pedaço de estrume que comprou e violentou minha mãe.
O silêncio que se seguiu era quase sepulcral.
Scylla só desviou o olhar de Calíope quando quase foi derrubada por um abraço forte de Sunny. – Sinto muito. – Sunny disse e Scylla sentiu a sinceridade naquelas palavras.
- Majestade, - um dos guardas chamou ao voltar lá de cima. Scylla nem se virou, já sentindo o que acontecera – o transportador foi ativado. Encontramos apenas o mago responsável pelas viagens desmaiado no chão.
- Para onde o transportador foi programado? – Calíope perguntou, prevendo a resposta.
- Jubay. – O guarda respondeu. – E... Foi travado do outro lado. Não temos como passar para nenhum lugar de Jubay.
- Que droga! Até chegarmos lá, viajando pela estrada, serão dias de viagem, será tarde demais. – Alart passou a analisar as opções.
- Podemos reunir alguns magos e enviar para um lugar mais próximo. – Calíope disse.
- Téo estará esperando, se estiver vivo. Ele e Ciara planejam tomar o trono leonino e depois o Tiger. – Sven disse ao receber um olhar de aprovação de Scylla.
- E você sabia disso desde... – Calíope se virou furiosa.
- Alguns minutos. – Scylla completou. – Eu contei pra ele e pedi um tempo.
- Um tempo para que? – Calíope perguntou.
- Me vingar daquele merda. – Scylla disse sinceramente.
- Não. Scylla, isso não vai te levar a lugar nenhum. Eu sei que é difícil, mas você precisa deixar o passado para trás.. – Sunny segurou uma mão da prima.
- E perdoar. – Scylla completou. – Eu não sou como você e minha mãe, Majestade. –
Ela respondeu com um sorriso orgulhoso por Sunny que não tinha se tocadoa ainda de que já era a rainha leonina.
- Cali, por favor.. – Ane sentiu a garganta se fechando em desespero. – Tem que ter um jeito de ajudar meu pai... Ele não pode...
- E não vai. – Scylla disse decidida. – Pode enviar seu exército agora?
- Sim. – Calíope respondeu. – Estávamos preparados para lutar a pouco tempo. Mas não tem como enviar...
- Exatamente. Se Hieron ou Téo fecharam a passagem, não importa. O fato é que não tem como passar nada. Muito menos um enorme exército. Aquele Téo pensou em tudo nesse sentido. – Alart comentou, planejando matar o conselheiro quando chegasse no reino.
- Não em tudo. – Sven comentou.
- Não pensou em mim. – Scylla completou, atraindo mais olhares confusos. –
Majestades, a gente pode conversar sobre qualquer coisa que quiserem depois, mas Hieron é minha prioridade agora. Reúnam seus exércitos no pátio principal e garanto que todos vão passar e chegar em um ótimo lugar de Jubay.
- Não sei se podemos confiar em alguém que não conhecemos. – Alart disse.
- Alart, meu pai está lá! Pronto para destruir sua vida! – Ane ficou furiosa.
- Sven? – Calíope perguntou.
- Ela é doidinha, mas é leal até a alma, majestade. – Sven respondeu.
- É tudo que preciso saber. Por enquanto. – Calíope respondeu.
- Não sei se é uma boa ideia... – Alart disse. – Mas não vejo melhor opção agora.
Vamos cortar essas ervas venenosas pela raiz.
~o ⭐ o~
Hieron chegou no transportador da praça mais distante do palácio e soltou um suspiro irritado. A caminhada até o palácio levaria alguns minutos.
Eu devia ter previsto isso. Aquele traidor deve ter fechado um por um dos portais para não ser atacado. Mas eu vou achar vocês.. .
As poucas pessoas na rua que cumprimentaram Hieron estranharam o silêncio do felino que andava focado, sem dar nenhum sorriso, sem cumprimentar ninguém, passando por todos como se nem estivessem ali. A cada passo ele sentia a adaga longa que pegara sorrateiramente do quarto de Scylla e se sentia mais e mais compelido a matar. A moça sofria com as memórias roubadas da própria mãe, sentia o abuso que a mãe sentiu, tinha pesadelos com isso, viveu uma vida de ódio, longe de todos, desconfiada de todos, carregando tudo sozinha sem poder se abrir com ninguém. A traição de Ciara doía porque ele sempre respeitou a esposa, mesmo quando o casamento caiu na rotina, mesmo quando ele começou a se sentir atraído por Scylla com uma culpa que o matava aos poucos... Mas, por outro lado, ele se sentia livre. Livre para admitir pra si mesmo que não era só atração, que amava a jovem vaidosa, mas sem besteiras, elegante, mas também simples. A jovem que passara a amar e admirar com o tempo e, para sua grata surpresa, também o amava.
Mas Téo? Téo era seu irmão. Hieron abriu mão da amizade de infância com Arman para não
ofuscar Téo que queria ser conselheiro. Hieron abriu mão de estudar em Tiger para que seu irmão pudesse fazer isso. Ele cuidou de seu irmão quase como filho quando ambos ficaram órfãos muito cedo. E tudo para que? Para ser traído, menosprezado, feito de trouxa... Saber que seu irmão e Ciara ainda por cima armara para que ele morresse... Se Téo ao menos tivesse se dado ao trabalho de conhecer Hieron, não teria feito essa besteira.
Scylla, Yara, ele próprio... Tanta gente ferida por Téo... E Hieron tinha quase certeza que Jana também era culpa de Téo e Ciara. Scylla não disse, mas sua expressão quando Sven perguntou sobre Jana disse mais do que mil palavras.
Eu vou matar vocês dois. Hieron disse ao ver o palácio à distância, entrou em uma rua adjacente, caminhou até a lateral dos muros onde ficava uma enorme piscina no palácio e um pequeno jardim, empurrou a portinha de madeira escondida em uma árvore do lado de fora do palácio. Contra todas as probabilidades, a antiga passagem por onde ele e Arman fugiam para brincar na infância ainda funcionava muito bem. Ele entrou, passou por corredores escuros, pingando com a umidade da piscina acima e abriu a porta do outro lado, saindo na base de uma estátua de Seth, um antigo Tiger mago muito admirado e respeitado por ambos os povos.
Hora de caçar, predadores. Hieron disse o que seu falecido amigo Tiger, um caçador sempre dizia.
~o ⭐ o~
Vamos para a caça, ôh, ôh ôh, ôh ôh!
Vamos para a caça, ôh, ôh ôh, ôh ôh!
Capítulo 20
Um dia vou olhar para esse momento da história de Likastía e vou rir de prazer com ele....
E esse dia é hojeeee!!!!
UAAAHAHAHAHAHA!!
~o ⭐ o~
- Scylla... – Sven chamou ela de lado. – Você sabe o quanto gosto de você...
- Sim, mas...
- Apenas me escute. Quando voltarmos, vamos todos esclarecer as coisas e vou fazer tudo o que puder para te livrar de qualquer problema. A Rainha é rigorosa, mas é justa também.
Scylla colocou uma mão no rosto dele e ele deu um beijo na palma dela. – Sven, você foi meu primeiro e mais adorável amante, meu amigo, foi quem me salvou dos traumas que você só soube os motivos hoje. Eu nunca vou esquecer isso. Você não me deve nada.
- Não faço isso porque devo ou não, Scylla. Faço porque te amo e você sabe disso. –
Sven olhou atrás dela. – Majestade.
- Estamos prontos. Eu sei que você disse que vai nos fazer passar por um portal, mas não vejo nenhum transportador grande o bastante por aqui e...
- Sim, a senhora vê, só não sabe disso ainda. – Scylla andou até sua posição marcada.
Calíope tomou a frente de seu exército, Alart ao seu lado com os leoninos atrás dele entre os Tiger, Sven ficou do outro lado da Rainha e Sunny do outro lado de Alart. Ane então se posicionou atrás de Calíope que lhe direcionou um olhar insatisfeito.
- Não. – Calíope disse simplesmente.
- O que? – Ane perguntou.
- Você não vai.
- Como assim, não vou?
- Ane, você carrega a herdeira da Coroa Tiger. Não vou arriscar sua vida. Não vou perder mais uma pessoa que amo num único dia. Guardas!
- Nem pense nisso. – Ane disse visivelmente irritada. – É o meu pai que estamos falando. Ou vou com você ou vou dar um jeito de ir sozinha!
- Guardas, - Calíope disse pra um guarda já perto de Ane – levem lady Ane para o quarto dela e tranquem as portas. Se ela sair vocês pagarão pessoalmente por isso.
- Sim, majestade. – Um deles respondeu. – Milady, por favor.
- Não! Eu vou junto. – Ane bradou.
- Ane, a Rainha tem razão. É melhor esperar aqui e prometo que a gente vai fazer até o impossível pra ajudar seu pai. – Sunny disse.
Mas Ane estava irredutível. Calíope sinalizou para os Guardas que a levaram quase carregada enquanto a moça se debatia.
- Ela tem direito de ir. – Scylla disse.
- Eu me entendo com ela na volta. – Calíope disse com um olhar que praticamente gritava “também vou me entender com você na volta”. – Agora, cuide do que você prometeu cuidar.
Scylla deu de ombros, estalou os dedos de uma mão e todos quase caíram de costas com o susto. Um portal gigantesco de bordas brancas brilhantes, um vórtice central que lembrava uma flor vermelha intensa em movimento, se abriu ao lado dela e ela apenas sinalizou como se aquilo não quebrasse umas mil leis da natureza de Likastía. – Podem passar.
Calíope fechou a boca, controlou a surpresa estampada em seu rosto e direcionou um olhar semicerrado para ela. – Onde isso vai dar?
Scylla sorriu antes de responder e surpreender mais ainda a todos. Alart imediatamente esboçou notas mentais para o que deveria realizar no palácio assim que possível ou Scylla seria uma constante ameaça.
~o ⭐ o~
Téo e Ciara estavam nus em uma banheira de águamassagem do lado de fora, no jardim dos fundos do palácio, em uma área coberta por um telhado de madeira escuro repleto de trepadeiras, apenas com uma parede de pedras marrons no fundo. A visão era apaixonante e a água borbulhante da banheira era relaxante, especialmente naquela tarde um pouco mais fria.
Téo tinha puxado Ciara para seu colo, suas pernas o cercando e seu corpo impedindo a visão do jardim. Não que eles estivessem muito preocupados em observar o jardim, de qualquer forma. Embora devessem.
- É melhor a gente subir, querido. – Ciara disse entre beijos apaixonados.
- Não deu pra perceber, amor? Já subi faz tempo. – Téo respondeu em um rosnado safado.
- Se quiser, eu te faço descer bem rápido. – A voz fria e furiosa de Hieron fez o casal se assustar, os dois se levantando rápido, até esquecendo que estavam nus.
- Hi.... - Os dois começaram a dizer juntos.
- Não. Shh! Calem a boca. Nenhum de vocês merece sequer dizer meu nome. – Hieron respondeu, uma espada roubada de um guarda leonino, suja de sangue, em uma mão e a adaga de Scylla na outra. O felino parecia irreconhecível. Seus pelos estavam sujos de sangue, eriçados completamente, sua cauda parecia ter o dobro da espessura por causa
dos pelos, seus olhos tinham uma fúria animalesca estampada. Naquele momento Hieron parecia completamente louco, irracional, como um animal selvagem faminto por sangue.
- Irmão... – Téo tentou conversar, olhando sorrateiramente para sua espada a alguns metros na bancada.
- Irmão? – Hieron sorriu de um jeito arrepiante. – IRMÃO?! Que bela memória seletiva! Agora, depois de trepar com essa vadia por anos, de ter se enfiado nela na festa do MEU casamento, no MEU quarto, na MINHA casa, você de repente, assim, do nada, lembrou que é meu irmão?
- Querido... Não é isso... Foi só um deslize... Só hoje... – Ciara tentou conversar enquanto abaixava devagar para pegar uma toalha na borda da banheira para se cobrir.
- EI! Nem pense nisso! Se abaixar pra pegar qualquer coisa eu te mato. Pra que se esconder? Nós dois já vimos tudo isso ai, não é. Quanto a você, Téo, se pegar essa espada, bem... Garanto que você nem chega nela.
- Você não vai nos ferir a essa distância. – Téo comentou.
- Não vou? Tem certeza, imbecil? Por acaso algum dos dois patetas sabe o que eu fazia pra pagar seus estudos antes de conhecer essa piranha?
- Você....pescava? – Ciara tentou um palpite. Ela e Téo realmente achavam Hieron tão indigno de atenção que nunca se preocuparam em saber essas coisas.
- Eu caçava, sua estúpida egocêntrica. – Hieron respondeu. – Eu cacei por anos, matava de perto e de longe com arremessos de dardos e adagas.
Téo, aproveitando o aparente foco de Hieron em Ciara, esticou o braço para pegar a espada, mas Hieron, sem nem mesmo olhar para ele, lançou a adaga de Scylla que atingiu o pulso de Téo, o prendendo na parede de pedra no rejunte cinza.
- TÉÉÉÉO! – Ciara gritou.
- SEU FILHO DE MIL AMEBAS! – Téo berrou, sentindo o sangue escorrer.
- Esta espada, - Hieron continuou com uma calma gélida – eu peguei com o primeiro ninguém que apareceu na minha frente tentando me atrapalhar. Ela é especificamente para você, querida.
- VOCÊ FICOU LOUCO? – Ciara tentou ajudar Téo, mas, assim que deu o primeiro passo, Hieron estava atrás dela tão rápido como um fantasma e cortou o rosto dela na altura do focinho, perto dos olhos. – AAAAAAAAAAAAAAH!
- CIARA! – Téo gritou e o som de choque de espadas ecoou ao longe. – EU VOU TE
MATAR, SEU MERDA! SOLTA MINHA...
- Sua nada. É isso que ela é. Nada. – Hieron agarrou a cintura de Ciara por trás e manteve a espada no pescoço dela. – Ela é só uma qualquer que nós divimos. Embora, irmão, você devia ter me dito que eu tinha uma rameira em casa. Eu já teria deixado os restos pra você e seguido atrás da mulher que amo.
- Você estava...me...traindo? Como...como pôde? – Ciara nunca tinha se sentido traída daquele jeito.
- Ah, não, querida. Eu não sou como vocês. Eu só segui minha vida quando vocês deixaram bem claro o “corno idiota” que sou, enquanto comemoravam minha “morte” no exército.
Téo perguntou: - Você estava espionando a gente? Como você entrou lá?
- Sua filha, irmão, é uma espiã excelente com um dom magnifíco que Kallisti lhe deu para vingar a mãe dela.
Foi pra isso mesmo. Está certíssimo.
- Filha? Eu não...
- Esqueceu da Yara, não foi? A garota que você comprou do irmão dela para abusar...
- Ismir... – Ciara lembrou do boato.
Nesse meio tempo, Téo soltou um pouco da adaga em seu braço, chutou a água da banheira que atingiu os olhos de Hieron.
- Ciara!
Entendendo o sinal, ela se abaixou e uma rajada leve de magia passou em direção a Hieron. Mas os reflexos dele foram bem mais rápidos e ele conseguiu desviar do ataque que teria o paralisado e deformado qualquer ataque futuro de Téo.
~o ⭐ o~
Alart e Calíope trocaram um olhar quando seus pés tocaram o chão do pátio do palácio leonino.
- Aquela... – Calíope olhou para o portal se fechando.
- O que... Onde a tal Scylla se enfiou? – Alart disse.
- Ela vai fugir. – Calíope disse.
- Ela não faria isso. – Sven comentou, meio tenso.
- Falou o felino apaixonado. – Calíope revirou os olhos.
- Ela prometeu. – Sunny disse como se isso fosse uma prova incontestável. – Acredito nela.
Scylla, não faça besteira, menina. Sven pensou.
Soldados estavam treinando uma marcha pouco à frente e olharam boquiabertos para aquela invasão. Alguns saltaram para cima dos Tiger sem prestar atenção a mais nada. Por alguns minutos, o som de espadas, de combate ecoou por metros e metros, até que Alart alcançou a escadaria que levava para dentro do palácio e lançou uma luz branca pouco acima, chamando a atenção de todos.
- Chega! Nenhum leonino vai morrer aqui hoje. Não mais. Não se eu puder evitar!
Murmúrios de surpresa e confusão soaram entre os soldados leoninos.
- Príncipe....Alart? – Um soldado de patente alta perguntou. – O senhor...não foi morto?
- Não. Meu pai traiu a todos com uma mentira apenas para aumentar seu domínio sobre o mundo. – Alart disse com firmeza.
- E onde está o Rei para responder a essa acusação? – Outro soldado perguntou.
- Seu Rei está na sua frente. Arman foi desafiado, rejeitou o desafio, atacou o filho pelas costas e matou o príncipe Tiger. – O comandante leonino que testemunhara a tudo disse, ficando ao lado de Alart. – Não faltam testemunhas disso e os procedimentos legais serão realizados para que não reste dúvidas. Quem quiser se unir a nós na defesa de nosso Rei agora, venha para nosso lado. Quem quiser esperar os procedimentos, abaixe sua espada e saia.
Cada soldado leonino trocou olhares e, um por um, se ajoelharam saudando Alart como novo Rei.
- Vida longa e sábia ao Rei Alart! – Eles disseram em voz baixa, um costume leonino oposto ao Tiger que sempre gritava essas saudações a plenos pulmões.
- E à Rainha Sunny, minha esposa. – Alart sinalizou e Sunny se aproximou meio sem graça.
Os soldados olharam surpresos e sorrindo, afinal a beleza de Sunny sempre fora comentada na cidade.
- Vida longa e sábia à Rainha Sunny!
Sunny e Alart foram para dentro do palácio com os soldados procurar o casal usurpador, enquanto Sven e Calíope seguiram com alguns soldados para os jardins. No meio do caminho Sven sentiu seu corpo todo chacoalhar em um arrepio.
- O que foi, Sven? – Calíope perguntou.
- Um pressentimento ruim. – Sven disse, tenso.
- Que coisa.... Eu me sinto um pouco angustiada também. – Calíope disse e eles trocaram um olhar. – Vocês! Procurem naquele lado, eu e Sven vamos por ali.
Os soldados estranharam, mas não discutiram com a Rainha e seguiram para o lado oposto.
~o ⭐ o~
- Você...você tem magia? Mas...Desde quando? – Hieron firmou os pés no chão escorregadio.
Ciara tirou a adaga com dificuldade e pegou o manto dela e o de Téo com as poções deles escondidas nos bolsos.
- Magia ilusória, irmão. – Téo disse, tendo dificuldade para usar sua mão esquerda, já que a direita, sua mão dominante, estava completamente dormente pelo ferimento no braço. – Posso fazer o que eu quiser com seu corpo depois de enfiar esta poção – ele mostrou um frasco com um líquido lilás – na sua garganta. Criação da MINHA mulher aqui.
Ela é excelente com poções e venenos. Até criou isso para aumentar a eficácia da minha magia.
Hieron ergueu a espada e Ciara pegou um frasco com um pó semelhante à areia e o destampou.
- Se você se aproximar com essa merda, vou jogar isso na sua cara pra você alucinar com todos os seus piores pesadelos, seu corno burro! – Ciara berrou, a dor em seu rosto só aumentanto sua raiva. – Eu sempre tive nojo de você, idiota! Só casei pra cumprir as ordens da minha família! Se meu pai não tivesse descoberto minhas festinhas com os bonitões que Ismir contratava, eu nunca teria me casado com um palerma que nem você!
- Vocês realmente se merecem.
- Sem dúvida, Hieron. – Téo deu mais um passo em direção ao irmão. – Agora eu serei rei, você vai pro diabo que te carregue, mas antes vai me contar tudo sobre essa bastarda que preciso matar.
- VOCÊ NUNCA VAI ENCOSTAR NA MINHA MENINA, IDIOTA! – Hieron avançou para Téo, mas quando a poção previsivelmente foi lançada nele, ele desviou, deu uma rasteiro em Téo e usou sua espada para cortar os tornozelos de Ciara em um só golpe. A espada estava muito bem afiada, pois cortou até o osso, deixando apenas uma pequena parte do tornozelo ainda colado na perna.
Ciara e Téo caíram no chão, cada um para um lado, mas Téo, furioso pelo ataque à mulher, se levantou e pulou para atacar Hieron.
Hieron já tinha previsto esse movimento e bateu com o cabo da espada no estômago do irmão, desviando dos ataques mágicos dele que, sem a poção de Ciara, realmente eram bem fracos.
- Você é tão estúpido... Acha que é rei? – Hieron riu. – Alart é o rei, seu idiota!
- Alart está morto! – Téo disse.
- MATA ELE, TÉO! – Ciara chorou caída no chão, seu rosto ardendo, sangrando, sua raiva pela traição de Hieron fazendo uma ideia brotar do ciúme, do ego ferido.
- Cala a boca, piranha! – Hieron deu um chute na cara dela que só a fez gritar ainda mais. – Alart está vivo, casado com Sunny e o tolo do Arman está morto!
- MENTIRA! – Téo gritou.
- ELA É A AMANTE DELE, TÉO! – Ciara jogou sua suspeita no ar. – MATA ELE PRA GENTE
IR ATRÁS DA AMANTE BASTARDA!
- Você... HAHAHAHAH! – Téo parecia um louco. – Você pega a minha filha bastardinha de merda?
- Limpa essa boca imunda pra falar dela! – Hieron partiu para cima de Téo, mas Téo o derrubou, os dois rolaram no chão entre socos até que Téo conseguiu ficar em cima dele, sentando em sua barriga.
- Ah eu vou ter muito prazer em dar um fim nela. Bem devagar, como fiz com aquela coisinha chorona que era a mãe dela. – Téo sorriu com todo ar sinistro de um vilão...bem...ele é mesmo um vilão, ne. Ele ergueu o frasco de poção com um restinho dela.
– Depois que você me contar quem é ela vou te jogar do topo do palácio e vão pensar que você se matou.
O vento morno soprou vindo do leste, o som de conflito pareceu sumir.
- Quem é ela e onde ela está? – Téo perguntou.
- Aqui. – O chute de Scylla atingiu as costelas de Téo, o jogando dentro da banheira.
- Scylla... – Hieron olhou como se ela fosse uma alucinação.
- Jogar do... – Ane gaguejou, ainda a uma boa distância como Scylla ordenara. –
Grande Kallisti.... Alart tinha razão... Jana não se matou. Você matou ela...
- Sempre amei sua inteligência, sobrinha. – Téo se levantou da água que agora estava vermelha e ele bastante tonto com um corte enorme no topo da cabeça, uma mão sobre as costelas, respirando com dificuldade.
- Ela descobriu sobre o caso deles dois. – Scylla disse, ajudando Hieron a se levantar. –
Por isso eles a mataram. Tentei facilitar para Alart encontrar as provas, mas Done achou antes algumas coisas.
- O que você está... – Hieron ficou preocupado.
- Achou que eu ia deixar você sujar minha adaga com aquele cara ali sozinho? – Scylla olhou reprovadoramente para ele.
- Sua piranhazinha! – Ciara tentou se levantar, mas caiu de novo, dessa vez seu rosto atingindo com tudo a água cheia de sabão.
- Você... Como você chegou tão perto.... – Téo sentiu a cabeça pesar.
- De vocês? Dos seus planos tolos? Do esconderijo onde prenderam Sunny? De todos os seus crimes? – Scylla sorriu, abaixou e pegou sua adaga embaixo de uma toalha, numa poça de sangue. – Você é um leonino, mas eu sou uma Tiger. Conhece o ditado: um Tiger vai te ver 100 vezes antes de você vê-lo uma única vez.
Scylla se virou, pulou e enfiou a adaga na genitália exposta de Téo. – Isso é pela minha mãe.
- ANAHREHG! – Téo deu o grito mais ininteligível que já ouvi, enquanto o sangue jorrava na banheira.
Ciara deu um berro agudo, meio de raiva, meio de....loucura, acho. Usando os braços, ela se empurrou para frente até alcançar um enfeite feito de mármore que havia caído, ergueu e jogou para acertar a coluna de Scylla de costas para ela. O objeto no entanto foi parado por Ane que o segurou de forma desengonçada, mas eficaz.
- MATE ELA, ANE! ELA É AMANTE DO SEU PAI! – Ciara gritava e chorava ao mesmo tempo.
- Ela e meu pai se amam. E você não é ninguém para falar de traição, mãe. – Ane disse com uma tristeza visível.
- Sua....Sua ingrata! Eu fiz tudo por você! Eu vou ser a Rainha! Eu desisti de ser esposa do Done pra que você pudesse dormir com ele! Eu...
- Mãe...
- Olha como fala com a minha filha!
Scylla soltou a adaga do corpo de Téo que caiu na banheira fraco e tonto demais, com um dor indescritível na água cheia de sabão.
- Eu estou grávida. – Ane disse, embora não soubesse o que esperava. Mas com certeza ela não esperava aquela reação.
- Do Done ou de outro qualquer, vagabunda?! – Ciara gritou. – Espero que essa criança morr...
Em um acesso de raiva protetora, Ane deu uma pisada na cara de Ciara, fazendo ela calar a boca.
- Você nunca, nunca mesmo, vai ter a chance de sujar minha filha com sua língua imunda! Você é minha mãe, apesar de tudo, mas pela minha filha eu sou capaz de matar qualquer um!
- Não será preciso. – Scylla usou um feitiço simples de punição que fez a língua de Ciara literalmente dar um nó. – Como sacerdotisa oficial, eu condeno sua língua por tentar amaldiçoar uma criança inocente, de acordo com a lei.
O olhar de raiva de Ciara logo se transformou em um pedido silencioso a Hieron para ser morta.
- Não, pai. Não vale a pena. – Ane implorou.
O olhar furioso de Hieron se transformou em indiferença. – Não... Não vale. Eu tenho uma neta e uma bela garota para cuidar.
O som de algo se debatendo na água atraiu a atenção deles. Téo estava se afogando na banheira, se debatendo, fraco. Hieron puxou o irmão e o tirou da água.
- Eu vou dar um fim nesse... – Scylla começou, mas um toque gentil em seu ombroa fez virar.
Com olhares surpresos, alguns irritados, Calíope e Sven estavam ali, espadas em suas mãos.
- Não, menina. Ele é seu pai e você sabe o quanto matar um pai ou mãe é maldito. –
Sven disse.
- Mas ele... – Scylla queria viver bem com Hieron, talvez não como um casal mesmo porque ela tinha uma queda pelo Sven também e preferia ser livre, podendo se divertir com os dois de tempos em tempos, mas ela queria vingança. Ela precisava de vingança.
- Ele não tem mais nada, Scylla. Viver é um castigo melhor. – Calíope disse. – E você pode ser livre, Sunny como filha de Ismir já concedeu perdeu oficial a você. Não estrague sua alma perante Kallisti com um crime desses.
- Mas... – Scylla olhou para Téo desmaiado nos braços de Hieron e sentiu aquela culpa.
- Você não é culpada por sua mãe não ter sido feliz. Você tem o direito de ser feliz, menina. – Sven disse o que tinha dito a anos quando ela finalmente se livrou do trauma sexual pelas memórias da mãe e se entregou a ele.
- Às vezes acho que você é tão telepata quanto eu, Sven. – Scylla comentou, sentindo aquela leveza que ele parecia ter o dom de lhe dar.
- Às vezes acho que ele lê mentes também. – Calíope comentou. – Agora, Ane, meu amor, vamos conversar sobre sua fuga e uma certa má influência que a ajudou?
Só então Ciara entendeu que Ane acabaria se tornando a Rainha, pois o amor entre a menina e Calíope eram quase palpáveis. Aquilo a encheu de inveja, de ódio.
~o ⭐ o~
Três meses depois. ...
Sunny e Alart aguardavam a chegada de Ane com a pequena Epaine, uma Tiger linda que ria para absolutamente qualquer coisa. Os exércitos patrulhavam as estradas depois da fuga de Ciara a um mês ao ser transferida para ser julgada em Tiger por crimes de tráfico de poções alucinógenas proibidas para Ismir usar em suas festas. Uma delas inclusive tendo sido usada na mãe de Scylla. Ciara havia se soltado e se jogado no mar. Ninguém sabia se ela tinha se matado para encontrar Téo no outro mundo, já que ele tinha morrido dias antes devido um coágulo em sua cabeça que explodiu. Mas todo cuidado era pouco.
- Aine, vem com a tia, amorzinho! – Sunny pegou a menina do colo de Ane assim que ela desceu da carruagem, sem nem olhar para a amiga.
- Oi, Sunny. Também é bom te ver. – Ane riu.
- Não liga. Deve ser os hormônios maternos gritando. – Alart comentou.
- Quando o pequenino nasce? Já está perto, não é? – Ane perguntou, entrando no palácio.
- A qualquer momento. – Alart respondeu e se perguntou, pela milésima vez, como Sunny conseguia andar com aquele barrigão. – E não um pequenino.
- Como assim? – Ane perguntou.
- São três. – Alart respondeu com um sorriso idiota.
- AAAAH! – Ane correu para abraçar Sunny.
- Você não sabe ser sutil, não é? – Sunny perguntou para ele.
- Aprendi com você, amor.
~o ⭐ o~
Calíope estava batendo o pé no chão, deixando Sven ainda mais mau humorado.
- Ela só viajou a dois dias. Logo ela e Aine voltam. – Sven resmungou.
- Minha esposa viajou a longos dois dias! Se eu não tivesse tanto trabalho, teria ido também. Queria tanto ver minha amiga. Sunny logo vai ter aquele bebê enorme que deve se esconder naquele barrigão. ...Saudades da minha esposa....
- É a quinta vez em quinze minutos que você diz isso.
- É a milésima vez em 15 minutos que você aponta esse lápis. – Calíope resmungou. –
Vai logo atrás da Scylla, caramba!
- Não posso.
- Ela resolveu dar uns pegas no Hieron não é?
- Hump! Ela podia se decidir logo!
- Ela não disse que ia decidir por ninguém. Só que ela gostava de transar com os dois e não queria compromisso. Vocês que ficam indo atrás dela toda hora e, como a garota não é de ferro e já deixou tudo claro, aceita dormir com quem lhe dá na telha!
- Mas eu amo aquela menina... – Sven abaixou a cabeça.
- Hieron disse a mesma coisa ontem. E vou te dizer o mesmo que disse pra ele: se afaste se você não consegue ficar com ela apenas sexualmente de vez em quando, se isso te machuca.
- Machuca muito mais ficar sem ela. – Sven respondeu.
- Credo! Parece um eco do Hieron. – Calíope comentou e os dois riram do ridículo da situação.
~o ⭐ o~
- Hieron... – Scylla perguntou, deitada nua com a cabeça no peito dele, no meio da floresta.
- Oi, minha linda?
- Eu estava pensando....
- Eu tenho medo disso... – Ele brincou. – Seus pensamentos são perigosos e pervertidos, minha linda.
- Hahaha! Nem posso negar. Mas, desta vez, é algo puro.
- Certo. Do que se trata?
- Você já pensou que poderia ser legal um fim de semana, numa cabana isolada...
- Hmmmm... Estou gostando disso.
- Comida e bebida gostosa....
- Muito bom. – Ele já estava mesmo imaginando.
- Sexo...
- Isso está indo muito bem...
- Comigo...
- Adorei.
- E com você e Sven.
- Porra, Scylla! – Ele se levantou tenso, meio odiando a ideia, meio pensando, mas não ia admitir essa parte porque Scylla era realmente um perigo.
- O que? Eu adoraria ter meus dois favoritos me amando ao mesmo tempo.
- Você é muito devassa!
- Sou. E também sou sincera. Não preciso e não quero mais esconder nada.
Ele começou a se vestir emburrado, irritado por imagens nada decentes com ele e Sven (que, por algum mistério da natureza, estavam se tornando muito amigos) divindo Scylla. Ela o beijou na nuca, abraçando seu peito.
- Só pense nisso. Sven me prometeu pensar.
Em um impulso apaixonado e irritado, ele se virou e a beijou, sabendo qual seria sua resposta no fim das contas.
~o ⭐ o~
Já chega. Já contei demais a vida dos outros.
O resto, imagine. Bota essa massa encefálica cinzenta pra trabalhar!
Quem sabe, um dia, eu conte mais num futurepílogo.
Futurepílogo
Não falei que poderia um dia vir contar o futurepílogo? Bem, hoje é “um dia” ne.
~o ⭐ o~
Calíope olhou para aquele rapaz forte, enorme, parecendo um armário, quieto, observador, com uma magia obscura sendo capaz de se transformar em uma névoa negra e se transportar assim pelos lugares e se sentiu mais velha ainda. Era quase impossível acreditar que o caçula dos trigêmeos tinha nascido morto e ela conseguiu o reanimar segundos depois com sua magia. O olhar de Lich foi atraído para ela. Ele ergueu o copo em uma saudação e ela sabia que ele sorria, na alma, claro, já que desde criança ele nunca sorrira. O total oposto de seu irmão do meio, Lesath, rindo de alguma coisa boba que sua neta, Aine, dissera. Aine e Lesath tinham muito em comum. Ambos eram caçadores natos, viviam pregando peças e assustando a todos desde criança, riam até para o vento e eram conhecidos por serem namoradores em série... Embora Aine fosse um pouco mais responsável. Lesath era festeiro, com uma poderosa magia de cura, sedutor, irresponsável, não levava nada a sério e o fato de sua única ter sido pega traindo ele não ajudou em nada.
Se Aine não tivesse descoberto e exposto a moça... E havia o herdeiro do trono leonino, Lucius, o jovem forte, guerreiro, exímio nadador, responsável, explosivo, competitivo, direto como a mãe, e que possuía uma forte telepatia. Calíope sempre imaginou que Aine acabaria se casando com um dos trigêmeos, mas nunca conseguiu perceber nada entre eles além da amizade muito poderosa e de alguma diversão ocasional. Aqueles quatro eram unidos, inseparáveis e, quando Lesath e Lucius entravam em algum conflito bobo, Lich era quem unia a todos ou Aine com seu belo sorriso.
- Eles se tornaram adultos maravilhosos ne? – Ane deu um beijo doce em Calíope e entregou uma taça.
- Sim. – Calíope respondeu. – Você viu as filhas de Scylla em algum lugar?
- Gaia foi com o pai em algum lugar do palácio. Sabe como Sven adora passear com a filha. – Ane respondeu.
- E Maia? Foi junto? Aquelas duas não se desgrudam.
- Não. Minha irmãzinha está levando uma bronca do nosso pai por alguma coisa que não entendi.
- Hieron parecia incomodado com algo mesmo.
- Os tri que devem estar adorando ter a atenção da Aine só para eles. Se minha filha não fosse uma devassa como Scylla e pegasse eles de vez em quando, eu apostaria que eles são irmãos só de olhar. Nunca vi igual... Esses quatro parecem cúmplices de um crime. –
Ane brincou.
- Mamããããããe! – Aine correu e pulou, sentando no colo de Ane.
- Menina, você está pesada. – Ane sorriu. – Fala. O que você quer?
- Mas eu nem disse nada, mamãe linda adorável... – Aine sorriu e deu vários beijos no rosto da mãe. – A mamãe não é linda, vozinha?
- A mais linda do universo. – Calíope disse e Ane ficou sem graça.
- Fala de uma vez, Aine. Eu te conheço.
- Eu e os meninos vamos passear na floresta. Eu posso voltar de manhã? – Aine fez beicinho.
- Não. Você conhece as regras. – Ane disse.
- Mas, mamãe, linda, minha paixão, é aniversário dos meninos... Seria um presente...
- Nem quero saber que presente é esse. – Ane cortou a conversa e Calíope quase engasgou com a bebida.
- Ane, deixa a menina, ela não é uma criança faz tempo. – Calíope disse e Ane olhou feio.
- Deixa a menina ir, Ane. – Sunny disse, com Alart ao seu lado.
- TITIIIIIIIIIIIIIIIIIA! – Aine deu um sorriso enorme, levantou e pulou no pescoço de Sunny.
- Vocês estragam essa menina. – Ane disse.
- Os meninos organizaram uma pequena festa na cabana da Scylla. – Alart disse.
- Tinha que ser... Scylla sempre apoiando as maluquices desses quatro.
- Eu só estou facilitando a vida da minha priminha preferida. – Scylla se apoiou na bengala que usava a alguns anos.
- E eu te adoro por isso. – Aine deu um beijo no rosto de Scylla.
- Ane, os rapazes morreriam antes de deixar ela se machucar e Aine sabe se defender melhor do que todos nós juntos. Deixa eles. – Alart atraiu o olhar irritado de Ane.
- Ok, ok. Já que estão todos contra mim.... Vai lá. – Ane disse.
- Oooooown... Mamãe precisa de um carinho. – Aine deu mais um monte de beijos no rosto dela.
- Certo, certo... Chega, Aine. – Ane riu. – Vá, mas se comporte viu.
Aine já estava a alguns passos quando virou, sorriu de um jeito que parecia o sorriso de Done estampado, piscou e disse: - Mamãe, tudo que não vou fazer com os três bonitões miguxos é me comportar. – Se virou e correu para os trigêmeos que já estavam saindo.
- Aine! – Ane disse, pronta para dar um sermão enquanto os outros riam.
- Calma, meu amor. Eles se entendem. – Calíope segurou a mão dela e beijou.
- Eu não sei de quem essa menina herdou esse... – Ane começou e se corrigiu. – Certo, certo. Deixa pra lá.
- Scylla, onde estão as meninas? – Sunny perguntou. – Trouxe umas coisinhas para elas.
- Cada uma com seu pai. – Scylla respondeu. – Maia estava precisando de uma orientação, digamos. Gaia está passeando com Sven, ouvindo as histórias dele como sempre.
- Me chamaram? – Gaia soltou o braço do pai, vindo em um ritmo devagar com ele que já não conseguia andar tão rápido. – Tia Sunny! Já costurei sua langerie.
- Gaia! – Scylla e Sven chamaram a atenção dela.
- O que? – Gaia se virou confusa.
- O que o papai te falou sobre sutileza, lindinha? - Sven perguntou.
- Desculpa, papai. – Gaia ficou envergonhada.
- Deixa a menina, gente. – Sunny puxou a menina protetoramente ao seu lado. – Não liga, Gaia. Vem comigo. Trouxe um batom novo que vi naquela loja... Você vai adorar.
- Sua primogênita parece tanto com Sunny que às vezes parece loucura. – Alart comentou.
- Nem me fale. – Scylla se virou e se despediu da Rainha.
- Já vai? – Ane perguntou.
- Sim. Preciso avaliar algumas candidatas no Templo de Kallisti.
- Maia vai participar dos testes? – Alart perguntou.
- Não. Ela precisa cuidar de si mesma primeiro. – Scylla disse e ninguém discutiu, afinal, ela era a Grã-Sacerdotisa de Kallisti e era muito rígida e eficiente em seu trabalho.
Quando Maia e Hieron apareceram na entrada lateral, Scylla abriu um portal e esperou Maia, cabisbaixa, se aproximar.
- Boa noite para todos. – A caçula de Scylla cumprimentou. – Tio Alart... A tia Scylla veio?
- Sim, querida. Está lá em cima com sua irmã. – Alart respondeu, fazendo um cafuné na moça.
- Já vai? – Hieron perguntou, dando um beijo na testa de Scylla.
- Sim. Falou com ela?
- Sim. Sven, que tal uma bebida? – Hieron cumprimentou o amigo, quase um irmão agora.
- Claro. – Sven respondeu, dando um rápido abraço no amigo.
- Mãe, posso ir? – Maia perguntou. Scylla deu um abraço na filha e concordou. Maia saiu quase correndo para encontrar a irmã mais velha e Sunny que adorava mimar as meninas.
Ane deu um abraço forte no pai enquanto Scylla passava pelo portal e o fechava atrás dela.
- Grande Kallisti... Ilumine minha filha... A inveja é algo muito destrutivo... – Scylla orou do outro lado.
Vou tentar, Scylla... Mas não prometo nada.
Enquanto isso, na floresta...
- Muito bem, o jogo é simples. – Aine deu aquele sorriso capaz de derreter o coração de qualquer um e começou a tirar a saia e a blusa, ficando apenas com um biquíni preto e marrom, como o pelo de seus amigos.
Os três estavam sentados no chão, na frente da lareira que ela acendera com seu poder de fogo uma hora atrás, atentos à ela. Aine era a melhor amiga dos três, uma amizade colorida que gerou ciúme uma vez. Foi quando Aine resolveu a crise de ciúme dormindo com os três ao mesmo tempo. Parecia loucura no início, mas funcionou. Eles se adoravam, mas não tinham mais ciúme e, embora tivessem brincado na infância que um dia ela casaria com um deles, hoje nenhum realmente pensava nisso. Naquele aniversário de 20 anos dos trigêmeos, Aine decidira que eles iriam comemorar na festa que sua mãe e sua avó fariam, mas depois iam se divertir entre eles apenas. Claro, os irmãos pediram ajuda de Scylla que lhes emprestou a antiga cabana construída por Hieron para ela, ele e Sven.
- Você vai trapacear, como sempre? – Lucius perguntou, alongando um braço sobre a cabeça.
- Eu? Eu nunca trapaceio... Eu só, moldo as regras. – Aine sorriu.
- Você vai terminar de tirar tudo ou vou ter que ir aí resolver isso? – Lesath sorriu.
- Eu não vou tirar mais nada... Por enquanto.
- Quais as regras? – Lich perguntou, já se levantando.
- Eu vou até a lagoa. Quem conseguir me pegar primeiro, vai ganhar um presentinho oral. – Aine sorriu e os dois irmãos se levantaram também. – Mas, se nenhum conseguir me alcançar antes da lagoa, vocês vão tatuar meu nome no ombro e vão ter que observar enquanto eu me divirto com outro.
- Você é terrível, Aine. – Lucius riu.
- E vocês me adoram por isso, migos. Muito bem... contem 10 segundos e venham me pegar... Se puder, claro. – Aine saiu e correu o mais rápido que pôde.
Dois...três...quatro...cinco... Ela sorriu ao ouvir seus amigos correndo atrás dela, burlando a regra dos 10 segundos. Hora de moldar as regras.
Duas semanas depois, os trigêmeos assinavam alguns documentos do reino sorrindo com a lembrança da noite em que dormiram com Aine nua no lago, mesmo tendo perdido o tal jogo e agora ostentando uma tatuagem no ombro direito escrita “Aine me impressiona”.
Pretéribônus
Cronos levantou cedo. Não era novidade. Mesmo em dia de folga, ele levantava cedo.
Seu pai enviara uma mensagem pela milionésima vez pedindo que ele fosse visita-lo no palácio Tiger. Ele nunca ia. Não que seu pai não fosse um bom homem. Sven era um nobre respeitado, leal, justo e um ótimo pai. Mas Cronos sempre achara os nobres da Corte um saco, um bando de gente ambiciosa e metida que não saberia caçar sua comida nem se sua vida dependesse disso.
- Cronos! Já acordou?
Seu parceiro ocasional de trabalho e atual aprendiz de armas chamou da porta, possivelmente procurando alguma caçada para ganhar um trocado. O leonino era hábil, esforçado e tinha um talento natural para armas de arremesso. Cronos trabalhava com ele a uns dois anos e já tinha desenvolvido uma admiração e amizade pelo cara.
- Sim, entra ai!
- Vai caçar hoje?
- Não. É minha folga. Amanhã pretendo caçar nas montanhas. Se quiser ir, já dorme aqui e saímos cedo.
- Ótimo! Preciso juntar mais algum dinheiro para meu irmão. Não quero deixar ele sem um extra.
- Você se dedica demais, Hieron. Precisa pensar em você mesmo também. Você não disse que é doido para ser pai? Tem que começar a pensar em se casar ou arrumar uma namorada.
- Eu sei. – Hieron sentou e prendeu a longa juba em um coque alto. – Mas Téo só tem a mim e quero que ele estude. O cara é bom nessas coisas.
- Só não esqueça de você, parceiro. A vida passa rápido demais para não focarmos em nós mesmos também. Além do mais, quero ver um pequeno Hieron correndo por aí para ensinar ele a ser um garanhão. – Cronos brincou.
- Eu preferia ser mais de uma menina, mas independente do que vier, vou me esforçar para ser o melhor pai que este mundo já viu. – Hieron deu um sorriso bobo, imaginando como poderia ser sua menininha no futuro. – O que me lembra... Vai ver seu pai?
- Não sei....
- Cronos, eu sei que você não gosta de lá, mas precisa ver ele, cara. Acredite, eu sei o que é viver sem os pais. Valoriza o seu. Como você mesmo disse, a vida é curta.
Enquanto Hieron foi dar uma volta pela cidade, Cronos seguiu o conselho do novo amigo e foi visitar seu pai. Sven parecia mais forte, maduro, do que Cronos se lembrava, com alguns pelos ficando cinzentos.
- A que devo a honra da visita do meu filho desnaturado? – Sven abraçou e Tiger mais novo.
- Um amigo ameaçou roubar meus dreds se eu não viesse.
- Me lembre de mandar fazer uma estátua para esse seu amigo. – Sven brincou e notou o incômodo do filho com aquele tanto de gente passando para lá e para cá no palácio. – Você fica muito na floresta, filho. Nunca vai deixar de ser tímido assim.
Cronos deu de ombros e seguiu o pai para um escritório tranquilo. Eles conversaram por horas, tomando alguns drinks e comendo pequenos cubinhos de carne mal passada.
- Por Kallisti, criatura! Eu estava te procurando a horas! – Calíope entrou ofegante.
- Majestade. – Cronos não tinha como não reconhecer, mesmo que nem se lembrasse de já tê-la visto tão de perto. Calíope era bonita, com um corpo cheio de músculos, olhos grandes e espertos, uma postura altiva e olheiras sempre presentes.
- Majestade, este é meu filho, Cronos. – Sven apresentou.
- O famoso caçador. – Calíope se aproximou com um sorriso educado, mas sincero. –
Honestamente, estava começando a pensar que você era uma alucinação desse velho aqui.
- Eu não sou velho! Sou experiente. – Sven cruzou os braços, emburrado.
- Velho. – Calíope deu um tapinha no ombro de Sven que mostrou a língua para ela.
Cronos olhou a cena boquiaberto. Como seu pai podia falar assim com a Rainha Tiger?
Como ela não fora grossa com ele por isso?
- Mas em que posso ajuda-la? – Sven assumiu seu modo profissional.
- Ismir está me enlouquecendo! Ele é legal, etc, etc, etc, mas não quero alguém com a ambição da nobreza para ser pai do herdeiro do trono. – Calíope se virou para Cronos, o incluindo na conversa com a naturalidade de quem falava com um amigo. - Não quero ser grossa e perder a amizade dele, mas não sei como ser mais clara, sabe?
- Eu... Acho... – Cronos se sentiu envergonhado demais e inseguro para dizer o resto. –
Posso dizer o que acho?
- Mas é claro! Seu pai sempre elogiou sua prudência. Fale. Qualquer ideia é bem vinda.
Sven apenas ficou calado, não querendo piorar a timidez do filho.
- Acho que a senhora...
- Você. Senhora me faz sentir velha como seu pai. – Calíope corrigiu.
- Eu não sou velho! – Sven disse.
- Acho que você poderia afastar ele por algum tempo para tirar ele do seu pé ou, quem sabe, fazer ele encontrar outra pessoa para casar...
- Eca! Não quero casar, só preciso gerar um herdeiro mesmo e claro que eu quero um bom homem, sem ambição para não perder a cabeça com a chance de subir no trono...
- Mais fácil ainda. É só afastar ele por um tempo com um trabalho qualquer até você achar alguém. – Cronos comentou.
Semanas se passaram e Cronos continou em sua vida comum. Em uma semana agitada de caçadas solitárias, ele notou uma trilha perto das regiões do planalto das ovelhaslobinas.
Havia pelo menos mais três Tiger nas proximidades. Seguindo os rastros ele se deparou com um pequeno acampamento. Calíope e mais duas Sentinelas estavam relaxando ali depois de dois dias de corrida, um descanso que a Rainha havia dado a si mesma, se afastando do Conselho dos Nobres que estava pressionando por um herdeiro Tiger. Cronos ficou indeciso se ia até lá ou não, com vergonha, sujo de lama, fedendo suor...
- Cronos? – Calíope chamou de longe.
Que visão boa do caramba! Cronos pensou e se aproximou.
Eles conversaram por horas, nem notando que as Sentinelas haviam se afastado para dar privacidade a eles. Meio sem graça, ele a convidou para ver o rio que tinha ali perto.
Ambos saíram sozinhos e, ao chegar no rio, Calíope tirou a roupa ficando nua e deixando Cronos olhando feito bobo, incapaz de desviar o olhar, ao mesmo tempo em que se sentia um poço de vergonha.
Claro que Calíope percebeu. Meio que foi proposital também, pois sua decisão estava tomada antes mesmo dela ver Cronos ao longe no escuro. Foi quase como se ela tivesse invocado ele com seus pensamentos, assim que ela havia tomado uma decisão, ou como se a própria Kallisti tivesse colocado ele ali.
Eeeeeeu? Imagiiiiiiiina.
Calíope mergulhou e sorriu para ele. – Você não vem?
Cronos respirou, coçou a nuca sentindo seu corpo esquentar de vergonha e...de outra coisa também. Ele tirou as roupas de costas para ela, fazendo Calíope sorrir e se controlar segundos depois. Cronos estava duro, se é que me entende, e pensou que deveria pedir desculpas, sair dali, esconder... Ele ouviu o som da água e passos no chão atrás dele.
Calíope, nua e molhada (entenda como quiser), o abraçou por trás e, lentamente, guiou o braço dele para afastar a mão que ele usava para tampar sua ereção.
- Tudo bem, Cronos. – Calíope sussurrou em seu ouvido. – Eu quero que você seja o pai do meu filho ou filha.
- Eu?
- Claro. Você é sincero, honesto, nobre de espírito e lindo de morrer! Me engravide...
Isto é.... Se você sentir alguma atração por mim, claro.
Cronos se virou, pegou a mão dela, deu um beijo nas costas de sua mão. Com um sorriso de lado, sexy como o inferno, ele respondeu: - Nada me daria mais alegria do que dar um filho para uma Tiger tão maravilhosa.
No fim de uma noite inteira de “tentativas” de procriação, cada uma terminado com ambos sorrindo de prazer, Calíope voltou para o acampamento com Cronos, atraindo o olhar esperançoso das Sentinelas que, como todos os Tiger, desejavam ver um Rei ou
Rainha consorte no trono Tiger e um herdeiro da Coroa correndo por aí. Um desses desejos se realizou dois meses depois, quando um felino forte e lindo nasceu, o adorável príncipe Aidoneus. O outro só se realizaria 22 anos depois, quando Calíope se casaria com a jovem Ane, uma leonina que também era mãe da recém-nascida Epaine.
Durante 4 anos, Done cresceu no palácio com sua mãe, vendo o pai duas a três vezes por semana quando ele o visitava ou o levava para caçar. Cronos adorava o filho e sempre estivera presente, com Calíope se tornando uma felina que ele admirava e uma das poucas pessoas com quem ele se sentia à vontade. Até que, numa tarde, Calíope se arrepiou toda, sem nenhum motivo aparente, e Sven que estava na sua frente sentiu um nó na garganta, algo estranho, um pressentimento ruim. Ambos se entreolharam e comentaram sobre isso, preocupados, chamando a Sacerdotisa de Kallisti para ajudar.
Em uma caçada nas montanhas próximas de Jubay, Cronos acabou sendo atacado por uma fera presa em uma de suas armadilhas que mordeu sua garganta, causando uma morte quase instantânea antes que ele pudesse enfiar sua adaga na garganta do animal para mata-lo. Seu corpo foi encontrado pela Sacerdotisa de Kallisti e recebeu o funeral de um membro da realeza, com Done prometendo a si mesmo que nunca seria um caçador em sua vida para não deixar seu filho no futuro crescer sem ele.
Infelizmente, isso não adiantaria muito
~o ⭐ o~
Quando o Sol brilhar, sinta um cafuné meu e lembre de aproveitar a vida. Ela pode ser difícil, mas é rápida e preciosa demais para não ser grato por isso.
Nos vemos em breve, em algum lugar, em algum universo; Ass:
Kallisti
Bônus da Autora
Arte de capa (1070 x 1226)