- Ela matou o rei e o que?! – Eltar estava espumando de raiva. Como se já não bastasse o choro irritante do filho que sentia falta da mãe e o domínio doentio de Leviatã, agora tinha que aturar aquela traição também.
- Você devia ter ficado lá. – Leviatã disse, jogando uma bolinha pra Kursk que brincava no chão, os olhinhos inchados de tanto chorar.
- E como supõe que eu faria isso? Eu estava preso porque aquela vagabunda da filha de Lordok não me ajudou na fuga. Depois teve aquele rei imbecil... Eu não tive nem tempo pra pensar em nada.
- O que está feito, está feito. Carya ainda precisa da poção de cura pro marido e só eu sei a receita. Ela poderia esperar a filha crescer e usar o dom de cura poderoso e treinado no pai, mas Rodan já terá morrido a muitos anos. Aliás, sua irmã quase morreu no parto.
- Deveria ter morrido. – Eltar disse, cruzando os braços.
- Seria o melhor para nós. O trono Tiger passaria para Seth que, como sabemos, é uma ameba. Seria fácil destroná-lo. Mas, infelizmente, a jovem está viva, a garotinha tem um poder mágico como nunca senti antes em uma Tiger tão nova, Seth está vivo e forte...
- Teremos que destronar um por um. A primeira que precisamos matar é a Rania. Com a morte dela, Carya e Rodan ficarão desestabilizados...
- Não. – Leviatã disse com firmeza.
- Mas, se a matarmos, também nos livraremos de uma possível herdeira ao trono e ela é a mais fraca...
- EU JÁ DISSE QUE NÃO! – Era tão incomum ver o mago gritar... Eltar se arrepiou da cabeça aos pés e Kursk começou a chorar. – VIU O QUE VOCÊ FEZ, SEU GAROTO IMBECIL!
- EU? VOCÊ QUE FICOU TODO IRRITADINHO! – Eltar, cuja paciência estava no limite, esqueceu até do medo.
Leviatã pegou o príncipe pelo pescoço e o ergueu com uma só mão até o mais jovem ficar a alguns centímetros do chão. Era estranho como um Tiger tão mais velho e não tão musculoso podia ter tamanha força. Mas tinha e Eltar conhecia a intensidade daquela força na própria pele.
- Acho que você está precisando de uma lição, garoto. Esqueceu-se de quem manda aqui? – Leviatã disse com a voz perigosamente baixa.
- Nã...nã... – Era o máximo que Eltar conseguia dizer, quase sufocando, irritado com o mago e com o choro da criança.
- Parece que esqueceu... Mas eu vou te lembrar. – O mago abriu a mão, fazendo Eltar cair no chão tossindo, respirando com dificuldade. – Levante-se, vá para o banheiro, tire sua roupa e sente-se no chão. Eu irei dar um jeito em você assim que cuidar do menino. VÁ!
Eltar começou a se levantar, mas o mago pisou em suas costas com um pé, o forçando a cair de cara no chão.
- Vá de quatro, como um animalzinho obediente e não teste minha paciência. – Leviatã disse, tirou o pé e pegou Kursk no colo com todo cuidado, o acalmando.
Eltar seguiu o caminho e fez o que o mago mandou, trêmulo de medo e raiva. Minutos depois, Kursk já dormia na cama do mago, no quarto mais distante do banheiro, cercado por travesseiros o protegendo para que não caísse da cama. Leviatã pegou um galho fino e
longo que encontrara no chão do lado de fora e o fortaleceu magicamente. O galho não quebraria com facilidade. Ótimo. Ele seguiu até o banheiro. Estava frio. Era fim de tarde, uma neve fina começava a cair do lado de fora.
- Muito bem. Pelo menos uma coisa simples você ainda sabe fazer. – Leviatã disse calmo, mas, para Eltar que o conhecia bem, era evidente que ele estava fervendo de raiva.
– Entre e ligue o chuveiro.
Eltar obedeceu, mentalmente se preparando para o que viria. A água morna começou a cair e o mago ordenou que ele aumentasse o controle de temperatura. A água do chuveiro estava tão quente agora que todo o cômodo se encheu de fumaça.
- Agora, é bem simples. Mesmo um garoto burro e imprestável como você lembra das regras, não é? – O príncipe não respondeu, as lembranças dolorosas daquele castigo enchendo sua mente. Leviatã bateu com força o galho no chão e Eltar, de costas, deu um pulo. – Responda, gatinho.
- Si..sim, meu amor. – Eltar respondeu tremendo, a humilhação por ser chamado daquele jeito indigno de novo era demais pra ele.
- Ótimo. Hoje, como você tem se comportado feito um qualquer, você levará seis penetradas com este objeto e dezoito chicotadas. Se gritar, se pedir para eu parar, duplicarei cada castigo. Bem. Vamos começar. – Leviatã disse e ergueu a mão.
As dezoito açoitadas na pele molhada e sensível pelo calor arrancaram sangue das costas, nádegas e pernas do príncipe. Eltar mordia a própria mão para não gritar. Quando o mago se abaixou e começou a colocar o galho lentamente dentro dele, o torturando, ele quase gritou. Uma coisa era lembrar a dor dos castigos. Outra bem diferente era sentir.
Parecia ainda mais doloroso do que se lembrava. O galho tinha cerca de 50cm, era quase todo colocado dentro dele, depois todo retirado, e depois colocado de novo. O objeto tinha pedaço de galhinhos que foram arrancados dele antes de ser usado, aquilo feria seu corpo de um jeito que, na segunda penetração o sangue começou a descer por suas pernas.
- Agora tome um banho decente e vamos para seu quarto que hoje estou com vontade de brincar com meu garotinho desobediente. – Leviatã disse quando terminou. Ele não tinha nenhuma vontade de pegar leve com o príncipe naquela noite. E não pegou. Ele foi ainda mais violento do que costumava ser. No dia seguinte o príncipe mal conseguiria sentar. Quando, no meio da madrugada, Leviatã cansou de abusar de Eltar, ele se levantou pra ir ver como Kursk estava.
- Lave essa imundice, imbecil! – Leviatã disse, apontando para o tapete repleto de sangue do príncipe. Eltar se abaixou com dor em todos os músculos, pegou o tapete e se preparou pra ir lavar no banheiro. – Ah, e Eltar.
- Sim, meu amor. – Eltar disse, quase sem voz.
- Se você sequer mencionar fazer qualquer mal à uma criança de novo, eu te mato. Fui claro?
- Sim, meu amor. – Eltar respondeu e o mago saiu sem olhar pra ele.
Você vai chorar lágrimas de sangue, maldito hipócrita. Eltar pensou enquanto lavava o tapete, no frio e todo dolorido.
~o~
No dia seguinte, Eltar tinha dificuldades pra andar, mas Leviatã não amenizou a vida dele. Ele o chamou para andarem pelo pomar ao redor da casa e o fez subir em várias árvores pra colher algumas frutas. O mago estava se divertindo, pois sabia que cada movimento daqueles fazia a dor do rapaz aumentar.
É bom pra ele não esquecer que eu sou o dono dele aqui. Leviatã pensou. – Anda logo, garoto lerdo! Que lerdeza pra andar! Parece que está com um galho enfiado no ânus!
Eltar tentava seguir os passos rápidos do mago, mas já era difícil andar num ritmo normal pelas dores. Ele estava se corroendo por dentro, mas sua vingança estava próxima.
Leviatã caminhava mais rápido de propósito, cutucando pedras aleatoriamente no chão com o galho que usara no príncipe horas antes, ainda manchado de sangue. – E eu achando que você tinha aprendido alguma coisa nesses anos. Parece que... – Leviatã parou abruptamente. Uma pontada no coração tão forte que ele levou a mão no peito e apertou, quase sem conseguir respirar. – KURSK!
O mago correu para dentro da casa como se um demônio estivesse em seus calcanhares. Eltar observou a cena com um sorriso discreto e andou atrás do mago, muito mais devagar do que ele aguentava andar com aquela dor.
Pra que a pressa, afinal? Eltar pensou, triunfante.
Leviatã correu para o próprio quarto e entrou desesperado com a cena que via. Kursk estava deitado de barriga para baixo, o rostinho enfiado entre o colchão, as colchas e uma das laterais da barreira de travesseiros que ele fizera para proteger o menino de uma queda.
- Não, não, não, não... – Leviatã pegou o menino no colo, mole, ficando roxo e gelado.
– Acorda, pequeno rei. Vamos, rapazinho, respire, vamos.
O desespero na voz de Leviatã vinda do quarto era música para os ouvidos de Eltar.
Ainda na porta da casa, ele chamou o jovem rapaz que cuidava de alguns serviços para ele na casa, um felino de pêlos negros, chegando na adolescência.
- Tome. – Eltar entregou um saquinho de tecido com pequenas pedras preciosas dentro. – Vá para onde combinamos, aguarde dois dias e depois pode ir encontrar sua família e gastar sua fortuna.
- Obrigado, senhor. – O menino disse com sua voz ainda fina. – Se precisar de qualquer coisa o senhor sabe que pode contar comigo.
- Eu sei, meu rapaz bonito. – Eltar acariciou o braço do menino com um olhar predatório. – Prometo que vou lhe agradecer daquele jeito que você gosta outro dia. Agora vá.
O menino saiu correndo e Eltar entrou com uma expressão preocupada.
- Leviatã, amor, o que foi? Você está bem?
Leviatã saiu com Kursk mole nos braços. Os olhos do mago estavam marejados e vermelhos. Nem mesmo Eltar pôde acreditar que seu plano tinha dado tão certo. O mago até tinha chorado!
Leviatã olhou pra Eltar, sentindo a culpa pelo acidente com a criança que ainda respirava, mas com dificuldade e ainda poderia morrer. Mas, quando olhou o príncipe, a culpa foi rapidamente substituída por um ódio cego.
- Seu....Desgraçado... – Leviatã rosnou. – Foi você. Eu não sei como, mas sei que...
Espere. Onde está aquele garoto que você come feito uma piranhazinha quando pensa que não estou por perto?
- Eu...Levi...Do que você está falando...Querido...O que houve com o menino? – Eltar gaguejou, tentando imaginar onde errara, o que o denunciara, e como convencer o mago de que não havia planejado aquilo.
- SEU FILHO! ELE NÃO É ‘O’ MENINO, ‘MOLEQUE’, ‘BUNDÃO’! ELE É SEU FILHO! –
Leviatã estava com tanta raiva que seu bastão a alguns centímetros de distância começava a brilhar, refletindo o poder do mago.
- Leviatã, acalme-se...Me conte...
- CALE A BOCA, GATO IMUNDO!
O bastão do mago emitiu uma luz tão forte que Eltar precisou cobrir os olhos com a mão e, temendo que o mago o matasse, e ele mataria com certeza, pegou uma faca de cozinha que estava perto e jogou às cegas. A faca cravou no ombro do mago, mas ele quase não sentiu dor, anestesiado pela adrenalina. O rugido furioso de Leviatã, misturado com sua magia, fez o chão embaixo da casa e nas proximidades tremer. Eltar correu, tentando ignorar a dor que sentia.
- TRAIDOR! – Leviatã gritou quase babando, nunca tirando Kursk de seus braços.
Lá fora, à uma distância considerável, Eltar sentiu a raiva o dominar e gritou: - EU VOU
MATAR ESSA MERDINHA QUE VOCÊ ACHA TÃO PRECIOSO E DEPOIS MATO VOCÊ, SEU
MANÍACO HIPÓCRITA!
Outro rugido do mago e o chão tremeu abaixo de Eltar. Ele correu e ouvindo um som estrondoso de uma árvore caindo logo atrás dele. Mais meio segundo e a enorme jaqueira teria caído em cima dele e o matado. Leviatã não correu atrás de Eltar. Ele iria matar o
príncipe por aquilo. Mas, antes, tinha que preparar feitiços, poções encantamentos e o escambau pra salvar o menino em seu colo. E ele salvaria. De qualquer jeito.
~o~